Manchester à Beira-Mar

Indicado ao Oscar em seis categorias, o drama Manchester à Beira-Mar (Manchester by the Sea, EUA, 2016), de Kenneth Lonergan é carregado de emoções e sentimentos e fez jus à expectativa criada em torno de seu lançamento.

Nas cenas iniciais vemos Lee Chandler (Casey Affleck) vivendo literalmente na m*rda, ou pelo menos lidando diretamente com ela. Ele reside num quartinho apertado, tendo que limpar a neve quase que diariamente para entrar em seu aposento. Seu trabalho é de zelador de um condomínio com quatro prédios, tendo que lidar com as mais diversas situações envolvendo desentupimentos, vazamentos, encanamentos com defeitos e até com a paquera de alguns moradores.

Mas Lee é uma pessoa ranzinza, introspectiva e, até certo ponto, intolerante, pois não suporta sequer ser encarado em um bar. Até que um dia ele se vê forçado a retornar para sua cidade natal tendo que ser o tutor de seu sobrinho adolescente após seu irmão Kyle Chandler falecer precocemente. Com isso, Lee precisa enfrentar as razões que o fizeram ir embora e deixar sua família para trás, anos antes. O mérito do filme é ir, aos poucos, apresentando os flashbacks que nos fazem aprofundar na história de Lee e nos deixam claro qual o trauma que ele carrega consigo. Méritos para o excelente roteiro que é profundo e com as camadas sempre tiradas no momento certo.

A montagem também é muito boa, conduzindo a história sem deixá-la cair no marasmo, sendo bastante objetiva. As descobertas nos fazem compreender o tamanho do desafio que foi para Lee ter que enfrentar seus traumas, voltando à sua cidade natal para sepultamento de seu irmão e tendo que lidar com o desafio imposto pelo defunto em seu testamento.

O filme tem momentos marcantes, como o memorável reencontro com a ex-mulher e a cena em que o tio e sobrinho estão no carro e afirmam que são cristãos. Além disso, o filme desperta alguns questionamentos, principalmente em como lidar com a situação de luto, como reagir diante da perda de entes queridos e como lidar com traumas. O filme não traz respostas, mas aponta caminhos e nos leva a refletir sobre a vida que segue, independente dos acontecimentos que estamos sujeitos a vivenciar.

O filme concorre ao Oscar de Melhor Filme, Diretor (Kenneth Lonergan), Ator (Casey Affleck), Ator Coadjuvante (Lucas Hedges), Atriz Coadjuvante (Michelle Williams) e Roteiro Original.