Música gospel brasileira: a nova bossa nova?

The Guardian usou como gancho o Festival das Promessas, transmitido pela Globo, para investigar o mercado da música evangélica. Imagem: iStockphoto

No país do samba, da bossa nova e agora de um funk (medíocre) há espaço para a música gospel. É isso que narra aos seus leitores o jornalista Tom Phillips, do diário britânico The Guardian.

Phillips, cujo artigo publicado na terça-feira 27 é intitulado Gospel starts to strike a chord in Brazil the home of bossa nova, usou como gancho o fato de o Festival Promessas, no Aterro do Flamengo, ter sido transmitido pela Globo dia 18 de dezembro. E isso as vésperas do Natal.

Foi, disse o jornalista do Guardian, o primeiro festival evangélico transmitido pela Globo.

Resumiu ao diário britânico Regis Danese, corretamente introduzido como “um dos maiores cantores da música gospel no Brasil”: “Este é um dia histórico para a música gospel brasileira”. Deus, segundo Danese, merece ser agradecido pelo festival ao qual compareceram 20 mil pessoas – e milhões puderam assisti-lo em seus televisores.

Phillips conta que o mercado da música gospel brasileira vale 1,5 bilhão de reais. Mais: “60 milhões de brasileiros estariam direta ou indiretamente ligados à Igreja Evangélica”. Palavras ao Guardian do deputado federal Arolde de Oliveira. Oliveira é também proprietário do Grupo MK Music, que ele alega ser o maior selo de música gospel na América Latina.

Ainda existe “preconceito” contra a música gospel, concede Oliveira. Mas com a chegada de selos musicais como a Sony, a música gospel adentra cada vez mais o mercado secular. A música gospel é lucrativa, escreve Phillips, também porque evangélicos são contra a pirataria de CDs e DVDs. E jamais baixam músicas ilegalmente na internet.

A Globo entrou nesse mercado evangélico, parece óbvio, porque ele é lucrativo. No entanto, Luiz Gleizer, diretor da Globo TV, disse para o jornalista Phillips que a rede de tevê só quis “documentar um festival de música gospel” porque ela tem importância crescente na “vida cultural” do País.

Gleizer advertiu, porém, que a Globo não é um canal de tevê católico, e sim secular e republicano. O que Gleizer entende por “republicano” é uma incógnita. E atrás de altos índices de audiência promoveu, bem ou mal, um evento evangélico. Nada disso surpreende. O grupo da família Marinho é dono da gravadora Som Livre, e do seu catálogo gospel constam cantores populares como o Padre Fábio de Melo.

Essas questões globais, contudo, não são abordadas pelo Guardian. O foco do artigo, afinal, era somente a música gospel na terra onde nasceu a bossa nova…

Nesse contexto, o jornal britânico estava mais interessado em retratar os novos cantores que carregam guitarras, tamborins e Bíblias. Entre eles, Regis Danese é a fonte principal do artigo. Seu álbum Compromisso, explica o jornalista Phillips, vendeu mais de 1 milhão de cópias. Em 2009, Danese foi indicado ao Grammy Latino. O jornalista conta, ainda, como após sua performance no Festival Promessas Danese foi “bombardeado” por perguntas de repórteres.

“O senhor escutou a voz de Deus?” “O que ele disse?”

Ao cabo de cada resposta de Danese o repórter da revista Nova Jerusalém dizia: “Amem. Louvado seja o Senhor”