O mal na política

Teologia para entendimento e prática de uma evangelização integral, contextual e transformadora (2)

O mal na política – comprometidos com uma teologia que transforma a realidade

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  1. Introdução

“A igreja não existe como propósito de servir a seus membros, mas sim consiste de membros que existem para ser povo de Deus, participando da sua missão no meio da comunidade e servindo a outros.” Charles Van Engen

Esta frase de um dos maiores missiólogos vivos (ouvi-a numa aula na Faculdade Teológica Sul-Americana no final de 2008) mexeu comigo e me levou a refletir sobre nossa atuação a partir do exemplo de Neemias, o copeiro que virou governador.

Vejamos o texto bíblico:

No mês de nisã do vigésimo ano do rei Artaxerxes, na hora de servir-lhe o vinho, levei-o ao rei. Nunca antes eu tinha estado triste na presença dele; por isso o rei me perguntou: Por que o seu rosto parece tão triste, se você não está doente? Essa tristeza só pode ser do coração! Com muito medo, eu disse ao rei: Que o rei viva para sempre! Como não estaria triste o meu rosto, se a cidade em que estão sepultados os meus pais está em ruínas, e as suas portas foram destruídas pelo fogo? O rei me disse: O que você gostaria de pedir? Então orei ao Deus dos céus, e respondi ao rei: Se for do agrado do rei e se o seu servo puder contar com a sua benevolência, que ele me deixe ir à cidade onde meus pais estão enterrados, em Judá, para que eu possa reconstruí-la. Neemias 2.1-5

Olhando para Neemias podemos enxergar algumas pistas de como agir em relação a política e nossa vida com Deus.

Contexto político

Lá, ele estava em um governo estrangeiro. Todos os habitantes de sua cidade, Jerusalém, que eram influentes haviam sido ou exilados ou mortos. Só havia pobres, estrangeiros e exploradores que governavam a cidade.

Contexto social

Havia exploração entre os próprios Judeus, crescia a desigualdade entre as famílias e aumentava o desejo por lucro pessoal. A classe religiosa já havia sido contaminada pelo desejo de lucro e só havia muita miséria, desolação, exploração, destruição e desesperança.

Contexto religioso

Por causas das influências do exílio novos valores culturais e religiosos estavam sendo difundidos e os conceitos religiosos judaicos questionados. Faltava identidade de fé no povo e um sincretismo religioso permeava as ações religiosas. O casamento com pessoas de outras religiões, onde a prática de adoração aos deuses comuns a todos influenciava a formação religiosa da nova geração além das alianças religiosas para preservar a economia.

A atuação de Neemias

Sua atuação pode ser afirmada em cinco coisas:

  1. A presença de Deus através do Templo (adoração)
  2. A voz de Deus através da Palavra (encontrada com Esdras)
  3. A ética pessoal que o faz fiel a Deus e assim implantação da justiça
  4. Consciência de um chamado de Deus para cumprir a sua Missão
  5. O amor (prático) demonstrado para com seu povo

Nosso contexto atual

Assim como na época de Neemias o sistema estruturalmente influenciado e planejado pelo inimigo traz sobre a política uma ação de injustiça e opressão muito comum em tantos recantos do Brasil e fora dele. O mal também triunfa num planejamento da perda de liberdade básica, mudando para uma liberdade corporativa, ou seja, somos e fazemos aquilo que se espera de nós, na instituição de uma tirania malevolamente bem conduzida que se traduz em corrupção, dinastias de poder e muito, mas muito nepotismo.

As estruturas do poder, da ação governamental e do próprio povo inserido, estão corrompidas e jazem no maligno. As leis, as políticas de ação, as constituições tendem a favorecer este ou aquele grupamento, negociando em favor da facilitação para uma melhoria de vida para alguns que detém o poder e a oportunidade de controlarem em detrimento da desgraça e perda de esperança de quem sempre se encontra com as mãos vazias.

A igreja, principalmente a nossa, brasileira, está acostumada a enxergar governo, política e administração estatal como sendo um mal necessário e tem tido a tendência de não enxergar como possível uma transformação nesta área. Muitos cristãos, daqueles que se arriscam a “fazer política” vão para o meio dos “lobos” tão mal preparados, com tamanha sede corporativista para defender os direitos evangélicos que muitas vezes não conseguem transpor a barreira da insignificância política, transformando uma situação difícil em algo pior, onde os votos e as ações são para um grupo, beneficiando poucos em detrimento de muitos e assim, não conseguem ser suficientemente sal e luz para transformar esta área tão importante da nação.

Alguns outros, pensando na política apenas partidária, nem sequer notam que a verdadeira arte da política está em se colocar em lugares onde as decisões ocorrem como é o caso dos conselhos que atuam na cidade, nos estados e em todo o país. Os conselhos, as associações, as representações tudo isso é o que podemos fazer, como cristãos, mesmo que não sejamos “políticos profissionais”, eleitos e pagos, para que a justiça e o reino de Cristo venham em primeiro lugar, para que todo o restante seja acrescentado.

Tendo Neemias e suas ações políticas e administrativas como exemplo, quero afirmar que, mesmo que não nos tornemos ‘governadores’ do estado, ‘prefeitos’ do município, vereadores ou deputados, pesa sobre nós a obrigação de sermos cristãos comprometidos com a transformação política de nosso contexto, assim cumprindo o que Jesus no diz em Mateus 5.13, quando ele afirma que somos “sal para a terra”.

Gostaria de sugerir algumas ações práticas em relação a esta questão:

Em primeiro lugar olhe para a sua cidade. Se pergunte o que vê na cidade, como a enxerga, quais é a maneira como enxerga a estrutura política administrativa dela – geralmente não enxergamos com bons olhos, apesar de conhecermos bem pouco; geralmente temos uma visão de tudo como sendo ruim e somente com conchavos e corrupção. Quero propor que você investigue, conheça, mantenha-se informado não somente pelos jornais, mas vá a fundo, veja na fonte o que acontece, é direito (e dever!) seu. Saiba dos planos que estão sendo feitos para o desenvolvimento da cidade e ore pela sua cidade. Esteja disposto e disponível a agir nela, mas nunca abra mão de sua ética pessoal.

Em segundo lugar leve para a sua comunidade o resultado de suas pesquisas e investigações. Todos os desdobramentos do que se está fazendo com a administração do bem público interfere na vida de todos. Com isso você poderá despertar outros a fazer o mesmo que você e ações conjuntas sempre são melhores, pois dá mais peso. Através disso você poderá gerar movimentos de oração específicos para ações objetivas através da sua comunidade na cidade.

Em terceiro lugar, sugero que você e outros que se interessarem por esta questão política na sua comunidade participem dos conselhos municipais e reuniões de associações (de bairro, de redes de afinidades etc). Leia e informe-se sobre as leis e suas aplicações. Saiba o que está em projeto para se tornar lei no legislativo e executivo. Interesse-se pelo movimento de transparência financeira da sua cidade e corra atrás das prestações de conta do município e de seus líderes no executivo, legislativo e judiciário. Envolva-se com a política na sua cidade – não com a politicagem. Esforce-se por conhecer e fazer conhecido os candidatos que se pautam pela justiça, ética e cidadania – cobre destes um projeto coerente sugira pontos que acha importante para que ele apresente em suas idéias políticas e mais tarde cobre dele, caso seja eleito, ser fiel ao que disse. Eleja bem os seus governantes, saiba deles, o que pensam, como vivem, o que propõem, como resolvem suas questões pessoais, como tratam com o dinheiro, com o casamento, com os filhos, com os bens, cobre deles no mandato, conversando, escrevendo, perguntando e se possível debatendo idéias e por fim, envolvam-se em projetos sociais que procurem o bem da comunidade assim você participará do poder político que governa sua cidade e será um agente de transformação para ela.

Que Deus nos abençoe na jornada para uma cidade transformada pelo poder do Espírito Santo que reside em nós!

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