Crente pra cachorro

Juízes 7 é sem dúvida um dos mais intrigantes das escrituras. A manifestação do poder de Deus é tão latente neste confronto dos comandados de Gideão contra os midianitas que, às vezes, nos esquecemos de como Deus é criterioso em selecionar aqueles que vão prestar-lhe algum serviço. De 32 mil homens que saem para a guerra o Senhor separa 300, ou seja, menos de 1% daqueles soldados tinham o perfil exigido.

No verso 5, a Bíblia descreve o seguinte diálogo: “Então disse o Senhor a Gideão: qualquer que lamber as águas como as lambe o cão, esse porás à parte” . A pergunta que me fiz é: O que Deus realmente procurava nestes homens? Para chegar a uma conclusão tracei um paralelo entre o comportamento de dois animais bem comuns no nosso cotidiano e acabei percebendo que existem dois tipos de crentes na atualidade: Aquele cujo instinto se assemelha ao do Cão e outros ao do gato. Pois bem, vejamos que lições são possíveis extrair disto.

1 – ADESTRADO OU DOMESTICADO: Um cachorro pode ser adestrado a tal ponto que ele consiga controlar sua própria natureza e estabeleça um estado de submissão às ordens de seu dono. O gato, por sua vez, é um animal doméstico e não adestrável, não aceita ser preso a uma corrente, não aceita ordens, e por mais manso que pareça sua própria natureza acaba sobressaindo.

Aliás, o gato é tão domesticado que chega ser inconveniente. Você recebe uma visita em sua casa e basta o gato perceber que não está sendo o centro das atenções que ele começa a se esfregar nas pernas do seu convidado, miar e se “der corda”, ele vai parar no colo de alguém.

Na igreja não é diferente. Existem pessoas que se converteram de fato, aceitaram ser adestradas pelo Espírito Santo, tudo em sua vida mudou, é submisso a Deus e à igreja. Por outro lado existem aqueles domesticados, cantam, oram, até pregam, mas, basta perceber que não estão em evidência que liberam sua velha natureza. Não aceitam ordens da igreja, e por mais “mansos” que pareçam basta apertá-los para sentir o vigor de suas garras afiadas;

2 – O CACHORRO TEM PRONTIDÃO: Você abre cuidadosamente a porta de casa, são duas da manhã, o cachorro está tirando uma soneca e você grita: PEGA. Imediatamente o cachorro se põe de pé e está atento ao que se passa. Agora, a mesma cena acontece, só que ao invés do cachorro, está o gato. Você dá o primeiro grito e ele rola de um lado pra outro, espreguiça para frente e para trás, começa a lamber cada uma de suas patas e, talvez, depois de meia hora ele esteja disponível.

Você já lidou com gente assim? Nunca está disponível. Um dia o sol está quente demais, outro dia é a chuva que atrapalhou. Hoje chegou atrasado no culto porque o despertador não tocou, amanhã ele chega atrasado porque dormiu tarde demais. Sua agenda está sempre lotada para se adequar aos horários da igreja, mas, se a igreja estiver disposta a esperar, e esperar muito, então ele pode adequar a igreja aos seus horários. É incrível como o despertador não precisa tocar mais de duas vezes durante a semana para irmos para o nosso emprego, mas domingo, a cama parece estar mais atraente, a ceia do Senhor não parece tão importante, a escola dominical? Bom, já estudei este assunto o ano passado, não vai me fazer falta. Deus procurou prontidão naqueles homens e neste teste só foi aprovada uma minoria. Você é pronto para o serviço de Deus?

3 – O CACHORRO TEM VIBRAÇÃO: O cachorro é um dos poucos animais em que você pode perceber alegria. Você chega em casa de madrugada vindo de uma festa, está com sua melhor roupa, o tempo está chuvoso, mas, quando você abre o portão e vira as costas para voltar ao carro, escuta apenas o barulho estridente das unhas de seu cão de estimação correndo, debaixo de chuva, para te recepcionar. Por mais que você grite, diga que não precisa, ele vai mostrar pra você que está feliz deixando alguma marca em você. Enquanto isto o gato está dormindo, talvez na sua cama, e apenas abre um dos olhos, ouve você brigando com o cachorro e diz: “miau, miau, miau, o cachorro se deu mal”.

Você tem vibração naquilo que faz? Quando você abre a boca para cantar nas reuniões de evangelização os visitantes percebem que você tem entusiasmo por ser salvo? Os crentes percebem que você é feliz com o ministério que desenvolve na sua igreja, ou será que você anda sempre de cara fechada como se estivesse sendo obrigado a estar ali?

Recentemente trabalhei em um determinado lugar com pessoas crentes e não crentes. Quando nos encontrávamos na segunda pela manhã, depois de um bom final de semana, os não-crentes contavam com prazer: Este final de semana fui com minha família para o balneário. Outro dizia: eu passeei bastante. Mas, quando perguntavam a algum crente: e você fulano, o que fez? As respostas eram do tipo: Ah! Eu passei o final de semana todo na igreja, não pude sair pra lado nenhum. Outro dizia: “É duro viu! trabalho aqui a semana inteira e ainda tenho que trabalhar na igreja nos finais de semana”.

O que você acha que foi a arma letal que Deus usou contra os midianitas? Eu respondo, foi a vibração de trezentos homens. O versículo 20 nos diz que Deus ordenou e aqueles homens gritaram com todo o entusiasmo: “Espada pelo Senhor e por Gideão”.

Meus irmãos, temos servido ao Senhor com alegria, com toda a nossa motivação? Deus dispensou 31.700 homens e preferiu lutar com apenas 300, e sabem o que aprendo aqui? Deus não está disposto a compartilhar as glórias da vitória com quem não estiver suficientemente motivado para a batalha. Lembre-se disto. Servi ao Senhor com alegria. Se não é a alegria que me leva aos cultos, me estimula a servir a Deus, a desenvolver meu ministério, então, meu serviço não significa nada para Deus. Eu nunca deixarei uma marca na vida de alguém se não impetrar alegria no serviço que presto a Deus.

Seguindo o nosso raciocínio sobre o instinto que Deus procura em seu processo seletivo para candidatos a guerra, vamos continuar pensando em Juízes 7, e as comparações entre o cão e o gato.

4 – COMPANHERISMO: O cachorro é companheiro a toda hora, basta você se vestir que ele já fica atento, pronto para te acompanhar. Não importa para se você vai a um parque de diversões ou para o trabalho numa segunda de manhã, o cachorro apenas quer estar com você. Não poucas vezes você acaba chegando na escola ou no serviço e encontra o seu cão de estimação que o seguiu por ruas movimentadas, mesmo que você não tenha pedido sua companhia. Agora, sinceramente, não me lembro de ninguém que foi seguido pelo gato, a menos, é claro, que estivesse com um apetitoso embrulho nas mãos. O companheirismo do cachorro é incondicional.

Deus não queria naquela batalha homens que cuidassem apenas de si mesmos. Aqueles que apenas lamberam a água levando-a a boca estavam atentos e prontos para se defenderem e defender seus companheiros. Mas os demais, para satisfazer uma necessidade própria, se prostraram e esqueceram até mesmo que estavam em uma guerra.

No capítulo 17 de João, Jesus orou por uma igreja unida onde o companheirismo se assemelhasse ao seu convívio com o pai. Ele sabia que satanás tentaria invalidar os efeitos da cruz por meio de crentes que se detestassem e que se dividissem. Jesus sabia que chegaria um tempo em que seríamos tentados a amar mais a uniformidade do que a unidade, onde, quem não for igual a mim (vestindo, pensando, agindo como eu) não pode servir comigo. Jesus orou por um companheirismo incondicional onde eu tivesse a liberdade de compartilhar minhas necessidades e crescer espiritualmente enquanto acompanhasse e ajudasse meus irmãos.

5 – PROTEGE O AMBIENTE ONDE VIVE: Se um ladrão quer entrar em uma residência o primeiro que terá que sacrificar é o cachorro, pois o cão está disposto a morrer para proteger o lugar onde vive. Já o gato quando percebe a chegada de um estranho, sai pelo espaço entre o forro e o telhado e foge. Ele é um animal inteligente, e só depois de umas duas horas, quando você já chegou em casa e está lamentando por seus móveis todos revirados, o gato volta andando com cuidado como se estivesse dizendo: “- Vai me dizer que roubaram esta casa?!”.

Na igreja existem pessoas que preservam o lugar onde se reúnem. Quando encontra um grupo mais exaltado, difamando a vida de alguém, ele entra na questão: “Espera aí irmãos, eu me reúno nesta igreja, se o fulano está com problemas vamos orar para que Deus o ajude, vamos trabalhar para sua restauração”. Em compensação tem outros que ficam rodeando o grupo até que lhe peçam uma opinião: “Bom, já que me perguntaram eu vou falar. Tem coisa muita pior acontecendo por aí. Soube de um babado forte sobre a vida do presbítero…”. Quantos casais se sentam à mesa com os filhos para a refeição e o cardápio do dia é: Arroz, Feijão, Carne e a vida do pastor. Não é de admirar que muitos pais se deparam com seus filhos perdidos porque criaram a concepção de que a igreja é um lugar onde se vive de hipocrisia.

6 – O CACHORRO PERDOA: Você chega em casa, vê alguma bagunça no quintal (pode ser até o gato que fez) mas quem apanha é o cachorro. Segundo os adestradores se um cão não for corrigido no momento em que erra, depois, ele vai apanhar sem saber o porquê. Mesmo que você espanque o cachorro, basta cinco minutos, se você chamá-lo ele vai vir abanando o rabo e mostrando satisfação, agindo como se nada tivesse acontecido. Faça isto com o gato e ele vai parar no quintal do vizinho, e se achar boa comida, nunca mais volta!

Existem pessoas que entram em confronto com algum irmão em determinada igreja e acham mais fácil reunir em outro lugar, ou até mesmo mudar de denominação, do que perdoar. Irmãos, o perdão é a excelência do serviço cristão, e vou dizer por quê:

a) O perdão mantém o foco no serviço a Deus – Um crente começa servindo a Deus, mas Satanás cria um desentendimento entre ele e um outro irmão. A partir daí tudo o que este irmão fizer, caso não perdoe seu semelhante, será para desmascarar seu opositor. Quantas vezes já ouvi coisa do tipo: Eu vou assumir este serviço só para calar a boca do fulano de tal. Ou então: O fulano disse que eu não seria capaz, agora manter-me firme é uma questão de honra pra mim. É exatamente assim que o diabo nos quer, tão preocupados em servir aos nossos próprios interesses que não consigamos servir a Deus;

b) O perdão faz com que a obra de Cristo seja aperfeiçoada em nós – Na parábola do credor incompassivo, Jesus fala a respeito de um homem que teve uma grande dívida perdoada e não conseguiu perdoar uma pequena dívida adiante. Eis um princípio do perdão: o perdão não se baseia no tamanho da ofensa que você vai perdoar e, sim, no quanto você foi perdoado. Sendo assim, perdoar é dizer para Deus e para os homens que você entende o que é redenção, tanto, que é capaz de perdoar qualquer ofensa porque nada poderia ser maior do que uma vida inteira de pecados como a sua, que Jesus generosamente propôs esquecer;

c) O perdão revela amor – O amor é a marca registrada de Deus (Deus é amor). Você pode ser santarrão, assíduo nas reuniões, um bom pregador, mas a identidade de Deus só será vista em você quando você liberar amor. O perdão é a prova máxima de amor. Alguém te ofendeu, te magoou, merecia seu total descaso, e quando está pronto para receber uma condenação, ouve da sua boca uma palavra de perdão. Isto é amor!!!

Espero que ao final deste artigo estejamos cientes que vivemos uma batalha cuja vitória depende da ação poderosa de Deus. Ele está recrutando soldados prontos, vibrantes, companheiros, que lutem pela paz no ambiente onde vivem e, acima de tudo, que saibam mudar a vida de pessoas com aquilo que mudou as nossas vidas: o perdão! Não sei se seria muita audácia da minha parte dizer isto, mas Deus nos chamou para sermos verdadeiros “pit bulls” espirituais. Sinceramente, acredito que Deus sinta vergonha dos gatinhos domesticados nos quais estamos nos tornando.