Diaconia e a economia de Deus

“…porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes…” (Mt 25:42-43)

Se há algum texto bíblico que nos desafia a tomar uma posição, esse texto é o de Mateus 25:31-46. Destaquei os versículos 42 e 43 por serem os mais contundentes.

Na verdade, todo o texto fala sobre a diaconia. Não sobre uma diaconia esporádica, mas cotidiana, que atua não só na superação de necessidades, mas principalmente na transformação estrutural, trazendo esperança à vida de todas as pessoas que dela participam.

Essa diaconia deve ser testemunha e revelação da lógica da economia de Deus, que altera os valores sociais convencionados e mantidos para referendar o status quo de uma minoria que se sustenta às custas de uma maioria que sofre, empobrece, perde a dignidade e morre. Somos desafiados pela lógica da economia de Deus a desenvolver estratégias de reconstrução de dignidade e de esperança a partir das pessoas que estão à margem do processo e para isso, necessários se fazem não apenas grandes projetos, mas também opções e compromissos éticos cotidianos afinados com um paradigma de libertação. Esses compromissos precisam observar a relação existente entre a miséria e a necessidade de cada um e os mecanismos que criam a miséria.

Se observarmos bem, durante todo o texto não nos é perguntado se temos fé, mas quais as conseqüências dessa fé, qual é a qualidade da nossa prática, que deve ser culto a Deus. Não podemos perder de vista que o Cristo ressurreto está presente e identifica-se com as pessoas que sofrem qualquer tipo de miséria, fruto da injustiça econômica, social, cultural e religiosa.

O texto, dessa forma, é fonte de um poder transformador que nos auxilia na vivência do juízo cotidiano de Deus de uma forma tranqüila, sem medo, porém com esperança, nos capacitando a viver de maneira misericordiosa. Essa prática diaconal é manifestação da justiça de Deus entre nós. Essa justiça nada mais é do que a concretização da economia de Deus, que eleva os “pequeninos” e que faz as últimas pessoas serem as primeiras.

A economia de Deus é o jeito como a “casa” é administrada tendo por base a lógica do Reino e a justiça de Deus (oikos = casa + nomos = regras, normas) e está clara na identificação do Rei com as pessoas desvalidas. A economia de Deus inverte e subverte os valores sociais elaborados e alicerçados para manutenção de uma minoria opressora em detrimento dos demais. Ela choca-se e contrapõe-se à economia “do mundo”, do neoliberalismo globalizado, que faz com que os pequeninos sofram injustiças, enquanto que a economia de Deus desmascara a injustiça e suprime as necessidades através da diaconia, questionando e combatendo as causas da miséria, numa atitude de vigilância em relação aos poderes instituídos e de denúncia de seus abusos. Assim, diaconia é uma das características vitais da comunidade de fé e está diretamente ligada à economia de Deus.

“Os pequeninos mostram onde é o lugar da igreja.” – Jürgen Moltmann