O Rastro

Filme denúncia O Rastro (Brasil, 2017), de J.C. Feyer, chega aos cinemas com cara de ser um inovador thriller de terror psicológico, que se utiliza dos efeitos sonoros para assustar, sendo que o maior terror exposto em tela, são as consequências da corrupção na saúde pública e a falta de escrúpulos dos gestores públicos que negociam órgãos de pacientes e cobram do Sistema Único de Saúde (SUS) valores de exames não realizados, em pacientes falecidos.

Na trama, João Rocha (Rafael Cardoso) é um jovem e talentoso médico em ascensão, que apesar de ter se formado em medicina e feito residência num hospital público, cuida de atividades burocráticas, como a tarefa ingrata de supervisionar a transferência de pacientes quando um hospital público da cidade do Rio de Janeiro é fechado por falta de verba. Na secretaria de saúde do Estado, ele recebe a missão de coordenar o fechamento justamente do hospital em que se formou, o que o coloca em conflito com o mentor e amigo Heitor (Jonas Bloch). Quando tudo parece correr dentro da normalidade, uma das pacientes, criança, desaparece no meio da noite e João segue em uma jornada sombria e perigosa. Além de ter que lidar com as dificuldades do processo, ele está perto de ter seu primeiro filho ao lado da esposa Leila (Leandra Leal). O personagem é levado por uma esquizofrenia que o levam a um fim trágico.

Apesar de se utilizar das fórmulas do cinema de horror americano, se mostra algo inédito na cinematografia brasileira. Existem algumas cenas clichê, por exemplo na cena onde as janelas estão se fechando e deixando o ambiente na escuridão. Ou quando se bate numa parede e percebe-se a existência de um fundo falso. Apesar da obra ser fictícia, ela ganha espectros na realidade que são altamente críveis, ainda mais quando estamos num país governado por golpistas, que subornam empresários na calada da noite, e apesar da gravação do áudio, permanecem no poder.

Um dos grandes trunfos do filme é a atuação de Leandra Leal, que merece um parágrafo a parte. Ela costuma escolher bem os seus projetos, e aqui não é diferente. Ela interpreta a esposa do João, que está grávida e que se torna peça importante na trama ao descobrir junto com o público o que levou seu esposo à loucura.  O longa conta também com atuações de coadjuvantes do quilate de Claudia Abreu, Felipe Camargo e do falecido Domingos Montagner.

É de se lamentar a ausência de público em filmes nacionais como este, haja visto que acaba fortalecendo a predominância das comédias bobas que tem mais espaços nas salas de cinema. O cinema nacional precisa ser diversificado, ainda mais quando os filmes bons geralmente estão no grupo dos menos prestigiados, enquanto que os sucessos de público, geralmente são filmes banais.