No corredor da minha memória tem uma fotografia. É uma imagem de duas pessoas – um homem e uma mulher na sétima década de vida. O homem está deitado em uma cama hospitalar na sala, não no quarto do hospital. Seu corpo, para todos os efeitos práticos, está inútil. Os músculos foram devastados pela ELA. E mesmo seu corpo estando ineficaz, seus olhos percorrem a sala procurando sua parceira, uma mulher cuja idade é disfarçada pelo seu vigor juvenil.
Ela voluntariamente segue cuidando do seu marido. Com lealdade inabalável ela faz o que vem fazendo nos últimos dois anos: o barbeia, dá banho nele, o alimenta, penteia seu cabelo e escova seus dentes. No dia em que enterramos meu pai, agradeci minha mãe por exemplificar o espírito servidor de Cristo: serviço silencioso.