Luiz Soares

Prezados irmãos e amigos, como podem imaginar, é uma tarefa dificílima para mim usar este mesmo teclado, até recentemente acionado por uma mente tão brilhante e rara, para em meio a muitas lágrimas e dor, agradecer de coração sincero a bondade e cuidado com que os irmãos do mundo todo têm demonstrado, numa expressão abundante da graça de Deus.

Agradecemos sinceramente a este Boletim, que mais uma vez prestou um serviço muito importante, facilitando sobremodo a divulgação da notícia. Também agradecemos a todos os muitos irmãos que compareceram ao Parque da Ressurreição, prestando-nos apoio de valor indizível nesta hora tão difícil. Compreendemos perfeitamente as dificuldades de muitos que gostariam de vir, mas foram impedidos por diversos motivos.

Nossa irmã mais nova, a Mara, acaba de chegar da Alemanha. Foi uma experiência muitíssimo dura para ela, que lá mora sozinha, receber no meio da madrugada nossos telefonemas relatando a situação do papai e ter que providenciar às pressas sua vinda ao Brasil. Mas Deus deu-lhe a graça necessária e aqui já se encontra. Viramos juntos esta página e agora precisamos de sabedoria para virar as próximas.

Voltamos há pouco de semear esta preciosa vida. Claro que o fizemos com imenso pesar, mas não há dúvida de que Deus foi glorificado, tanto pela vida tão plena de realizações para Deus, como na morte. É possível que minha mãe venha a se manifestar dentro em breve, mas quero dar meu depoimento como filho de alguém tão especial.

Jogo aberto, sinceridade, vida que correspondeu intensamente à sua pregação. Alguém disse durante o funeral (com toda razão) que você podia discordar do meu pai, mas sabia exatamente o que ele pensava. Concordo plenamente. Sem querer sugerir uma perfeição absoluta, a qual só encontramos em nosso amado Salvador, posso testemunhar que nunca vi meu pai fazer algo diferente do que pregava, fosse na área do caráter, dos relacionamentos ou da doutrina. Sempre admirei essa virtude, numa época em que alguns ensinadores preferem “dançar conforme a música”. Foram citadas muitas qualidades e talentos de meu pai, reconhecidamente raros. Um homem capaz de aprender praticamente sozinho quase 10 idiomas e que sem ter freqüentado uma faculdade arrebatava freqüentemente elogios de gente culta e estudada tem, sem sombra de dúvida, uma inteligência acima da média.

Mas isso nunca foi, pelo menos para mim, o que mais me impressionou em meu pai. Para mim, a marca que fica é a de um pai carinhoso e atento, que parava seu trabalho para rolar comigo no quintal ou que se dispunha a varar noites conversando com um adolescente meio “duro-na-queda” que fui. Um dia, meu pai foi a um Encontro Missionário da IDE com a mão engessada. Só eu e ele sabíamos o motivo: ele machucou a mão jogando bola comigo na sala de casa (para espanto da minha mãe, obviamente!). Detalhe: eu já não era mais um menino de calças curtas, nem um adolescente quando isso aconteceu, mas um homem casado! O meu herói da infância passou a ser a minha referência de adulto. Disse-lhe isso muitas vezes: “Posso discordar do senhor, mas sou obrigado a respeitá-lo. O senhor vive o que prega”. Ele me ensinou a pensar, e algumas vezes isso nos levou a pensar de maneira diferente. Não em essência, mas em estilo, fomos diferentes. Mas sempre tivemos o mesmo objetivo, o qual ele, juntamente com nossa mãe, inculcou-nos desde nossa infância: servir ao Mestre. Mais de uma vez, em nossas longas conversas neste escritório, ele me disse: “Não me importo que você seja um homem rico, nem famoso, nem cheio de diplomas. Mas quero que você se transforme em um homem de Deus”. Foi um pai perfeito? Talvez não. Mas se eu conseguir fazer com minhas filhas o que ele fez comigo, poderei ser chamado um dia de um excelente pai. Já sinto muita falta do seu humor refinado, do tipo que não perde a oportunidade para uma boa piada. Era muito raro, se um dia isso aconteceu, vê-lo de mau humor. Sim, havia coisas que o tiravam do sério, mas esta não era a regra.

Pai dedicado, avô, nem se fala! Era admirável vê-lo fazendo com minhas filhas o mesmo que fizera conosco. Literalmente, elas deitavam e rolavam com ele. Tinha para cada um dos netos uma brincadeira preferida, uma rima, uma música. Inventava, ensinava, cantava com eles e a gente se divertia só de ouvir as risadas dele com os netos a tentar imitá-lo.

Tive um grande pai. Alguém que me preparou para que, em um momento como este, ao invés de questionar os intentos e desígnios de Deus, lembrasse-me de uma frase que ele tinha e que usava muito quando falava sobre o custo de seguir a Cristo: “Deus nos guia pelos caminhos do sofrimento”.

Peço a Deus e a todos que não me apontem como seu “substituto natural”. Seria demais para mim. Gostaria muito de poder ser Luiz Soares, mas Deus me chamou para ser “Marcos Senghi Soares”. É nisso que realizarei o propósito de Deus. De Luiz Soares, além da influência já mencionada, quero herdar o exemplo e o desafio de viver uma vida que glorifique o nome do Senhor.

A Ele seja a glória e o poder para sempre!

Este texto foi escrito no dia 04 de março, dia do sepultamento de Luiz Soares, e publicado no Boletim dos Obreiros. Outros tributos podem ser lidos em www.obreiros.net.

Pensando bem:

Do you know the guy above? He is not a famous man, But his heart is full of love Warm and spreading like the sun. Loves Who saved him at high cost, Loves his wife and children too He loves those who still are lost And the friends so sweet like you. Luiz Soares, June 6th 2001 Este desenho foi feito durante estudo bíblico em Conceição de Carangola, em 15 de janeiro de 1993, pelo irmão Adir e divulgado pelo próprio Luiz Soares na Internet em 06 de junho de 2001, junto com poesia dele mesmo.