Alex Dias Ribeiro fala sobre o amigo Ayrton Senna

– Elvis Presley está contigo Senhor? Foi a primeira pergunta que um cara fez para Deus ao chegar no céu. Essa cena de uma comédia resume a dúvida de muita gente.

É que Elvis cantava hinos e falava de Deus, mas levou uma vida tão barra pesada que acabou morrendo em consequência disso.

Ayrton também gostava de muito de falar de Deus, mas sua agressividade nas pistas, seu ódio pelos adversários e seu amor por muitas mulheres, também deixou muita gente questionando se ele foi bom o suficiente para merecer o céu.

Quem primeiro me falou de sua conversão foi a Neusa Itioka. Ela estava feliz por tê-lo levado ao encontro de Cristo e preocupada com o que fazer daí em diante.

– Não conte isso para ninguém! Foi a primeira coisa que eu disse para Neusa e para o Ayrton.

Uma personalidade pública tão conhecida como ele tinha que ser protegida para não acontecer com ele o que aconteceu com Bob Dylan, Mike Tyson, Carl Lewis e outras celebridades que tiveram suas vidas espirituais arruinadas por cristãos muito mais interessados na fama do que no cuidado com o recém-nascido na fé.

Nossos primeiros encontros foram na pista de atletismo da Cidade Universitária de S. Paulo. Lá, eu fazia das tripas coração para acompanhar o super atleta e, depois de corrermos um bocado, sentávamos para estudar a Biblia. Ayrton queria saber tudo, aprendia rápido e dava sempre um chá de Biblia no Nuno Cobra, seu treinador.

Uma vez ele desembarcou em Guarulhos falando de Deus e soltando os cachorros em cima do Alain Prost na TV. Quando lhe apresentei a ordem de Jesus para amarmos os nossos inimigos, ele engoliu, mas não gostou.

Ao ter um de seus títulos mundiais garfado descaradamente por J.M. Balestre, o então presidente da FIA, Ayrton botou a boca no trombone e acabou suspenso por desacato à autoridade máxima do automobilismo mundial. Mas como a ausência de Ayrton na Fórmula 1 jogaria a opinião pública mundial contra Balestre, o vilão lhe ofereceu a chance de ser perdoado caso ele se retratasse publicamente. Ayrton disse não. Nesse caso Balestre teria que lhe cassar a carteira de piloto.

Na noite anterior ao último dia do prazo estipulado para o pedido de perdão, o Nuno Cobra me ligou pedindo que eu conversasse com o Ayrton, que continuava irredutível.

Eu o aconselhei a pedir perdão e ele me perguntou irado:

– Mas onde é que fica a minha dignidade?

– Onde ficou a dignidade de Jesus Cristo quando o pregaram naquela cruz? respondi.

– Mas eu não sou Cristo, pô!

– Mas Cristo nos disse que devemos ser seus imitadores.

No fim de muita conversa Ayrton acabou concordando e voltando atrás em sua decisão. Mas as minhas admoestações fizeram com que ele acabasse nas mãos dos irmãos que só lhe diziam o que ele gostava de ouvir. Eles oravam muito para que ele ganhasse todas as corridas, mas não tinham respostas para o seu drama existencial. Isso ficou patente na constante ausência de um sorriso em seu semblante quase sempre triste e carregado; apesar das inúmeras vitórias.

– Ayrton Senna é morto – anunciou para o mundo em tom grave e solene, a porta-voz oficial do Hospital de Bolonha em 1º de Maio de 1994. Para mim, foi um choque do qual não me recuperei até hoje. Ayrton era tão rápido, tão vencedor, tão super herói e tão forte ao volante, que acabamos acreditando que ele era imortal também.

A melhor coisa que Ayrton fez em vida foi aceitar a Cristo como seu Salvador. Sua decisão por Cristo foi uma coisa muito séria. Ele era muito temente a Deus e não se envergonhava de assumir isso publicamente.

“Nada nos separa do amor de Deus” está escrito em seu túmulo. Embora sua conduta deixasse a desejar segundo o padrão de comportamento cristão, a Biblia nos ensina que somos salvos pela graça e não pelas obras. E como a graça de Deus é muito maior do que aquilo que nós podemos crer ou imaginar, não vou me supreender nem um pouco se depois das boas vindas ao céu, eu ouvir a noticia:

– Ayrton Senna é vivo!

Alex Dias Riberito
Diretor-executivo de Atletas de Cristo

Fonte: Elnet