Estamos vivendo um momento único na história no que diz respeito às questões de gênero. Há não muito tempo nossa sociedade vivenciou um extenso período onde o homem foi tido como o ser mais forte, mais capacitado e mais inteligente. Marcas de uma sociedade patriarcal, onde mulheres eram menosprezadas, consideradas tão inteligentes quanto os animais e incapazes de assumir posições civis e políticas. Em reação a esse sistema opressor, surge uma luta árdua, mostrando que, em questão de inteligência e capacidade, mulheres e homens estão no mesmo patamar. Avançamos muito nessa área e centenas de direitos foram conquistados, mas sabemos que ainda existe um caminho longo a trilhar. No ambiente familiar não é diferente. Estamos vivenciando um processo penoso de conscientização a respeito das questões de igualdade de direitos. Pergunte aos seus avós como a figura da mulher era vista no tempo deles. Com certeza vai escutar as palavras “cozinha”, “filhos” e “roupas” algumas vezes. Naquele tempo, as mulheres que optavam por trabalhar fora, eram mal vistas. Homem trocar fraldas? Inimaginável!

Mas o tempo foi passando, a ciência avançando e a mulher foi, aos poucos, conquistando o seu espaço (graças a essa luta estou hoje aqui escrevendo esse texto!). Atualmente muitos pais ficam em casa com os filhos enquanto suas esposas saem para ganhar o sustento. Mulheres que são um “zero à esquerda” na cozinha estão sendo salvas por seus maridos com habilidades culinárias. Os tempos estão mudando e os exemplos são inúmeros.

Mas a reflexão que gostaria de fazer hoje é a respeito de um fenômeno dentro deste cenário que venho observando há algum tempo. Sou completamente a favor da igualdade de direitos no que diz respeito a gênero. Sim, a mulher tem o direito de escolher sua profissão e receber um salário equivalente ao do homem. Sim, a mulher deve ter a liberdade de escolher praticar um esporte dito “masculino” ou ocupar cargos políticos. O que me preocupa, na verdade, é que, com a justificativa de se rebelar contra o jugo, mulheres (e, inclusive, homens) estão migrando para o extremo oposto. Saem debaixo da opressão machista para se tornarem os novos opressores, como se, por consequência das centenas de anos vividos sob domínio masculino, precisassem aplicar a pena aos homens dessa geração.

Agora vocês vão sentir na pele o que sentimos por anos!

O homem é um ser tão desprezível e incapaz que prefiro ficar sozinha!

Observo pelas redes sociais mulheres que criaram tal ojeriza a casamento que promovem o divórcio e a solteirice como se nenhuma relação com o sexo oposto fosse válida. Apresentam um desprezo claro no falar: Se o cara não faz o que quero, então descarto. Sim, eu sei que é difícil conviver com um homem que não sabe descascar uma laranja ou lavar uma cueca. Isso são resquícios da tal sociedade patriarcal que ensinou a mãe dele a educá-lo dessa forma. Ok, ruim? Sim, péssimo! Mas nada que não seja possível desfazer caso os dois lados estejam dispostos a trabalhar juntos. E, se tiverem filhos, que invistam em sua formação para que, lá na frente, o serumaninho desempenhe o papel de parceiro e não de filho da esposa. É o trabalho que temos feito com o nosso caçula aqui em casa. Desde pequeno está aprendendo que família é sinônimo de equipe, uma micro sociedade onde todos trabalham pelo bem comum.

Outra atitude que também tenho observado são integrantes de movimentos feministas menosprezando mulheres que decidiram, por vontade própria, ficar em casa cozinhando, lavando, passando e cuidando dos filhos. Segundo elas, a mulher que faz essa escolha é fraca, submissa. Pra ser forte precisa sair de casa, estudar, trabalhar e desenvolver uma grande carreira. Então eu pergunto: e se o homem ficar em casa cuidando dos filhos? “Ah, sim, isso é completamente aceitável e até admirável!”, elas dizem. Percebe como esse comportamento acaba nos fazendo migrar para o extremo oposto? De oprimidas, passamos a opressoras. Sair de um lugar de submissão para subjugar o outro não me parece uma atitude muito inteligente. Penso que, se realmente ansiamos por uma sociedade equilibrada, a primeira palavra a se observar é respeito. A segunda, liberdade.

Se eu escolhi trabalhar fora, por favor, respeito; Se escolhi ficar em casa cuidando dos filhos, respeito; Se meu marido escolheu ficar em casa cozinhando, respeito também. Na verdade, quando falamos no contexto casamento, o que vale mesmo é a decisão entre o casal. Seja qual for a escolha, se os dois estão felizes com ela, respeito. Aqui em casa, por exemplo, eu decidi abrir mão do meu emprego para ficar com meus filhos integralmente. Tenho enorme prazer em cozinhar, cuidar da casa e estar com eles. Agora que já estão grandinhos, decidi voltar a estudar e retomar minha carreira. Meu marido, apesar de – na maioria do tempo – estar fora de casa em busca do nosso sustento, sempre foi parceiro nessa tarefa. Presente em todos os momentos. Essa foi a escolha da nossa família e estamos felizes assim. Não me sinto oprimida por ter ficado tanto tempo sem receber um salário. Decidimos unir as nossas diferentes habilidades e trabalhar por um objetivo único: o bem estar da nossa família. Não é questão de ser maior ou menor, apenas diferentes.

Aliás, vamos falar um pouco sobre essas diferenças. Lutamos pela igualdade de direitos, mas não temos como negar as diferenças entre os sexos masculino e feminino. Biologicamente nunca seremos iguais. A grande maioria dos homens, por exemplo, tem 8 a 10 vezes mais nível de testosterona (hormônio masculino) que a mulher, e diferenças profundas ocorrem no cérebro por conta desse fator. É óbvio que sofremos interferências sociais e culturais em nosso desenvolvimento, mas não podemos negar o papel biológico nesse processo.

Está estatisticamente comprovado que as meninas costumam falar antes que os meninos. Elas amadurecem mais rápido e são superiores no que se refere à habilidade motora fina. Por outro lado, os meninos se destacam quando falamos de atividades motoras mais grosseiras e que envolvem inteligência espacial.

“É curioso observar, por exemplo, que as marcas olímpicas de homens e mulheres numa modalidade esportiva em que ambos treinem o mesmo número de horas são sempre diferentes, porque se baseiam numa vantagem biológica inicial que o treino não consegue superar. Por isso, homens e mulheres não concorrem juntos nas competições de arco e flecha e tiro ao alvo, por exemplo.”¹

É fato já comprovado pela ciência que o banho de hormônios que o nosso cérebro sofre ainda na vida intrauterina interfere na formação das sinapses nas meninas e meninos de maneira diferente, influenciando no comportamento e desenvolvimento na vida fora do útero. Ou seja, é legítimo e necessário que se lute por igualdade de gêneros no que diz respeito a direitos, mas não podemos por isso sacrificar ou negar as diferenças biológicas (e preciosas) que existem entre os sexos.

“Antigamente, quando se dizia: ‘menina gosta de brincar mais com bonecas e, menino, com bolas e carrinhos’, a explicação era que eram esses os brinquedos que recebiam desde pequenos. Não é verdade. Crianças bem pequenas demonstram claramente preferência por determinado brinquedo mesmo diante de uma oferta variada de objetos. Fazem isso por motivação interna. Isso ilustra por que existem mais meninos interessados em videogame do que meninas. Provavelmente, porque eles têm mais facilidade para mexer no aparelho e conseguem pontuação maior. Vários estudos mostram que, expostos ao mesmo número de horas de treinamento, os rapazes obtêm melhores resultados do que as moças nesse tipo de jogos desde o primeiro dia. A justificativa é o fato de o cérebro masculino ser sistemático e mais hábil em termos espaciais do que o cérebro feminino […] Outra descoberta importante feita pela ciência é que, apesar da mulher ter uma quantidade levemente menor de neurônios do que os homens, seu cérebro realiza uma quantidade maior de conexões entre os dois hemisférios […] Por exemplo, no hemisfério esquerdo do cérebro masculino estão localizadas as estruturas responsáveis pela linguagem e, no hemisfério direito, as responsáveis pela inteligência espacial. Já a mulher utiliza os dois hemisférios para falar.”¹

Somos seres biologicamente diferentes, mas isso não é impedimento para conquistarmos – com respeito – o nosso espaço dentro de uma empresa ou dividirmos os deveres dentro de casa. É óbvio que, por conta de todos os fatores citados acima, um homem terá muito mais facilidade de encontrar um caminho no mapa, por exemplo, o que não quer dizer que uma mulher não possa desenvolver essa habilidade. Ela pode, mas é certo que fará um esforço muito maior e levará muito mais tempo. E também é óbvio que uma esposa terá muito mais facilidade em lidar com as questões emocionais da vizinha do que o marido, o que não quer dizer que ele não possa desenvolver essa habilidade. Ele pode, mas é certo que despenderá de muito mais gasto de energia e tempo do que sua esposa. E ninguém deve ser menosprezado por isso. (Entendam aqui que estes são perfis e comportamentos citados por estatísticas e pesquisas, o que não quer dizer que não existam as exceções.)

Eu, como mulher, não me sinto diminuída ao ver meu marido encontrando uma rua sem precisar de GPS, e sei que ele também sente o mesmo ao me ver lidar com facilidade com as questões emocionais dos nossos filhos. Ele abre tampas muito mais fácil do que eu, por exemplo, pois é mais forte fisicamente. E não me sinto humilhada por ter que pedir a ele que faça essa tarefa por mim. Já vivenciei momentos em que precisei me virar sozinha pra abrir um vidro com tampa difícil, e consegui! Com dificuldade, mas consegui. Mas com ele estando em casa, não penso duas vezes e peço de imediato. Não sinto a necessidade de provar a ninguém (nem a mim mesma) que sou capaz de abrir comfacilidade uma tampa apertada porque estou segura do meu valor.

Aqui em casa reconhecemos que temos habilidades naturais diferentes e, apesar de alguns conflitos, vivemos bem com isso. Sabe por quê? Porque decidimos exercitar a paciência, a compreensão e a tolerância. Assim como um jogo de quebra-cabeça, as diferenças auxiliam a união. Ao invés de utilizarmos nossas habilidades naturais para subjugar o outro, utilizamos de forma complementar. A nossa luta precisa ser sim por igualdade de direitos e parceria quando o assunto é casamento. Já não cabe mais dizer que cozinha é lugar de mulher e que em fraldários só entram mães. Nessa luta de conscientização precisamos e devemos nos engajar, mas o que não rola é partir para um extremo de negar nossas diferenças biológicas ou menosprezar o outro por suas dificuldades em certas habilidades. Se elas existem, existem por um motivo. Só precisamos trabalhar para usá-las e desenvolvê-las com qualidade e equilíbrio.

Homens e mulheres precisam (e devem!) trabalhar lado a lado quando o assunto é educação dos filhos, administração da casa ou das finanças. Cada família deve encontrar sua dinâmica e o mais importante é que ninguém se sinta oprimido, violentado ou sobrecarregado. Tudo feito de comum acordo e encarado como parceria. Uma relação onde um cônjuge se anula em função do outro está fadada ao fracasso. Deus nunca anulou o que há de peculiar em nossa individualidade, mas sempre nos proporcionou oportunidade de aperfeiçoamento e maturidade nas áreas ainda falhas. E quer melhor terreno para trabalhar caráter do que uma relação de extrema intimidade entre seres diferentes?

O movimento feminista foi e ainda é de grande valor para a história da humanidade, por isso precisa ser apoiado e difundido, mas, enquanto tivermos uma visão de poder no que diz respeito a gênero, não sairemos do lugar. Aliás, até sairemos, mas em direção ao outro extremo. O feminismo, que começou tão bem, se cair na ideologia de poder e dominação vai acabar terminando como o novo machismo. Não é sobre ser maior ou menor, apenas diferentes. Ambos, lado a lado, trabalhando juntos por um bem comum.

[¹] Dr. José Salomão Schwartzman – neurologista da infância e adolescência, em entrevista realizada ao Dr. Drauzio Varella (www.drauziovarella.com.br).