O dom da tristeza

Céu: a maior expectativa de Deus

Finalmente, o momento! Você pode imaginá-lo?

Céu! Estamos prestes a entrar em Sua presença!

Não merecemos isso. Não somos dignos disso.

Podemos até surpreender os anjos.

Os anjos compõem a música. A música não se parece com nenhuma que já temos ouvido. De repente, silêncio. Agora, luz – cegante luz – enquanto o Maestro entra no cenário.

Logo, andaremos com Ele, conversaremos com Ele e adoraremos enquanto Ele conduz.

Logo Deus, o Autor da Vida e Autor da Esperança, falará nosso nome – um nome tão misterioso e cheio de promessa que só Ele sabe. É nosso nome – um novo nome – um nome totalmente só nosso para ser somente nosso para todos os dias que passarmos no Céu.

… nossa maior expectativa.

É o final da jornada.

É o começo da vida eterna.

É o momento que você não quer perder.

O dom da tristeza

Vive ali, dentro de você, no profundo do seu ser, um pequeno bem-te-vi. Ouça. Você o ouvirá cantar. Sua cantiga lamenta o anoitecer. Seu solo sinaliza a alvorada.

É a canção do bem-te-vi.

Ele não ficará em silêncio até que o sol seja visto.

Esquecemos que ele está ali, é tão fácil ignorá-lo. Outros animais da alma são maiores, mais barulhentos, exigem mais, são mais imponentes. Mas nenhum é tão constante.

Outras criaturas da alma são mais rapidamente alimentadas. Mais facilmente satisfeitas. Nós alimentamos o leão que ruge por poder. Nós acariciamos o tigre que precisa de afeto. Colocamos rédeas no garanhão que resiste ao controle.

Mas o que fazemos com o bem-te-vi que anseia pela eternidade?

Pois esta é a canção. Essa é a tarefa. Fora do cinza ele canta uma canção dourada. Empoleirado no tempo, ele gorjeia um verso atemporal. Piando através do abrigo da dor, ele vê um lugar indolor. Desse lugar ele canta.

E apesar de tentarmos ignorá-lo, não o podemos. Ele é nós, e sua canção é nossa. A canção do nosso coração não será silenciada até vermos a alvorada.

“Pôs na mente do homem a idéia da eternidade” (Eclesiastes 3:11), disse o homem sábio. Mas não é necessário uma pessoa sábia para saber que a humanidade anseia por mais do que a Terra. Quando vemos dor, sentimos pena. Quando vemos fome, perguntamos por quê. Mortes sem sentido. Lágrimas sem fim, perda desnecessária. De onde elas vêm? Para onde conduzirão?

Não há mais para vida do que para morte?

E assim canta o bem-te-vi.

Tentamos calar essa voz pequena e terrível. Como um pai silenciando uma criança, colocamos um dedo em lábios encolhidos e requeremos silêncio. Agora estou muito ocupado para conversar. Estou muito ocupado para pensar. Estou muito ocupado para questionar.

E então nos ocupamos com a incumbência de estarmos ocupados.

Mas ocasionalmente ouvimos sua canção. E ocasionalmente deixamos a canção sussurrar para nós que há algo mais. Deve haver algo mais.

E enquanto ouvirmos a música, seremos confortados. Enquanto estivermos tristes, procuraremos. Enquanto soubermos que há um país longe daqui, teremos esperança.

O único desastre definitivo que pode nos acontecer, vim a perceber, é sentir que estamos em casa na Terra. Enquanto formos forasteiros, não podemos esquecer nossa verdadeira pátria.1

A tristeza na Terra desenvolve uma fome pelo céu. Favorecendo-nos com uma profunda insatisfação, Deus possui nossa atenção. A única tragédia, então, é estar satisfeito prematuramente. Contentar-se com a Terra. Estar feliz em uma terra estranha. Ligar-se por casamento com os babilônios e esquecer Jerusalém.

Não estamos alegres aqui porque não estamos em casa aqui. Não estamos alegres aqui porque não é para nós sermos felizes aqui. Somos “como peregrinos e forasteiros” (1 Pedro 2:11).

Pegue um peixe e coloque-o na praia.2 Assista suas guelras ofegarem e suas escamas secarem. Ele está feliz? Não! Como você o deixa feliz? Você o cobre com uma montanha de dinheiro? Você pega para ele uma cadeira de praia ou óculos de sol? Você traz para ele uma revista Playfish e um martini? Você o vestiria com barbatanas trespassadas e sapatos sociais?

Claro que não. Então como você o faz feliz? Você coloca-o de volta em sua base. Você coloca-o de volta na água. Ele nunca será feliz na praia simplesmente porque ele não foi criado para a praia.

E você nunca será completamente feliz na Terra simplesmente porque você não foi criado para a Terra. Ah, você terá momentos de alegria. Você terá instantes alegres. Você conhecerá momentos ou até dias de paz. Mas eles simplesmente não se comparam com a felicidade que existe adiante.

Fez-nos para Ele e nossos corações ficam impacientes até que descansem nEle.3

Descanso nesta Terra é um descanso falso. Tome cuidado com aqueles que te induzem a encontrar a felicidade aqui; você não a encontrará. Previna-se do falso médico que promete que a felicidade está só por um regime, por um casamento, por um emprego, ou por uma transferência. O profeta denunciou pessoas assim, “Também se ocupam em curar superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz” (Jeremias 6:14).

E não estará tudo bem até chegarmos em casa.

Novamente, temos nossos momentos. O recém-nascido em nosso peito, a noiva em nosso braço, a luz do Sol atrás de nós. Mas mesmo esses momentos são simplesmente pedaços de luz penetrando a janela do céu. Deus diverte-se conosco. Ele nos castiga. Ele é romântico conosco. Esses momentos são aperitivos para o prato que está por vir.

“As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam” (1 Coríntios 2:9).

Que versículo de tirar o fôlego! Você enxerga o que ele diz? O céu está além de nossa imaginação. Não podemos imaginá-lo. Em nosso momento mais criativo, em nosso pensamento mais profundo, em nosso nível mais alto, ainda não podemos sondar a eternidade.

Tente isto. Imagine um mundo perfeito. “O que quer que isto signifique para você, imagine. Isto significa paz? Então imagine tranqüilidade absoluta. Um mundo perfeito envolve alegria? Então crie sua maior felicidade. Um mundo perfeito terá amor? Se sim, então determine um lugar onde o amor não tem fronteiras. O que quer que signifique céu para você, imagine-o. Tenha-o firmemente fixado em sua memória. Delicie-se nele. Sonhe com ele. Deseje-o muito.

E então sorria enquanto o Pai lembra-o, as coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.

Qualquer coisa que você imagine está inadequada. Qualquer coisa que alguém imagine está inadequada. Ninguém tem chegado perto. Ninguém. Pense em todas as músicas sobre o céu. Todas as pinturas de artistas.

Todas as lições pregadas, poemas escritos e capítulos esquematizados.

Quando se trata de descrever o céu, somos todos felizes fracassados.

Está além de nós.

Mas também está dentro de nós. A canção do bem-te-vi. Deixe-o cantar. Deixe-o cantar na escuridão. Deixe-o cantar ao amanhecer. Deixe sua música lembrá-lo que você não foi feito para este lugar e que há um lugar feito só para você.

Mas até lá, seja realista. Reduza suas expectativas na Terra. Isto não é o céu, então não espere que seja. Nunca haverá um noticiário sem más notícias. Nunca haverá uma igreja sem mexerico ou competição. Nunca haverá um carro novo, esposa nova ou bebê novo que possa dar-lhe a alegria que seu coração almeja. Somente Deus pode.

E Deus dará. Seja paciente. E escute. Escute a canção do bem-te-vi.

Notas

1 Augustine, Confessions i. i., como citado em Peter Kreeft, Heaven: The Hearts Deepest Longing (San Francisco: Editora Ignatius), 1989,49. A idéia para este texto sobre o bem-te-vi foi tirada da narração de Kreeft de “The Nightindale in the Heart,” 51-54.
2 Com reconhecimento a Landon Saunders por esta idéia.
3 Malcolm Muggeridge, Jesus Rediscovered (New York, Doubleday, 1979), 47-48 como citado em Peter Kreeft, Heaven, 63.

Guia de estudo

Pontos para refletir

“A tristeza na Terra desenvolve uma fome pelo céu. Favorecendo-nos com uma profunda insatisfação, Deus possui nossa atenção. A única tragédia, então, é estar satisfeito prematuramente. Contentar-se com a Terra. Estar feliz em uma terra estranha. Ligar-se por casamento com os babilônios e esquecer Jerusalém.”

  1. De que maneira a insatisfação pode ser considerada um exemplo de graça?
  2. O que significa “ligar-se por casamento com os babilônios e esquecer Jerusalém.”? Alguma vez você já foi tentado a fazer isto? Explique.

“E você nunca será completamente feliz na Terra simplesmente porque você não foi criado para a Terra. Ah, você terá momentos de alegria. Você terá instantes alegres. Você conhecerá momentos ou até dias de paz. Mas eles simplesmente não se comparam com a felicidade que existe adiante.”

  1. Por que o Max diz que não fomos criados para a Terra?
  2. Qual seria o problema de vir a ser completamente feliz na Terra?

“Reduza suas expectativas na Terra. Isto não é o céu, então não espere que seja. Nunca haverá um noticiário sem más notícias. Nunca haverá uma igreja sem mexerico ou competição. Nunca haverá um carro novo, esposa nova ou bebê novo que possa dar-lhe a alegria que seu coração almeja. Somente Deus pode.”

  1. De um modo prático, como podemos reduzir nossas expectativas na Terra?
  2. Dê alguns exemplos.

Sabedoria da Palavra

  • Leia Eclesiastes 3:11. O que significa dizer que “pôs na mente do homem a idéia da eternidade”? Como isto se manifesta?
  • Leia 1 Pedro 2:11. Como um “peregrino” ou um “forasteiro” vive diferentemente dos nativos? Como o pecador deseja a guerra contra a alma? De que maneira viver como um forasteiro ajuda nesta batalha?
  • Leia 1 Coríntios 2:9-10. Por que esta é, provavelmente, a melhor descrição do céu que podemos entender? Esta passagem lhe dá esperança? Explique.

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com