O Novo Mundo

Pense num filme diferente! Este é O Novo Mundo, novo filme de Terrence Malick que, tanto no ritmo quanto esteticamente, dá um show de arte. Denso, de poucos diálogos, com muito som ambiente, contemplativo – destaque para o trabalho do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki –, o filme é uma produção épica que esbajna competência.

“O Novo Mundo” não trata somente da aventura de um descobrimento geográfico, nem de uma história de amor intensa entre o capitão inglês John Smith (Colin Farrell) e a nativa norte-americana Pocahontas (Q`orianka Kilcher). O diretor propõe uma nova visão aos fatos históricos e às lendas que cercam estes dois personagens. A narrativa mostra a chegada de Smith pelas terras da Virginia, onde fundou a colônia de Jamestown.

Malick se preocupa em dar enfoque à jornada interior dos seus personagens, principalmente quanto à questão antropológica, em função do choque cultural entre os nativos e os europeus. Smith, trazido pelas caravelas como prisioneiro por má conduta, é o primeiro a fazer essa jornada. Ao ser seqüestrado pelos nativos, ele demonstra aos poucos um grande aprendizado, imaginando que aquele território pode ser a oportunidade de transformar o mundo em algo menos injusto do que ele já conhecia.

Este sonho é mais do que reforçado quando Smith se apaixona por Pocahontas. A princesa da tribo Powhatan é a representação real de sua ambição: pura, bela e bondosa. A nativa responde positivamente aos sentimentos do inglês e a relação entre os personagens mostra-se sutil e lírica. No entanto, os conflitos são inevitáveis. Pocahontas se vê obrigada a abandonar sua tribo em busca da concretização do amor, enquanto Smith, descontente com o futuro de sua colônia, retoma seu espírito aventureiro e parte em direção às Índias.

O roteiro sofre um pouco com essa mudança. A chegada do aristocrata John Rolfe (Christian Bale) no local e sua relação com Pocahontas é brusca demais, fato que pode ser explicado pelos cortes que Malick foi obrigado a fazer, mesmo após a edição final. De qualquer maneira, “O Novo Mundo” agrada e o diretor não deixa de impor nas câmeras o sentimento de desbravamento que a história necessita.

Definitivamente, “O Novo Mundo” não é um filme-pipoca e não agradará nem um pouco a conhecida “geração MTV”, sedenta por correria, explosões e beijos apaixonados. Inclusive, na seção que assisti, dois casais saíram antes mesmo da projeção chegar ao seu meio e, ao final, ouvi várias exclamações irritadas em toda a sala. Talvez você precise assistir com outros olhos se quiser se apaixonar como eu me apaixonei pela obra. “O Novo Mundo” é um filme sensível para ser degustado com paciência, observando os pequenos detalhes em silêncio e com amigos que estejam abertos para experimentar um estilo pouco usual de cinema.