A derrota do familiar

”Mostra-me, Senhor, o fim da minha vida.” Salmos 39:4.

Abraham Lincoln certa vez ouviu aos apelos da mãe de um soldado que foi sentenciado à forca por traição. Ela implorou ao Presidente para conceder perdão. Lincoln concordou. Mas, diz-se que ele deixou a senhora com as seguintes palavras: “Entretanto, eu queria que pudéssemos ensiná-lo uma lição. Eu queria que pudéssemos dar-lhe só um pouco de enforcamento”.

Eu acho que sei o que o velho divisor de trilhos tinha em mente. Ontem, eu tive um pouco de enforcamento.

Estávamos em um almoço de domingo na casa de uma família missionária amiga. Depois da refeição, eu estava na cozinha com Denalyn e nossos amigos, Paul e Debbie, estavam conversando na sala de estar. A filha deles de três anos Beth Ann estava brincando com nossa filha de dois anos Jenna no jardim da frente. De repente Beth Ann correu para dentro com um olhar de pânico no rosto. “Jenna está na piscina!”

Paul foi o primeiro a chegar à beira da piscina. Ele foi direto para a água. Denalyn estava quase chegando. Quando eu cheguei, Paul a levantou para fora da água para as mãos estendidas da mãe dela. Jenna estava simultaneamente engasgando, chorando e tossindo. Ela vomitou uma barriga cheia de água. Eu a segurava enquanto ela chorava. Denalyn começou a chorar. Eu comecei a suar.

Pelo resto do dia eu não podia segurá-la o bastante, nem podíamos agradecer Beth Ann o bastante (nós a levamos para tomar sorvete). Eu ainda não consigo agradecer a Deus o bastante.

Foi uma questão de minutos, talvez segundos. Quase a perdemos. O pensamento era insensível e convincente.

Foi um pouco de enforcamento.

A banqueta foi chutada de debaixo dos meus pés e a corda acudiu ao redor do meu pescoço tempo o suficiente para me lembrar do que realmente importa. Foi uma palmada divina, uma graciosa batida na cabeça, uma misericórdia severa. Por causa disso eu fiquei cara a cara com um dos agentes mais astutos do submundo – o agente da familiaridade.

A sua incumbência que vem da sala do negro trono é clara, e total: “não pegue nada da sua vítima; dê motivo a ela somente para não dar valor a nada”.

Ele tinha estado no meu caminho por anos e eu nunca soube. Mas agora eu sei. Eu vim a reconhecer suas táticas e detectar sua presença. E estou fazendo o meu melhor para mantê-lo para fora. Seu propósito é fatal. Seu alvo é nada menos do que pegar o que é mais precioso para nós e fazer com que pareça mais comum.

Ele não roubará a sua salvação; ele apenas fará você se esquecer de como era estar perdido. Você crescerá acostumado à oração, e assim, não orar. A adoração se tornará trivial e o estudo opcional. Com o passar do tempo, ele se infiltrará em seu coração com tédio e cobrirá a cruz com pó para que você esteja seguramente fora de alcance da mudança. Um ponto para o agente da familiaridade.

Ele não só roubará sua casa de você; ele fará algo muito pior. Ele cobrirá isso com uma familiar capa de monotonia.

Ele trocará roupas de gala por roupões, noites na cidade por noites na cadeira e romance por rotina. Ele espalhará o pó de ontem sobre as fotos do casamento no corredor até que elas se tornem lembrança de outro casal em outra época.

Ele não levará seus filhos, apenas fará você ficar tão ocupado para notá-los. Seus sussurros para adiar são sedutores. Há sempre o próximo verão para treinar o time, o próximo mês para ir ao lago, e a próxima semana para ensinar o Johnny como orar. Ele fará você esquecer que os rostos das pessoas ao redor da sua mesa logo estarão nas deles. Assim, os livros não serão lidos, os jogos não serão jogados e as oportunidades serão ignoradas. Tudo porque o veneno do comum tem enfraquecido seus sentidos para a magia do momento.

Antes que você perceba, o rostinho que trouxe lágrimas aos seus olhos na sala de parto tornou-se – pereça o pensamento – comum. Uma criança comum sentada no banco de trás de seu carro enquanto você desce a pista de velocidade da vida. A menos que algo mude, a menos que alguém acorde você, a criança comum se tornará um estranho comum.

Um pouco de enforcamento pode nos fazer um pouco de bem.

Em uma prateleira acima da minha mesa tem uma foto de duas garotinhas. Elas estão de mãos dadas e em pé em frente a uma piscina; a mesma piscina da qual a mais nova das duas foi puxada apenas alguns minutos antes. Coloquei a foto onde eu pudesse vê-la diariamente para que eu pudesse lembrar o que Deus não queria que eu esquecesse.

E você pode apostar que agora eu vou lembrar. Eu não quero mais enforcamento. Nem mesmo um pouco.

Guia de estudo

I. Seu propósito é fatal. Seu alvo é nada menos do que pegar o que é mais precioso para nós e fazer com que pareça mais comum.

    A. Quais as coisas mais fáceis para nós não darmos valor? Um amigo? Filhos? Saúde? O amor de Deus? Nossas vidas? O futuro? Nossa salvação?

    B. O que acontece quando não damos valor a nossa salvação e se torna comum? Que advertências são dadas à igreja em Éfeso que abandonou o seu primeiro amor por Cristo (Apocalipse 2:2-5)? Que advertência é dada à igreja em Laodicéia por ser morna (Apocalipse 3:14-22)?

    C. Como podemos nos guardar de não darmos valor ao que é precioso? Como Max colocou a foto de Jenna em sua mesa, que lembrança “do precioso” você pode colocar em sua frente?

II. O banco foi chutado de debaixo dos meus pés e a corda acudiu ao redor do meu pescoço tempo o suficiente para me lembrar do que realmente importa. Foi uma palmada divina, uma graciosa batida na cabeça, uma misericórdia severa.

    D. O que significa uma “misericórdia severa?” Você já experimentou uma “misericórdia severa”, “uma palmada divina?” O que aconteceu? Como isso o mudou?

    E. Em cada um dos casos seguintes, como foi dada uma “palmada divina”: Jonas (Jonas 1-4); Zacarias (Lucas 1:5-25, 57-80); Paulo (II Coríntios 12:7-10)? Que benefícios vieram de cada um?

    F. Como podemos aprender a responder às dificuldades como misericórdias severas ao invés de deixá-las nos derrotar?

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com