Match Point – Ponto Final

O cinema de Woody Allen é muito bem caracterizado. Afinal, ele já está fazendo filmes há quarenta anos. Dessa forma, o nome do diretor tornou-se quase um gênero cinematográfico. Diálogos ácidos e espertos, personagens histéricos, clássicos do jazz e locações nova-iorquinas são características dos filmes de Allen. Ou melhor, eram. Pelo menos é isso que Ponto Final (Match Point) significa na carreira do cineasta. Não apenas pela mudança do cenário da cidade estadunidense à capital inglesa, mas também por toda a construção da trama e dos personagens.

Ponto Final gira em torno da sorte. Mais precisamente do irlandês Chris Wilton (Jonathan Rhys Meyers, filho do Gimli de O Senhor dos Anéis), que se muda para Londres a fim de dar aulas de tênis após uma carreira como tenista profissional. Em um clube freqüentado por endinheirados, o protagonista conhece o playboy Tom Hewett (Matthew Goode), responsável pela inserção de Chris nesse mundo dos bem-sucedidos. Logo, ele engata um relacionamento com a irmã do melhor amigo, Chloe (Emily Mortimer), mas está de olho na sensual namorada estadunidense de Tom, Nola (Scarlett Johansson). Com a ajuda dos ricos Hewetts, Chris arruma um bom emprego, estabilizando-se com conforto e todo o luxo que pode ter em Londres. Mas não consegue tirar a cabeça de Nola, bela que o leva a cometer algumas loucuras e a nos deixar com o coração apertado o tempo todo pois são poucas as pessoas que não se incomodam com a infidelidade.

O que começa como uma complexa história de infidelidade, acaba tomando rumos de um emocionante thriller. E é aí que parece que começamos a assistir outro filme, porém o toque de Allen continua sendo muito visível. Na medida em que o protagonista se envolve tanto com Nola quanto com o sucesso – sempre sabendo que um pode anular o outro -, o espectador percebe que tudo na vida é baseado na sorte (pelo menos na ótica de Woody Allen).

Auxiliado pela performance pertinentemente fria de Jonathan Rhys Meyers e pelo carisma de Scarlett Johansson, Allen consegue reinventar seu cinema, mostrando uma nova via à sua trajetória cinematográfica. Muitas vezes lembrando alguns filmes de Alfred Hitchcock, Ponto Final tem um roteiro fascinante, capaz de fazer sentido e se encaixar a cada reviravolta – especialmente no final, de ironia única, assim como a própria sorte do protagonista.

A sensação em que ficamos o filme todo é a de que ele podia ter pulado fora muito antes mas suas decisões só tendem a complicar ainda mais sua situação. Definitivamente nem sempre o melhor caminho é o mais fácil ou o menos doloroso, mas enfrentar seus erros prejudica muito menos gente.