Sou cristão, apesar da igreja?

A frase acima é o subtítulo do livro Alma Sobrevivente, de Philip Yancey, da Editora Mundo Cristão. E o parágrafo abaixo é o texto da contra-capa do mesmo livro.

“A dura realidade do cristianismo institucional vem deixando amargas recordações na vida de muitas pessoas. Viver uma espiritualidade autêntica exige de cada um uma vocação maior do que se possa imaginar. Caso contrário, de um lado o legalismo exacerbado, travestido de falso moralismo, e de outro a secularização da fé, alimentando o individualismo, a competição e a ausência de vida comunitária, acabam por nos afastar do verdadeiro sentido de sermos imagem de Deus: sal e luz para uma sociedade em crise”.

Philip Yancey está certo quando mostra que precisamos viver a dinâmica de vida de uma igreja local, apesar de todas as mazelas que ela possa ter. E com certeza, todas as igrejas possuem problemas de relacionamentos, personalidades, mentalidades, visões equivocadas, etc. Onde o ser humano está encontraremos o pecado. Tudo isto é a mais pura verdade.

Mas confesso que fico desconfortável quando ouço pessoas dizendo que são membros de uma igreja, apesar da igreja. E sinto uma mistura de sentimentos que vão desde mágoa, percepção de que alguma coisa vai mal e aquele desconforto que sentimos quando alguém fala mal de quem amamos.

Eu não estou dizendo que a igreja não deve ser criticada, muito menos que ela está livre dos pecados de quem forma o seu corpo. Isso seria fechar os olhos para não perceber as grandes lutas que temos que travar contra nós mesmos para restaurar a santidade da igreja.

Mas o meu maior desconforto está no fato de que muitos que dizem ser membros de uma igreja, apesar dela, se escondem atrás do jogo de palavras. Acabam usando essa argumentação para ocultar a sua falta de interesse, pois muitos jamais estiveram, de fato, envolvidos com a vida eclesiástica.

O problema está no fato de que muitos que dizem o “quão difícil é pertencer à igreja hoje”, disfarçam uma prepotência que exclui os seus nomes da lista dos que são culpados pelos pecados da igreja.

E esses irmãos dizem isso como se viver no mundo, longe da tutela da igreja, fosse melhor, pois os de fora são, mais do que gostaríamos de admitir, mais sinceros, mais honestos e mais verdadeiros.

Mas a grande verdade é que nenhuma desculpa para abandonar a vida na igreja é aceita pelo Novo Testamento. O Novo Testamento não considera a possibilidade de existir um cristão fora da membresia de uma igreja local. Hebreus 10:25 apresenta o mandamento: “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia”.

É verdade que a igreja está doente e que precisa de uma grande reforma. Mas ela continua sendo a igreja de Jesus e Ele continua sendo o seu Cabeça. Ela ainda é o povo escolhido por Deus para anunciar as boas notícias da salvação para todas as nações. Ela ainda é a casa do Pai, a casa de oração para todos os povos. Ela continua sendo a noiva e será resgatada finalmente em glória na volta do Senhor.

Por isso, faço a defesa da igreja. Apesar dos pecados, entre os quais encontro a minha culpa, continuo amando a igreja. Para mim, sempre será infinitamente melhor viver na igreja do que no mundo, longe do alcance da tutela que Deus exerce sobre os seus através dos braços da igreja. É na igreja que espero ver meu filho crescer se tornando um servo do Senhor. É na igreja que quero gastar os meus anos buscando a glória do Senhor que ama a igreja.

Não posso me tornar prepotente e cegamente concluir que sou melhor que os piores pecadores cristãos. Sou cristão, não apesar da igreja, mas apesar de mim.

Creio que se a igreja pudesse erguer a voz e defender-se das acusações, ela diria como meu cunhado, Marcos Sengui Soares, me disse: “Sou igreja, apesar dos cristãos”. Pois, mesmo tendo tantos pecados entre seus membros, o Senhor Jesus “amou a igreja e entregou-se por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável” (Efésios 5: 25b a 27).

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por Clóvis Jr.