Não há muito tempo

“Porque o povo habitará em Sião, em Jerusalém; não chorarás mais; certamente se compadecerá de ti, à voz do teu clamor e, ouvindo-a, te responderá.” Isaías 30:19

A vida tem passado numa velocidade vertiginosa. E penso que não sou mais dono de nada (talvez nunca fui). Os dias no calendário em uma das pontas de minha mesa vão recebendo riscos. Um após outro. Assim, passa semana, mês, ano. E quando penso no ontem, o segundo que deu início a isso também se foi. Tudo se vai. Pouco fica. Nada fica. Lembro, então, que não há muito tempo para meu fim. Mas, não a muito tempo, eu pensava que meu fim estava longe, muito longe. Não há muito tempo então para empurrar com a barriga o que precisa ser decidido agora. O que me tira o sono ou o apetite. O tempo urge. As nuvens passam, o dia nasce e morre e tudo passa a fazer parte de um todo, ou será que o todo é que faz parte de tudo? Não a muito tempo eu não pensava assim e, assim vivia solto, perdido, vazio…

Em determinada horas, vemos que tudo que fazemos torna-se vazio, enfado em tardes que a garoa insiste em lembrar quando bate no vidro da janela, e o dia, mesmo claro, parece cinza, sem cor, sem vida.

Não a muito tempo eu brincava como criança feliz, mas nas responsabilidades alheias e nas irresponsabilidades minhas, virei adulto. Muito coisa se perdeu. Inocência, talvez. Pureza, pode ser. Muito se foi e pouco ficou.

Mas, não a muito tempo, algo em mim mudou. Transformou-se. Vi que meu tempo, mesmo acabando, durará para sempre, o sempre de Deus, que é eterno e não muda como nosso humor, vontade ou certezas.

O caminho é longo e árduo para quem vai pelos caminhos de Deus, mas a recompensa é incrível e, sem dúvida, a melhor que se possa imaginar.

Com um vento passando pela fresta do vitrô do velho casarão, bem conservado, em que trabalho, lembrei-me de meus tempos de garoto no meu querido Riacho Grande. Lá, naquela época, corria por entre os canaviais com os amigos, nadava na represa, jogava bola na quadra dos policiais rodoviários e vivia. Ali, eu tinha tempo. Hoje, sei que não tenho tempo e o pouco tempo que tenho e que sobra uso para buscar o que se perdeu em algum ponto da minha caminhada. Enquanto junto cacos de um vaso que um dia se quebrou, agradeço a Jesus pela misericórdia que teve em me resgatar e me trazer para o mundo dos vivos.

Talvez não tenha tanto tempo. Talvez você que lê essas linhas também não. Ou talvez tenhamos todo o tempo do mundo, não sei, mas sei que, se tem algo para fazer, faça. Se tem alguém para abraçar, abrace. Se tem que perdoar, perdoe. Se precisa se acertar com alguém, se acerte. Se precisa voltar a sorrir, sorria. Não deixe que dias cinzas tirem de você o melhor que você tem. E saiba que Jesus Cristo tem a paz que você precisa e que em nenhuma outra pessoa ou lugar irá encontrar. Viva! Acredite, não há muito tempo.