Servido pelo Comandate Supremo (1)

“Em verdade vos afirmo que ele há de cingir-se, dar-lhes lugar à mesa e, aprosimando-se, os servirá” Lucas 12:37.

Suponhamos que algo totalmente maluco tenha acontecido. Suponhamos que você tenha sido convidado para um jantar com o presidente da República.

Você está empilhando pratos na cozinha do restaurante onde trabalha no período noturno quando um mensageiro bate na porta dos fundos.

– O proprietário só estará aqui amanhã, você lhe diz.
– Não estou à procura do proprietário, quero falar com você.
– O quê?
– Trabalho na Casa Branca –, o que explica o que explica o terno escuro e a maleta.
– Verdade? – Você o examina enquanto ele abre a maleta.
– Vim entregar-lhe esta carta.

Uma parte de você pensa que fez algo errado. A outra parte imagina que talvez seja uma peça pregada por seu primo Alfred por causa da cebola podre esquecida no carro dele. E no todo, você pondera que esse sujeito está enganado.

Mas enxuga as mãos no avental e pega a carta. É uma carta pessoal. Há um emblema no envelope endereçado a você, não datilografado, mas manuscrito.

O papel é de excelente qualidade, o que descarta a possibilidade de ser uma peça do primo Alfred; ele não teria dinheiro para isso. Também não pode ser uma conta a pagar, porque os credores não agem de modo tão elegante. Você abre a carta e, após algumas formalidades, constata que foi enviada pelo presidente da República.

Levanta os olhos para o mensageiro e ele está sorrindo como se essa fosse a melhor parte de seu trabalho.

Você olha ao redor da cozinha procurando alguém par mostrar a carta, mas não há ninguém. Pensa em correr para o restaurante e mostrá-la à Alma, a gorçonete, mas não consegue porque está muito curioso para saber do que se trata. Resolve então ler a carta.

Trata-se de um convite – um convite para um jantar. Um jantar oficial. Um jantar oferecido em sua homenagem. Um jantar dedicado a você.

Sua ex-mulher lhe ofereceu um jantar de surpresa no primeiro ano de casamento, mas exceto essa ocasião você não se lembra de alguém mais ter-lhe oferecido um jantar. Nem seus filhos. Nem os visinhos. Nem seu patrão… nem você sabe se algum dia ofereceu um jantar em homenagem a si mesmo.

E agora recebe um convite do comandante-em-chefe.

– Qual é a brincadeira? – você pergunta.
– Não se trata de uma brincadeira, apenas um convite para você comparecer à Casa Branca. Posso saber sua resposta para transmiti-la ao presidente?
– O que?
– Posso saber sua resposta para transmiti-la ao presidente? Você aceita o convite?
– Bem, é cla-cla-claro. Adoraria ir.

Você vai. Na data marcada, coloca sua melhor roupa e dirige-se à Avenida Pensilvânia. Ao chegar ao edifício é recebido por alguns seguranças de roupa preta que o encaminham para dentro. Em seguida, o maître assume o comando. Seus passos ecoam enquanto você acompanha aquele homem vestido de smoking por um enorme corredor cujas paredes estão repletas de fotografias de ex-presidentes.

No final do corredor vê-se o salão de banquetes. No centro do salão há uma mesa ampla, e no centro da mesa há um prato, e ao lado do prato há um enorme nome – o seu.

Com um movimento de cabeça, o garçom pede que você se sente. Depois que ele sai, você faz uma coisa que desejava fazer desde que entrou naquela casa. Olha ao redor e diz: “Que maravilha!”

Você nunca se sentou diante de uma mesa tão ampla. Nunca viu cristais tão bonitos. Nunca viu porcelanas tão valiosas. Nunca viu um aparelho de jantar com tantos talheres e um candelabro com tantas velas.

“Que maravilha!”

Embaixo de seus pés há um tapete oriental. Provavelmente importado da China. Acima de sua cabeça há um lustre com milhões de peças de crital. Aposto que é alemão. A mesa e as cadeiras são feitas de teca. Da Índia, sem dúvida.

Logo adiante há uma lareira acesa e uma cornija branca. Acima da cornija há um quadro – um quadro com, opa, seu retrato. Lá está você. Os mesmos olhos, o mesmo sorriso sem graça, o mesmo nariz que você gostaria que fosse bem menor – é você mesmo!

– Que maravilha!

– Coloquei ali para me lembrar sempre de você.

A voz vinda de trás o assusta. Você não precisa se virar para saber quem está ali – é uma voz inconfundível, a dele. Você espera até que ele se posicione do seu lado antes de levantar os olhos. Sabe que ele está ali porque sente a mão dele tocar em seu ombro.

Você se vira e olha. Lá está ele, o presidente. De estatura um pouco mais baixa do que você imaginava, mas de personalidade dominante. Queixo reto. Olhos profundos. Maçãs do rosto salientes. Terno cinza. Gravata vermelha. Avental.

O quê?

O presidente usando um avental! Um avental de cozinha igual ao que você usa no trabalho.

E, como se isso não bastasse, atrás dele há um carrinho. Ele pega seu prato de entrada e lhe oferece um pãozinho.

– Estou muito satisfeito por ter aceitado o meu convite.

Você sabe que deveria deizer algo, mas se esquece e se perde entre o último “Que maravilha” que disse e o primeiro O que está acontecendo aqui? que pensou.

Pensou na surpresa de ter recebido o convite. Pensou em sua admiração ao ver a Casa Branca. Levou um susto tremendo ao ver sua fotografia na parede. Mas nada se comparava ao que estava vendo naquele momento.

O comandante-em-chefe como garçom? O presidente servindo-lhe à mesa? O mandatário da nação trazendo-lhe vinho e pão? Você se esquece de todas aquelas etiquetas e elogios preparados com todo o cuidado para a ocasião e deixa escapar o que realmente se passa em sua mente:

– Espere um pouco. Isso não está certo. O senhor não deve fazer isso – é serviço meu. O senhor não deve me servir. Sou um lavador de pratos. Trabalho em restaurante. O senhor é o maioral. Deixe-me vestir o avental e colocar a comida na mesa… senhor.

Mas ele não permite.
– Não se levante –, ele insiste. – Hoje você é meu convidado de honra.

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com