Questão para a margem do desfiladeiro

“Como foi a noite?” a enfermeira perguntou. Os olhos cansados do jovem responderam a pergunta antes que seus lábios pudessem responder. Foi longa e difícil como sempre são as vigílias. Mas mais ainda quando elas são com seu próprio pai.

“Ele não acordou.”

O filho sentou perto da cama e segurou a mão ossuda que tantas vezes segurou a dele. Ele estava receoso de soltá-la com medo de que, se fizesse isso, pudesse permitir que o homem que ele amava tão carinhosamente caísse. Ele a segurou a noite toda como se os dois estivessem em pé à margem do desfiladeiro, cientes do passo final para o qual faltavam apenas algumas horas.

Com palavras pintadas de um confuso preto, ele resumiu os medos que foram seus companheiros durante a escuridão. “Eu sei que isso deve acontecer,” o filho ansiava, olhando para o rosto pálido de seu pai, “Só não sei por quê.”

O desfiladeiro da morte.

É um desfiladeiro devastado. O solo seco é rachado e sem vida. Um sol causticante aquece o vento que geme estranhamente e provoca uma dor forte impiedosamente. As lágrimas caem e as palavras vêm lentamente quando os visitantes do desfiladeiro são forçados a olhar para dentro do barranco. O fundo da fenda é invisível, o outro lado é inalcançável. Você não pode fazer nada a não ser querer saber o que está escondido na escuridão. E você não pode fazer nada a não ser ansiar para sair.

Você já esteve ali? Você já foi chamado para ficar na linha tênue que separa a vida da morte? Você já ficou deitado à noite ouvindo máquinas bombeando ar para dentro e para fora de seus pulmões? Você já assistiu a doença corroer e atrofiar o corpo de um amigo? Você já se demorou atrás de um cemitério bem depois dos outros saírem, olhando fixamente com incredulidade para o caixão de metal que contém o corpo que continha a alma de alguém que você não acredita que se foi?

Se já, então este desfiladeiro é familiar para você. Você ouviu o assobio solitário dos ventos. Você ouviu as dolorosas perguntas Por quê? Para quê? ricochetearem sem resposta fora das paredes do desfiladeiro. E você chutou pedras soltas para fora da margem e esperou o som da queda, que nunca vem.

O jovem pai esmagou o cigarro no cinzeiro de plástico. Ele estava sozinho na sala de espera do hospital. Quanto tempo vai demorar? Tudo aconteceu tão rapidamente! Primeiro veio a notícia do hospital, depois a ida frenética para a sala de emergência e então a explicação da enfermeira. “Seu filho foi atropelado por um carro. Ele tem sérias feridas na cabeça. Ele está em cirurgia. Os médicos estão fazendo o melhor que podem.”

Outro cigarro. “Meu Deus.” As palavras do pai eram quase inaudíveis. “Ele só tem cinco anos.”

Estar à margem do desfiladeiro puxa tudo da vida para uma perspectiva. O que importa e o que não é facilmente distinguido. Sobre o muro do desfiladeiro ninguém se preocupa com salários ou posições. Ninguém pergunta sobre o carro que você dirige ou em que parte da cidade você mora. Enquanto os seres humanos ficam ao lado deste abismo eterno, todos os jogos e disfarces da vida parecem tristemente ridículos.

Aconteceu em um instante ardente.

“Onde está o pássaro?” um engenheiro espacial gritou no Cabo Canaveral.

“Oh, meu Deus” um professor chorou à vista dos que estavam por perto. “Não deixe acontecer o que eu acho que acabou de acontecer”.

Confusão e horror correram através da nação enquanto estávamos à margem do desfiladeiro vendo sete dos nossos melhores desintegrarem diante de nossos olhos quando a lançadeira explodiu em uma bola de fogo laranja e branca.

Mais uma vez fomos lembrados que mesmo com nosso enorme avanço tecnológico, ainda somos assustadoramente frágeis.

É possível que esteja dirigindo-me a uma pessoa que está andando no muro do desfiladeiro. Alguém que você ama ternamente foi chamado para o desconhecido e você está sozinho. Sozinho com seus medos e sozinho com suas dúvidas. Se este é o caso, por favor leia o resto deste artigo bem cuidadosamente. Olhe com cuidado para a cena descrita em João 11.

Nesta cena há duas pessoas: Marta e Jesus. E para todos os propósitos práticos, eles são as duas únicas pessoas no universo.

Suas palavras estavam cheias de desespero: “Se estivesse aqui…” Ela olha fixamente para o rosto do Mestre com olhos confusos. Ela tem sido forte tempo suficiente; agora dói muito. Lázaro estava morto. Seu irmão tinha ido. E o único homem que poderia ter feito diferença não fez. Ele nem havia ido ao enterro. Alguma coisa a respeito da morte nos faz acusar Deus de traição. “Se Deus estivesse aqui não haveria morte!” nós reclamamos.

Você vê, se Deus é Deus em qualquer lugar, Ele deve ser Deus em vista da morte. A psicologia pop pode lidar com a depressão. As conversas pop podem lidar com o pessimismo. A prosperidade pode lidar com a fome. Mas somente Deus pode lidar com nosso último dilema – a morte. E somente o Deus da Bíblia ousou ficar à margem do desfiladeiro e oferecer uma resposta. Ele deve ser Deus em vista da morte. Se não, Ele não é Deus em qualquer lugar.

Jesus não estava bravo com Marta. Talvez tenha sido Sua paciência que foi a causa da mudança do tom dela de frustração para seriedade. “Mesmo agora, tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá.”

Jesus então fez uma daquelas exigências que O coloca ou no trono ou no asilo: “Teu irmão há de ressurgir.”

Marta entendeu mal. (Quem não entenderia?) “Eu sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia.”

Não foi o que Jesus quis dizer. Não perca o contexto das próximas palavras. Imagine o cenário: Jesus intrometeu-se no gramado do inimigo; Ele está no Desfiladeiro da Morte de Satanás. Seu estômago vira enquanto sente o fedor sulfúrico do ex-anjo, e Ele estremece quando ouve os lamentos oprimidos daqueles trancados na prisão. Satanás esteve aqui. Ele violou uma das criações de Deus.

Com Seu pé colocado na cabeça da serpente, Jesus fala alto o suficiente para que Suas palavras ecoem para fora dos muros do desfiladeiro.

“Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá.” (João 11:25).

É um ponto que vira a história. Uma abertura foi encontrada na blindagem da morte. As chaves para as entradas do inferno foram reivindicadas. Os abutres dispersam e os escorpiões saem correndo quando a Vida confronta a morte – e vence! O vento pára. Uma nuvem bloqueia o sol e um pássaro pia à distância enquanto uma serpente humilhada desliza entre as pedras e desaparece no chão.

O palco foi montado para um confronto no Calvário.

Mas Jesus não terminou sua conversa com Marta. Com olhos imobilizados nos dela, Ele pergunta a maior questão encontrada nas Escrituras, uma questão que significou tanto para você e eu quanto para Marta.

“Crês isto?”

Uau! Aqui está. A última linha. A dimensão que separa Jesus de milhares de gurus e profetas que foram a pique. A questão que leva qualquer ouvinte responsável à absoluta obediência ou à total rejeição da fé Cristã.

“Crês isto?”

Deixe a pergunta cair dentro de seu coração por um minuto. Você acredita que um jovem itinerante sem dinheiro é maior que sua morte? Você realmente acredita que a morte nada mais é do que uma rampa de entrada para uma nova estrada?

“Crês isto?”

Jesus não apresentou esta pergunta como tópico para discussão em uma Escola Dominical. Nunca foi pretendido lidar com isso aquecendo-se na luz do sol de vidro pintado nem assentado em bancos acolchoados.

Não. Esta é a pergunta de um desfiladeiro. Uma pergunta que faz sentido somente durante uma noite inteira de vigília ou na calma de salas de espera cheias de fumaça. Uma pergunta que faz sentido quando todos os nossos trajes, escoras e muletas são levados embora. Então devemos encarar-nos como realmente somos: humanos sem orientação girando em volta de si mesmos em direção ao desastre. E somos forçados a vê-lo pelo que Ele requer ser: nossa única esperança.

Mais por desespero do que por inspiração, Marta disse sim. Enquanto ela estudava o rosto bronzeado do Carpinteiro galileu, alguma coisa lhe disse que ela provavelmente nunca tinha chegado tão perto da verdade como ela estava agora. Então ela deu para Ele sua mão e O deixou conduzi-la para fora do muro do desfiladeiro.

“Eu sou a ressurreição e a vida. Crês isto?”

Guia de estudo

Somente Deus pode lidar com nosso último dilema – a morte. E somente o Deus da Bíblia ousou ficar à margem do desfiladeiro e oferecer uma resposta. Ele deve ser Deus em vista da morte. Se não, Ele não é Deus em qualquer lugar.

  1. O que o Max quer dizer com “Ele deve ser Deus em vista da morte. Se não, Ele não é Deus em qualquer lugar.” Qual é a resposta que Deus oferece para a morte? Como Ele oferece a resposta?
  2. Leia 1 Coríntios 15:12-28 e re-escreva com suas próprias palavras o argumento de Paulo referente à morte e ressurreição.
  3. Como você responderia a alguém que questiona que Jesus foi ressuscitado dentre os mortos e que há vida depois da morte?

Você acredita que um jovem itinerante sem dinheiro é maior que sua morte? Você realmente acredita que a morte nada mais é do que uma rampa de entrada para uma nova estrada?

  1. O Max descreve a morte como uma rampa de entrada. Que outras comparações úteis você pode fazer para explicar como é a morte?
  2. Que idéias essas passagens dão sobre a conexão entre morte e vida: Lucas 20:34-38; João 11:25-26; Romanos 8:10-11?
  3. O que você diria a alguém encarando a morte que ajudaria essa pessoa a ver a solução de Deus?

    Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
    Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com