Eu Sou a Lenda

Parece sonho de moleque: ter uma cidade inteirinha à disposição, para entrar na loja que quiser, pegar o que quiser sem pagar, nem ter que dar satisfação pra ninguém. Um “sonho”, porém, retratado como um terrível pesadelo em Eu Sou a Lenda, misto de drama, horror e ficção científica dirigido for Francis Lawrence, o mesmo de Constantine.

Intrigante, a boa trama é ambientada num futuro muito, muito próximo, quando o cientista e militar Robert Neville (Will Smith, em excelente momento) é o último sobrevivente humano de toda a cidade de Nova York. Talvez do mundo. O motivo foi um vírus devastador que matou bilhões de pessoas em poucos anos e transformou em vampirescos zumbis os poucos sobreviventes. Menos Neville, misteriosamente imune à doença. Acompanhado apenas pela sua cadela, seu cotidiano agora se resume a “alugar” DVDs durante o dia e se trancar em seu “bunker-casa-laboratório” à noite, período em que… bom, vamos guardar o suspense. Entre uma coisa e outra, continua buscando a cura para o tal vírus.

O clima de tensão e desespero é total. Não apenas pela constante ameaça da escuridão, como pela profunda solidão que assola o personagem, obrigando-o a “conversar” com manequins para não enlouquecer. O diretor Lawrence, que iniciou sua carreira nos videoclipes, finalmente ousou o que nenhum blockbuster hollywoodiano tem ousado ultimamente: utilizar o silêncio como formador de clima de suspense e não irritar os espectadores com doses maciças e insuportáveis de trilha sonora. Os ouvidos da platéia e bom gosto cinematográfico agradecem.
Os mais velhos (ou os mais antenados na história da televisão) podem até dizer que “Eu Sou a Lenda” parece um episódio da antiga e cultuada série Além da Imaginação. Parece mesmo. E não é à toa: o roteiro é baseado no livro de Richard Matheson, escritor responsável pela autoria de nada menos que 16 episódios do clássico seriado.

“Eu sou a Lenda” é o terceiro longa baseado no mesmo texto de Matheson. O primeiro, de 1964, tinha Vincent Price no papel principal, enquanto o segundo, de 1971, foi protagonizado por Charlton Heston. Agora, com Will Smith à frente, prova-se mais uma vez que um filme comercial não precisa ser nivelado por baixo para ser sucesso. Que o digam os mais de US$ 240 milhões arrecadados nas bilheterias dos EUA.

E enquanto Rodrigo Santoro chama a atenção dos brasileiros com participações mudas em filmes e atuações apagadas em seriados, Alice Braga, outra brasileira perdida por lá, destaca-se numa pequena mas marcante atuação e abre assim uma porta das mais felizes para o mercado internacional.