Mudanças em Cuba

Amigos, Cuba vai mudar. Fidel Castro não é mais o presidente da ilha. Agora vai. Sai Fidel Castro, entre Raul Castro. Coisa de mano pra mano. E eles disseram que Cuba nunca mais será a mesma. Ainda que, em decisões importantes, Raul tenha pedido autorização à nação para consultar o Comandante. Ele foi chamado de “insubstituível”.

Como são contraditórios os caminhos dos revolucionários! Imaginem os amigos que Fidel conduziu a revolução para “livrar o povo cubano de uma ditadura”. Ele, que esta semana escreveu que “não tinha apego pelo poder”, completou 49 anos ininterruptos no cargo de presidente. A Cortina já rasgou, o Muro já caiu, mas a Ilha continua a mesma! Isto é que é revolução! Isto é que é liberdade! E o resto é culpa dos Estados Unidos. Não que eu concorde com a política externa do Tio Sam, mas francamente, eles não são os únicos responsáveis por todas as desgraças do planeta.

O mais incrível é que grande parte do povo cubano defende a revolução. É bem verdade que a opção deles é esta ou o paredão. Toda semana morre gente tentando vazar para Miami em botes improvisados. Só o José Dirceu e mais alguns da mesma linha quiseram ir trabalhar em Cuba. Claro, não para sempre. Não para viver com todas as limitações que o embargo capitalista impõe, com alguma razão. Era só para plantar uns pés de cana, fazer um marketing político e voltar para cá.

Não tenho espaço nem intenção de analisar a Revolução Cubana aqui. Tenho minhas impressões pessoais. Não entendo como pode ser libertária qualquer tipo de liderança que oprime, que gera privilégios para os amigos do poder, às custas da miséria alheia. Mas o irônico é ouvir os Castristas falar em mudança, em transição, em futuro, enquanto fazem questão de dizer que o modelo vai continuar o mesmo. Porque isto me remete à minha situação, como cristão brasileiro ou como brasileiro cristão.

Porque aqui também estamos ouvindo que estamos em transição. Desde o fim da ditadura, estamos sendo engodados. Primeiro, era o negócio das eleições diretas. Venderam a imagem de que quando pudéssemos votar para presidente da República, tudo viraria o céu. Depois veio a história da Nova Constituição. Tudo seria diferente quando a nova Carta Magna entrasse em vigor. Depois era a questão da inflação. No dia em que controlássemos a inflação, o paraíso enfim chegaria. Aí viramos fiscais do Sarney, depois veio o Collor com uma só bala na agulha e finalmente aterrissou o neoliberalismo do FHC. E continua tudo como dantes.

Não há dúvida de que muita coisa melhorou. Comemos mais frango, exportamos mais, geramos mais empregos. Qualquer um consegue comprar um carro financiado hoje em dia. A casa própria foi o sonho realizado de muita gente. Só que em Cuba também muita coisa melhorou. Lá não tem analfabetismo, a saúde é de primeira. Mas a que custo?

E quanto mais nos aproximamos da nossa realidade, mais descobrimos que grande parte das “mudanças”, das “novidades”, das “revoluções” e das “declarações de independência” são, rigorosamente, revoluções à Cubana. Tiram nosso pé da frigideira e colocam-no sobre o fogo. Quem sempre pregou a liberdade, igualdade e fraternidade, quando chega ao poder esquece tudo. Os papéis se invertem e com eles a pregação também. Agora é preciso “manter o poder a todo custo para não perdermos o que conquistamos”. Então, o ciclo de miséria, opressão, desigualdade, injustiça, desmandos e corrupção continua, agora na mão da “revolução”.

Isto não acontece apenas em Cuba ou na política. Acontece na igreja. Ouvi gente pregando e falando a vida inteira sobre liberdade. Ouvi pessoas falando sobre “fazer uma coisa diferente”, em “quebrar paradigmas”, em “necessidade de renovação”. Aí um dia eles chegaram lá. Alguns pela porta dos fundos, outros derrubando a mesa, outros na base de conchavos na calada da noite. Alguns vieram na esteira de falsas acusações. Todos eles sempre tiveram seus caudilhos para ajudá-los a defender seus interesses mesquinhos. Era o “toma-lá-dá-cá” eclesiástico, baseado no “eu te apóio e você não mexe comigo”. Eu poderia escrever um livro contando todas as histórias deste tipo que sei sobre isso (quem sabe um dia…). Depois que chegaram, instalaram-se no poder e ali ficaram por longos dias. E tudo continuou como dantes.

Esses “líderes” são como Fidel e sua troupe. Vivem numa ilha. A ilha são eles próprios. Não são capazes de enxergar o que acontece no resto do mundo, porque sua visão não vai além do quintal de suas próprias casas. E no seu quintal só tem lugar para ferro-velho. Não sopra brisa nova. Não acontece nada. A vida não flui. Não rola nada novo. O discurso é de revolução, mas a visão é reacionária. Tenho encontrado alguns que, em momentos de descuido com a verve, até confidenciam que a sua praia não é bem esta. Não estão preparados sequer emocionalmente para a tarefa de liderar o povo de Deus. Confessam à boca pequena que não tem visão. Que não sabem o que fazer com questões importantes que envolvem a vida das pessoas. Mas agora que pegaram o osso, não vão largar tão cedo. Eles também, como o Comandante Castro, afirmam que não tem apego pelo poder. Mas estão agarrados a ele como um feto à placenta.

Podem escrever: gente assim fica para trás na história e suas biografias só servirão para que as futuras gerações aprendam a não repetir sua triste sina. Porque a Cortina já rasgou e o Muro já caiu.

Só falta a Ilha acordar para a vida.