O mal na economia

Teologia para entendimento e prática de uma evangelização integral, contextual e transformadora (5)

O mal na economia – comprometidos com uma teologia da mordomia cristã

Leia também:

  1. Introdução

  2. O mal na poítica
  3. O mal na cultura social

  4. O mal na religiosidade

Nossa época, marcada por pontos de resignificação para uma pós-modernidade (há quem prefira falar em hipermodernidade justamente porque convivemos juntos – modernidade e um ‘além da modernidade’ ou mesmo uma alteração da modernidade em vários pontos criando uma ‘mescla’ cultural densa e difícil de ser analisada) não seria diferente em relação à economia.

A transitoriedade da relação com a economia é vista bastante na função descartável que assumem (ou fazem assumir!) os bens, as coisas, as pessoas e as idéias. Tudo está aí para ser usado e descartado quando não mais útil ou já obsoleto, ultrapassado. Esta efemeridade é característica de nossa época e exige de cada um de nós uma adaptação pesada nestes contextos, pois essa flexibilização gera de um lado instabilidade dos produtos e marcas bem como dos relacionamentos e do outro um desgaste por ‘manter-se atualizado’.

Isso é muito bem retratado em dois exemplos clássicos: nem bem um carro novo é lançado pela mídia ao andarmos pelas ruas já vemos dezenas de pessoas que ‘consumiram’ a idéia e já compraram seu carro num modelo novo, descartando o outro ou acumulando mais bens e também quando falamos de informática: quase sempre tudo, além de descartável e facilmente ‘envelhecido’ é extremamente forte o impacto financeiro que as mudanças contínuas e rápidas processam em nossa economia – a idéia de ‘updates’ e ‘ugrades’ nos relega uma sensação de que se tudo não estiver atualizado na ‘última versão’ estaremos aquém dos outros e seremos ultrapassados, viveremos como relíquias ou objetos de uma época dos ‘dinossauros’.

Dinheiro e materialismo, exploração, trabalho injusto, ganância, usura, trabalho infantil, consumismo excessivo, massificação da pobreza e tantos outros fatores são drasticamente o retrato da sociedade atual, onde um abismo se abre entre as classes sociais justamente por causa destas mudanças efetuadas e auto infligidas em nossa economia e sociedade. Não que tudo isso não estava aí sempre – estava! Mas a eficiência e a rapidez da informação tornam mais pesada a carga e transmite conceitos de descartabilidade para com coisas, produtos, pessoas e ideias.

O que queremos saber constantemente é se a eficiente e a eficácia podem ser provadas através do uso de novas tecnologias, novos produtos, produtos mais caros, menos duráveis e geradores de necessidades de novos produtos e idéias para manter a utilização desse novo bem coerente e em ordem.

O dinheiro, a própria Bíblia adverte, não tem mal em si, mas o amor por ele trará males que mascara a prosperidade com a capa da elegância e da bênção. O dinheiro gira a produção e a produção move o mundo como o conhecemos e este mover é um trator que nivela e estraçalha a vida, transformando uma paisagem ondulada, cheia de entradas e saídas numa grande avenida asfaltada, sem vida, sem esperança. As formas de opressão, de maus tratos e de renovadamente inventar maneiras de roubo, desvio e corrupção tem sido grandes marcas do mal que está por trás destas estruturas, gerando incertezas, modificando a esperança em alienação e tirando a cor da própria vida.

Analisando mais profundamente parece que a atividade puramente lucrativa, a cadeia de produção e a competitividade do mercado justificam o grande crescimento do nível de pobreza mundial, pois quem é pobre precisa se adaptar e conviver num mundo não criado para eles, mas para quem tem posses onde a expressão máxima é que ‘dinheiro chama dinheiro’.

Nossa ética parece estar sendo substituída pela valoração estética, onde a aparência do que se é torna-se mais importante do que o que de fato se é.

Essa cultura econômica massificante e danosa cria os seus lodos e gera doença, mal estar, estresse e uma desigualdade nunca vista antes em nossa história.

Todo este mal que permeia a estrutura da economia micro ou macro é por demais desafiadora e quase sempre amedrontadora. Quase sempre, nós como Igreja, tendemos a nos ‘amoldar’ ao mercado e entender que o que está estabelecido não pode ou não deve ser modificado, pois assim a estrutura se mantém. Manter este ‘status’ estrutural é manter o maligno como solução para o ser humano de hoje.

As estratégias do mal nos mantém aprisionados às altas taxas, cobranças de impostos devidos e por vezes mal administrados, desperdício, corrupção, consumismo exarcebado, obsoletização dos bens de consumo e até de pessoas que se tornam descartáveis.

Nosso desafio como Igreja é grande, porém não precisamos querer mudar o mundo – basta vivemos na justiça dentro de nossos limites ‘territoriais’ e assim influenciarmos outros a viveram os padrões cristãos de justiça e economia – mudaremos a nós mesmos e assim seremos a semente de mostarda ou aquele pouco de fermento. Assim Deus será glorificado em nossa ação prática de diaconia diante de uma economia castradora e frustramente niveladora.

Que Deus nos abençoe para que vivamos não segundo a prosperidade dos bens, mas sim para que a prosperidade e o bem caminhem de mãos dados e sejamos instrumentos do Senhor na aplicação e influência da justiça e direito.

Leia agora a Parte 6