Na quarta-feira passada, meu pai embarcou rumo à Natal, Rio Grande do Norte, para visitar a mãe que completará, em breve, 100 anos. Sua ida foi envolta em muitas dificuldades até porque, há cerca de 2 meses, esteve internado em hospital psiquiátrico devido a um histórico de bebida aliado a esquizofrenia. Ele saiu na terça e foi na quarta-feira.
Na rodoviária, entre o vai-e-vem dos ônibus, eu o observava, quieto, tentando entender o porquê de sermos tão distantes, tão estranhos, porém, do mesmo sangue. Confesso que minha relação com ele nunca foi das melhores. Se do lado dele era impossível compreender as necessidades de carinho e afeto que um filho quer, do meu lado, a indiferença de não me importar (aparentemente) era minha válvula de escape e até de desculpa para amenizar a frustração que sentia.
Mas aquela quarta-feira foi diferente. Mesmo depois de todas as acusações que me fez por tê-lo internado, dos palavrões proferidos por um homem que não raciocina mais direito, me senti bem. Deus falou em meu coração e me fez recordar dos tempos que meu pai, lá pelos anos 70, nos colocava (eu e meus irmãos) dentro do fusca 72 e saía para passear, comprar doces e ouvir música sertaneja de raízes no velho Roadstar “cara preta”. O silêncio entre nós, então, foi rompido por mim. Livrei-me da mágoa, dos ressentimentos e disse que o amava, que ele era muito importante pra mim e que não ligava mais para o que tinha feito ou até o que não fez.
Ambos estamos em contagem regressiva. Deus me mostrou isto quando eu o abracei forte antes de subir no ônibus. Mesmo sem entender, devolveu-me um sorriso de canto de boca e disse que não voltaria mais.
Pai, não sei se voltará, mas sei que depois daquele dia tornei-me, graças à misericórdia de Deus, um cristão melhor. Fui capaz de perdoar tudo que fez a mim e minha família. Sei que agora posso ser um filho melhor, independente de você saber ou não, mas rogo a Deus que, se for o desejo dEle, nos encontremos novamente.
Contei este relato para que vocês saibam que não vale a pena guardar mágoa ou rancor, deixar e esperar que o outro lado peça desculpas mesmo quando estiver errado. Não é isso que Cristo ensina sobre perdão. É preciso que nos livremos do peso excessivo de uma cruz que carregamos por não ter humildade ou pensar que algumas pessoas não o merecem.
Quem somos nós para exigir desculpas? Somos melhores em que sentido? Servimos a quem?
Se você tem uma situação como esta em sua vida, a hora para repensar nisto é agora.
“Senhor Deus, ajuda-nos a sermos melhores, saber perdoar, viver o hoje como se fosse o último dia para que, assim, não empurremos com a barriga aquilo que podemos resolver hoje. Em nome de Jesus, amém.”