Sin City

Eis um filme sobre o qual é muito difícil falar. Ficamos indecisos se publicaríamos ou não uma crítica sobre ele, se seria ou não edificante tecer algum comentário. Não posso negar: eu fui assistir Sin City. E uma crítica como esta vai incomodar dois tipos de pessoas: os mais conservadores que vão concordar que eu não deveria ter gasto dinheiro para ver um filme como este, e os apreciadores da arte que vão me achar muito quadrado por não entender a verdadeira intenção dos realizadores do filme. Cheio de dedos, vou tentar abordar as duas temáticas.

Digamos que cinematograficamente é um filme impecável. Para quem aprecia a 7ª e a 9ª artes (cinema e quadrinhos, respectivamente), o filme é um prato cheio dada a ultrafidelidade à obra original de Frank Miller. Até os tradicionais storyboards foram substituídos pelos próprios quadrinhos de tão parecidas que as duas mídias ficaram. Com uma fotografia magnífica (quase toda em preto e branco, utilizando-se apenas de alguns detalhes coloridos como sangue, luzes, olhos e algumas vestes), atores estelares (como Bruce Willis, Benicio Del Toro, Clive Owen, Jessica Alba, Mickey Hurke e Elijah Wood) e um enredo bem conciso, a película é uma compilação de 3 histórias da série Sin City dos quadrinhos, quase completamente independentes umas da outras. As histórias são ambientadas em Basin City, cujo apelido é Sin City (Cidade do Pecado), e todo o enredo justifica muito bem o apelido.

É justamente por isso que não posso considerar o filme impecável. Além de apreciador de cinema, em primeiro lugar sou cristão, e não dá pra aceitar um filme como este apenas como arte. Isso pode soar bem puritano, mas a vida humana e o sexo não deveriam ser tão banalizados. O sarcasmo e o sadismo deveriam incomodar até o pessoal envolvido na história do mensalão. A vida é um dom de Deus, e por mais que tentem justificar os acontecimentos do filme dizendo que trata-se de cinema “noir” (estilo de filme popularizado na década 40, com conteúdo violento, erótico e cínico), que a intenção do diretor não era banalizar a vida mas divertir os espectadores, o descaso com a vida vai continuar a nos incomodar, por mais que isso tenha sido feito usando as mais refinadas técnicas de arte.

Por isso não posso recomendar um filme como este, mesmo porque poucas pessoas conseguiriam apreciar as verdadeiras intenções do diretor Robert Rodriguez sem ficar impressionadas com a grande dose de violência da “Cidade do Pecado”. Recomendo que guarde seu dinheiro para algo, digamos, menos constrangedor.