O mal na ecologia

Teologia para entendimento e prática de uma evangelização integral, contextual e transformadora (8)

O mal na ecologia – comprometidos com uma teologia prática da redenção da criação

Leia também

  1. Introdução

  2. O mal na poítica
  3. O mal na cultura social

  4. O mal na religiosidade

  5. O mal na economia

  6. O mal na mídia

  7. O mal na educação

Historicamente cristãos têm uma tendência teológica que coloca tudo aquilo que não é ‘alma’ do ser humano como objeto de ser queimado pelo ‘fogo’ e ser destruído; talvez, por isso, tenhamos uma atitude tão grosseiramente errada a respeito da criação e da necessidade de preservação do meio ambiente ou mesmo de ações em prol do nosso ecossistema. Catástrofes, desastres naturais, terremotos, maremotos, chuvas torrenciais, inundações, vulcões são vistos como ‘pragas’ de Deus ante o pecado da humanidade, um Deus vingativo que castiga a sua criação e espera que com isso estejamos ‘alertas’ para o seu movimento na salvação das almas retirando-as do ‘mundo maligno’.

Quando Paulo argumenta sobre isso, sobre a criação, ele relata o que teologicamente pensa estar acontecendo – veja o que ele diz para os cristãos de Roma:

      A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à futilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto (Romanos 8:19-22 – NVI).

A natureza esta aguardando sua redenção, assim como nós, participantes da graça de Deus também aguardamos o dia em que Cristo virá nos buscar. O texto de Paulo deixa muito claro que há uma ‘grande expectativa’ (em ARA ‘ ardente expectativa’ – o sentido da palavra no grego do NT – apokaradokia – é de uma ‘cabeça’ que vigia intensamente, que espera intensamente o dia esperado).

A paráfrase da Bíblia Viva nos dá uma idéia muito boa do texto:

      Toda a criação espera com paciência e esperança por aquele dia futuro quando Deus ressuscitará os seus filhos. Isto porque naquele dia todos os espinhos e ervas daninhas, todo o pecado, morte e Corrupção – as coisas que por ordem de Deus dominaram o mundo contra a própria vontade do mundo – tudo desaparecerá, e o mundo ao nosso redor participará da gloriosa liberdade do pecado que os filhos de Deus desfrutam. Sabemos que até mesmo as coisas da natureza, como os animais e as plantas, sofrem na doença e na morte enquanto esperam esse tão grande acontecimento (Romanos 8:19-22 – Bíblia Viva).

A Bíblia na Linguagem de Hoje diz no versículo 22 de Romanos 8: Um dia o próprio Universo ficará livre do poder destruidor que o mantém escravo e tomará parte na gloriosa liberdade dos filhos de Deus.

Interessante notar que Paulo enfatiza tremendamente que do mesmo jeito que nós os que temos o Espírito de Cristo aguardamos esta ‘redenção final’ o restante da criação também o faz com ‘ardente expectativa’ (E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo – Romanos 8:23 – ARA).

Tudo o que Deus criou foi analisado pelo próprio Senhor e obteve nota máxima em todos os conceitos: ‘Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom’ (Gênesis 1:31). Não há nada de intrinsecamente mau na natureza, na criação, no universo, mas o pecado é que leva a criação ao seu estado atual e a redenção que ela aguarda deverá resolver este problema – lemos em Apocalipse que João, em visão, enxerga esta redenção já concretizada – ‘Vi novo céu e nova terra’ (Apocalipse 22:1).

Falar que devemos preservar a terra por causa da preservação da raça humana é reducionismo teológico – devemos fazê-lo sim, pois há uma interdependência entre seres humanos e a criação como um todo, mas devemos fazê-lo em primeiro lugar para que Deus seja glorificado – este é nosso propósito e também o é da criação. A interdependência e a preservação de ambos é um motivo válido, mas menor.

Ao escrever para a Revista Ultimato Timóteo Carriker estabelece bem esse ponto ao dizer que

      Deus se alegra e cuida da criação “independentemente” da sua importância para osseres humanos (Jó 3:33-41; Sl 104.10)! Uma preocupação pelo meio ambiente por causa do bem-estar futuro da humanidade não é a razão suficiente, e sim, aquém da perspectiva bíblica que procura na ecologia não apenas a sobrevivência da humanidade, mas o louvor e a glória devidos a Deus (2005, p.1).

E também argumenta que

      O ser humano faz parte da criação e é dependente dela. O ser humano vive dentro de um contexto de interdependência com a criação. Desde o início, nossa sorte está ligada ao solo, e por sua vez, a sorte do solo está ligada a nós. Podemos provocar a melhor ou a pior sorte. Embora Deus coloque o homem no Jardim para cultivá-lo (Gn 2:15), ele promete um amplo galardão. Toda planta comestível lhe é dada (129-30; 2:16) (2005, p.1).

Assim o mandamento do Senhor para com os seres humanos é mais abrangente que a simples utilização – se há (e a Bíblia declara que sim!) interdependência tem a ver como cuidado, não somente o usufruto desse meio em que vivemos. Em Gênesis 2:17 vemos o que está relatado: O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo (NVI).

Quando falamos então de uma teologia prática da ‘redenção’ da criação queremos nos identificar com a teologia de Paulo, onde ele declara que a ‘criação aguarda com grande expectativa a manifestação dos filhos de Deus’ (Romanos 8:19) e assim instar a igreja que se envolva não somente com a preservação do meio ambiente, mas que auxilie na transformação da sociedade em que está inserida fermentando-a para estabelecer mudanças permanentes e que tragam louvor e glória ao Senhor também por meio desta manifestação que a criação tanto aguarda.

Não creio numa utopia, mas sei que podemos fazer muito. Algumas vezes, mudanças climáticas, poluição das águas dos oceanos, mananciais e rios, transformação de regiões inteiras em deserto, desmatamento etc, parecem estar muito distante de nosso pode modificar este status, mas creio que algumas boas práticas podem e farão diferença na vida como um todo e, mais que resolver o problema em si, estaremos nos envolvendo naquilo que Deus deixou confiado a nós – aliás, a todos os seres humanos, mas principalmente naqueles em quem a imagem e semelhança do Criador têm sido restauradas em Cristo.

Existem pelo menos cinco bons hábitos (intitulados como Cinco R´s – texto extraído do Manual de Atividades para o Professor da Coleção Consumo Sustentável em Ação. Uma iniciativa do Instituto 5 Elementos) que todos podem desenvolver, o que já seria um grande começo para esta atitude diaconal para com a natureza, o meio ambiente, a criação e são eles:

Repensar os hábitos de consumo e descarte

Pense na real necessidade da compra daquele produto, antes de comprá-lo. Depois de consumi-lo, pratique a coleta seletiva, separando embalagens, matéria orgânica e óleo de cozinha usado. Jogue no lixo apenas o que não for reutilizável ou reciclável. Evite o desperdício de alimentos. Use produtos de limpeza biodegradáveis. Adquira produtos recicláveis ou produzidos com matéria-prima reciclada (durável e resistente). Prefira embalagens de papel e papelão. Utilize lâmpadas econômicas e pilhas recarregáveis ou alcalinas. Mude seus hábitos de consumo e descarte.

Recusar produtos que prejudicam o meio ambiente e a saúde

Compre apenas produtos que não agridem o meio ambiente e a saúde. Fique atento ao prazo de validade e nas empresas que têm compromissos com a ecologia. Evite o excesso de sacos plásticos e embalagens. Tenha sempre uma sacola de pano para transportar suas compras. Evite comprar aerossóis e lâmpadas fluorescentes, bem como produtos e embalagens não recicláveis e descartáveis. Radicalize!

Reduzir o consumo desnecessário

Esta prática significa consumir menos produtos, dando preferência aos que tenham maior durabilidade e, portanto, ofereçam menor potencial de geração de resíduos e de desperdício de água, energia e recursos naturais. Adote a prática do refil. Escolha produtos com menos embalagens ou embalagens econômicas, priorizando as retornáveis. Leve sua sacola para as compras e adquira produtos a granel. Faça bijuterias, brinquedos e presentes personalizados reutilizando materiais. Invente novas receitas e reaproveite de forma integral os alimentos. Alugue equipamentos. Edite textos na tela do computador e, quando não for possível evitar a cópia ou a impressão, faça-as frente e verso. Diga não ao consumismo: sua prosperidade agradece.

Reutilizar e recuperar ao máximo antes de descartar

Amplie a vida útil dos produtos e do aterro sanitário, economizando a extração de matérias-primas virgens. Crie produtos artesanais e alternativos a partir da reutilização de embalagens de papel, vidro, plástico, metal, isopor e CDs. Utilize os dois lados do papel e monte blocos de papel-rascunho. Ofereça vários tipos de oficinas de sucata. Doe objetos que possam servir a outras pessoas.

Reciclar materiais

O processo de reciclagem reduz a pressão sobre os recursos naturais, economiza água, energia, gera trabalho e renda para milhares de pessoas. Seja no mercado formal ou informal de trabalho. Exercite os quatro primeiros Rs e, o que restar, separe para a coleta seletiva das embalagens de vidros, plásticos, metais, papéis, longa vida, isopor, óleo de cozinha usado, cartuchos de impressoras, pilhas, baterias, CDs, DVDs, radiografias e alimentos. A reciclagem promove benefícios ambientais, sociais e econômicos.

Às vezes temos a impressão que nada disso passa pela nossa espiritualidade e que exercícios espirituais que tem a ver com Deus devem ser feitos em algo relacionado aos ‘cultos’ que prestamos nas igrejas, mas Paulo também nos instrui através da carta que escreve para a igreja em Corinto o seguinte: ‘Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus’ (1 Coríntios 10:31 – NVI).

Que Deus nos faça desejar a prosperidade do bem, do cuidado, do amor para com o que Deus criou e não somente pensemos em termos utilitários.

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