Sem Dor, Sem Ganho

Baseado numa história real e inspirado nos artigos do jornalista do Miami New Times, Pete Collins, sobre a história real de fisiculturistas que se tornaram criminosos, o filme Sem Dor, Sem Ganho conta com um elenco deveras competente e com uma direção segura, montagem rebuscada, excelentes tomadas de câmera, e um roteiro bem orquestrado, o filme é uma grata surpresa, mesmo sem receber o destaque que merece.

Daniel Lugo (Mark Wahlberg) adorava malhar e trabalhava como instrutor de fisiculturismo em uma pequena academia, na Flórida, mas ele sonhava grande e queria viver o “sonho americano”. Disposto a realizar este sonho, convence seu fiel seguidor Adrian Doorbal (Anthony Mackie), e o ex-presidiário Paul Doyle (Dwayne Johnson) a participarem de um golpe. A vítima, um dos alunos de Daniel na academia, Victor Kershaw (Tony Shalhoub), um cara cheio da grana. O plano até que deu mais ou menos certo, mas os caras queriam mais e um investigador aposentado chamado Ed Dubois (Ed Harris) começa uma perseguição para colocá-los atrás das grades.

Sem habilidade nenhuma para o crime, os três conseguem um aparente sucesso, mas como dinehiro na mão é vendaval, eles querem mais, e tudo acaba dando errado, afinal o que os personagem tem de músculos, falta de inteligência.

O filme mostra com crueza a imbecilidade e a fraude que é o sonho americano. E que para alcançar o padrão de vida estabelecido, muitos acabam se tornando marginais e agindo em desconformidade com a lei. O guru Johnny Wu (Ken Jeong) usa frases motivacionais prontas, para ludibriar os americanos e se dar bem com suas palestras de enriquecimento fácil.

Gostei muito do personagem Paul Doyle, pelo fato dele ser um criminoso cristão. O fato do filme e as gravações se passarem em Miami, cidade em que o ator nasceu e também onde vive atualmente, pode ter contribuido para a simpatia que tive ao personagem. Achei muito interessante o longa apresentar suas adcções caminhando de mãos dadas com sua fé. Ele funciona como alívio cômico em diversos momentos. Aliás, o humor está presente em todo o filme…

A cena na loja de armas, em que os personagens citam a banda americana Stryper jamais sairá de minha mente, pois sou um dos fãs dessa que é uma das maiores bandas do planeta. Posso estar enganado, mas a ideia deve ter partido dos roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, que foram os mesmos dos filmes “As Crônicas de Nárnia”, filmes descaradamente cristãos. Jesus é figura sempre presente em toda a trama…

O uso das câmeras mostrando duas situações ocorrendo simultaneamente está muito bem orquestrada. Michael Bay mostra domínio da ferramenta, após realizar os três primeiros filmes da série Transformes, que foram sucesso de público. A Paramount Pictures queria que Bay retornasse para um quarto filme da série. O diretor concordou, desde que tivesse tempo para rodar este filme antes. O estúdio aceitou a proposta e agendou Transformers 4 apenas para 2014.

Michael Bay se inspirou nos filmes dos irmãos Coen e de Tarantino nos anos 1990. Segundo ele próprio, “Sem Dor, Sem Ganho” é uma mistura de “Fargo” (1996) e “Pulp Fiction” (1994). Pode parecer exagero na teoria, mas na prática o filme mostra claramente essas inspirações.

A trilha sonora está bem de acordo com a proposta do filme. Steve Jablonski apresenta boa qualidade contando com Bon Jovi e C + C Music Factory. É um filme bruto, que vai agradar os marombados de plantão, os que curtem uma comédia pastelão, e os que gostam de um drama leve. Até as namoradas que odeiam acompanhar seus namorados em filmes de porradaria, podem vir a curtir o filme.

Chega a ser inusitado um filme de Bay ter um orçamento estimado é de US$ 25 milhões. No final, vemos as fotos do caso real, e a que ponto o sonho americano pode levar as pessoas. Achei a sensura de 18 anos exagerada, mas não podia ser diferente para um filme que dentre outras maluquices, mostra dois caras detonando dois corpos em busca de esconder as provas…