Violência contra a mulher é uma dura realidade brasileira que desafia a Igreja

Segundo a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres em 2007, a Central de Atendimento à Mulher registrou 205 mil atendimentos, um aumento de 306% em relação a 2006. Psicóloga diz que a violência doméstica faz parte dos segredos bem guardados de muitas famílias cristãs.

No dia 22 de março, um domingo, Ana Cláudia Melo da Silva, de 18 anos, foi esfaqueada em um apartamento em São Paulo. Seu filho, de um ano e sete meses, foi levado pelo ex-marido, Janken Evangelista, 29, principal suspeito do crime. Ana se mudou do interior da Bahia para fugir de Janken, que costumava agredi-la por ciúmes. Mas ele a seguiu até São Paulo e ganhou na Justiça o direito de ver o filho semanalmente. Na terceira visita, a jovem mãe foi assassinada. Esta não é uma história isolada. Casos de agressões e homicídios a mulheres se multiplicam no Brasil. E as igrejas evangélicas têm o desafio de ajudar a impedir que situações assim se espalhem ainda mais. Espaço de acolhimento e de tratamento da alma, nem sempre a Igreja, contudo, consegue lançar luz nos quartos escuros e vencer a lógica da violência que recai sobre mulheres de todas as classes sociais.

As estatísticas são alarmantes. De acordo com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e o portal Violência Contra a Mulher (www.violenciamulher.org.br), em 2007, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 registrou 205 mil atendimentos, um aumento de 306% em relação a 2006. Do total, dez por cento referem-se a denúncias concretas de violência. Foram 20 mil casos de agressões físicas, psicológicas, morais e sexuais contra mulheres. Houve também 211 tentativas de homicídio e 79 assassinatos. A psicóloga Esly Carvalho, autora do livro Família em Crise – Enfrentando problemas no lar cristão, diz que a violência doméstica faz parte dos segredos bem guardados de muitas famílias cristãs. Para ela, que é especialista em saúde emocional e costuma tratar os mais diversos tipos de abusos no ambiente familiar, é preciso romper o silêncio. Esly chama os crentes à responsabilidade. “A Igreja deve ser a primeira a erguer sua voz profética e denunciar o terrível segredo da violência doméstica”, afirma.

Evangélica, Esly acredita que o primeiro passo para se combater a violência doméstica é falar sobre isso. “Quantas vezes você ouviu um sermão sobre violência doméstica?”, indaga. “As pessoas precisam ser orientadas”. Ela critica o legalismo religioso, que levaria muitas mulheres a suportarem caladas a violência. Mesmo sem querer entrar em polêmicas teológicas, Esly argumenta que a violência é, sim, uma razão bíblica para o divórcio. “A violência é uma traição. Quando o homem bate numa mulher, ele está traindo os votos matrimoniais. O Evangelho nos chama a uma vida em amor”, declara, observando que a sociedade está muito exposta à violência.