Fim dos tempos

O fim de todas as coisas. Destruição total! A humanidade agonizando seus últimos dias. Catástrofes de proporções bíblicas. Fenômenos espetaculares.

Bom… Fim dos Tempos, novo filme dirigido e escrito

por M. Night Shyamalan (de Sexto Sentido, Corpo Fechado, Sinais, A Vila e A Dama na Água) não é nada disso. Não entendo o porquê deste nome. Na verdade eu entendo, sim: lotar os cinemas. O nome original do filme é “The Happening”. Algo como “O Acontecimento”. Um título literal assim talvez explicaria melhor o que é o filme, mas não o venderia tão bem.

Eu, como fã do diretor, fui ver o filme sabendo pouco sobre ele, apenas querendo ver “o novo filme do Shyamalan”. Entrei no clima da coisa e deixei a história ser contada. E curti muito, do começo ao fim. Como sempre, há aqui elementos sobrenaturais e absurdos que o autor sempre apresenta (exemplo máximo: ETs que não resistem à água invadem a Terra em “Sinais”!). O autor mesmo já disse que, nos universos que ele cria para seus filmes, tudo é possível. Isso é algo que se precisa saber para ver um de seus filmes.

Por que comecei a abordagem assim? Porque eu fico revoltado em ir ao cinema, gostar, curtir o filme, e ouvir um monte de adolescentes que estavam à procura de “explosões acerebradas” zombarem e reclamarem do filme no final. Culpa do marketing das distribuidoras.

Voltando ao filme: um fenômeno extraordinário ameaça a vida de milhões de pessoas, causando desespero e medo – os melhores ingredientes para um ótimo suspense, que é a especialidade do diretor. Quem já viu “Sinais”, por exemplo, sabe disso. Sabe a cena da família no porão? Você não vê nada, só ouve e sente a angústia dos personagens. Aqui, a ameaça é algo muito inusitado, não vou revelar qual é, mas é algo muito estranho para se ter medo.

Eu sempre acho curioso quando em filmes se mostra a reação da mídia em relação a fenômenos assim. O que governos e autoridades dizem a respeito? Se for um evento natural, o que mais resta a se fazer ou a se dizer? Quem será o primeiro a ser culpado? Neste aspecto nota-se uma sutil crítica à atual paranóia americana.

Gostei de como os personagens centrais da trama são reais. Pessoas críveis, normais. Podem ter sua beleza, mas são pessoas com as quais é fácil se identificar. Nisso o Mark Whalberg (Planeta dos Macacos e Uma Saída de Mestre) me surpreendeu bastante, ao interpretar um mero professor de ciências meio “loser”. O amor também é um personagem muito presente na trama. Mesmo em meio ao caos, ele é o que mais importa, seja como um amor sacrificial, paternal, ou um amor há muito esquecido. Isto rende momentos que beiram à pieguice, mas muito belos, como quando os personagens se perguntam: “qual é mesmo a cor do amor?”.

Outra marca do M. Night é que ele sempre faz alguma ponta nos seus filmes. No último, “A Dama na Água”, o papel dele foi muito maior que isto, o que desagradou muitos críticos. Como sempre, eu espero encontrá-lo nos filmes. Para mim é como se fosse o Geninho (Quero ver quem vai se lembrar disso, hehehhe). Desta vez eu não o vi no filme todo e fiz questão de procurá-lo no elenco final. Ele foi creditado como um personagem do filme que nunca aparece, e nem ao menos sua voz é ouvida. Ponto para ele.

Não pode-se deixar de notar também o fato de que M. Night pela segunda vez quebra o paradigma do “final com reviravolta surpreendente”. Lembra-se do final de “Sexto Sentido”, seu maior sucesso? Isto faz com que sempre se espere dele um desses filmes que se você souber o final, já se estragou. Não existe isto aqui, acredito que nem seja necessário. Este é um paradigma já quebrado.

Enfim… nem mesmo se eu dissesse para você: “junte todas as pistas que eu pus aqui neste texto com muito sangue e mortes a là faces da morte”, você iria entender o filme. Mas, eu garanto: vale a pena tentar. Basta ir ao cinema sabendo o que se esperar.