Hedonismo – a satisfação dos desejos individuais

2:1 Disse eu a mim mesmo: Ora vem, eu te provarei com a alegria; portanto goza o prazer; mas eis que também isso era vaidade.

2 Do riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve estar.

3 Busquei no meu coração como estimular com vinho a minha carne, sem deixar de me guiar pela sabedoria, e como me apoderar da loucura, até ver o que era bom que os filhos dos homens fizessem debaixo do céu, durante o número dos dias de sua vida.

4 Fiz para mim obras magníficas: edifiquei casas, plantei vinhas; 5 fiz hortas e jardins, e plantei neles árvores frutíferas de todas as espécies.

6 Fiz tanques de águas, para deles regar o bosque em que reverdeciam as árvores.

7 Comprei servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes possessões de gados e de rebanhos, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém.

8 Ajuntei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens, concubinas em grande número.

9 Assim me engrandeci, e me tornei mais rico do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria.

10 E tudo quanto desejaram os meus olhos não lho neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma; pois o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e isso foi o meu proveito de todo o meu trabalho.

11 Então olhei eu para todas as obras que as minhas mãos haviam feito, como também para o trabalho que eu aplicara em fazê-las; e eis que tudo era vaidade e desejo vão, e proveito nenhum havia debaixo do sol.

A motivação do pregador agora é investigar o “prazer” [1 Disse eu a mim mesmo = Disse eu ao meu próprio coração]. Nesta busca ele se depara com o paradoxo do hedonismo: “Quanto mais se busca o prazer, menos ele é encontrado.”

O Koheleth está buscando algo além do prazer[1], que contudo possa ser obtido através dele. Ele tenta chegar à uma Filosofia de Vida através de um caminho que a razão [sabedoria] supostamente tenha bloqueado.

Estimulação sensorial desmedida (vv.1-3).

Neste ponto nos aproximamos muito do nosso próprio tempo com o seu culto irracional em suas variadas formas, desde o romantismo até a ânsia que manifestam os diferentes estados de consciência, a drogadição, o obsceno e o absurdo, como um ataque aos valores da razão.

Cedo, porém, em reação a estes prazeres fúteis, o Pregador[2] decide se entregar às alegrias da criatividade.

Sucesso profissional (vv.4-6).

Êxito profissional por si só não constitui pecado. O Koheleth mostra que foi um grande empreendedor, soube aproveitar todas as oportunidades que teve. Fez mestrado, doutorado, PhD; foi vereador, prefeito, deputado, governador, senador e presidente com excelência; Cuidou do seu próprio futuro e proveu recursos para a geração seguinte.

Prosperidade financeira (vv 7-8a).

Mais uma vez o Koheleth investe em algo legítimo: fez investimentos seguros, poupou recursos financeiros. Foi um empreendedor apreciado por seus subordinados – tive servos nascidos em casa (v.7).

Cultura e sensualidade (v.8b).

Cultura é um bem de consumo imaterial útil e necessário. Todos gostamos de música, cinema, TV, teatro, jornais e revistas – as manifestações culturais servem para construir a identidade de um povo e desta forma os indivíduos passam a fazer parte de uma teia de suporte social.

Salomão também fala do prazer da sexualidade [neste caso, uma sexualidade sem qualquer medida].

Fama e popularidade (v.9).

Quem não deseja ser conhecido e apreciado pelo que faz? O Pregador não se priva do desejo da publicidade.

Ele cria um pequeno mundo dentro do mundo: multiforme, harmonioso e exótico, um Jardim do Éden secular, cheio de deleites civilizados e deliciosamente não civilizados (v.8), sem frutos proibidos – ou algo que ele assim considere (v.10).

E faz tudo isto mantendo um olho crítico sobre os seus projetos, mesmo enquanto os executa: “Perseverou também comigo a minha sabedoria” (v.9). Lembre-se, o Pregador não perde de vista que o motivo principal de toda sua aventura é a busca do supremo sentido da vida.

Leia Filipenses 4:4 e Miquéias 6:8 e responda:

  • A Bíblia ensina que o desejo de ser feliz é dado por Deus e, portanto, não deve ser negado ou resistido, mas direcionado a Deus para sua satisfação. Isto significa que coisa que eu faça para ser feliz é bom e legítimo?

Avaliando o Hedonismo

[Eclesiastes 2:12-23]

24 Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, 25 pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se?

26 Porque Deus dá sabedoria, conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dar àquele que agrada a Deus. Também isto é vaidade e correr atrás do vento.

O veredito do versículo 11 deixa o Pregador estarrecido. Ele, então, retorna às grandes alternativas, a sabedoria e a loucura, comparando-as e avaliando-as radicalmente. Nada poderia ser mais óbvio do que as duas serem comparadas com a luz e as trevas (vv 13, 14a); mas Coelet tem a sagacidade de lembrar que estas não passam de abstrações e que nós somos homens. De nada adiantaria nos recomendar o valor máximo da sabedoria, se no fim nenhum de nós é capaz de exercê-la, e muito menos de avaliá-la.

A sabedoria não está no mesmo nível que a loucura, nem o bem com o mal. Mas tanto faz, porque a morte é o fim da linha para o sábio e o louco, o bom e o mau.

A questão principal do pregador não é decidir entre o trabalhar e ficar à toa mas quais atividades [trabalhos] debaixo do sol ajudam a compor uma Filosofia de Vida digna do supremo sentido da vida.

Por um momento, no versículo 26 as cortinas são levantadas para nos mostrar uma outra coisa além da futilidade. O livro vai terminar com forte ênfase sobre esta nota positiva; mas, até lá, o pregador nos permite ver apenas o suficiente para ter a certeza de que há uma resposta, e que o Koheleth não é um derrotista. Ele nos desilude para nos chamar à realidade.

Notas:

[1] No v.3 ele e diz que sua busca não deixou de considerar nem a sabedoria nem a loucura.

[2] No v.9 ele lembra que quem está Pregando é alguém com sabedoria, conhecimento e capacidade praticamente ilimitados.