Vamos pensar sobre a tentativa de relacionar fé e cultura, de fazer teologia pública. Colocar a cosmovisão cristã em diálogo com a “Arte”, os clássicos literários e o cinema transcendental é esperado. Mas o Evangelho tem algo a dizer sobre aqueles filmes “irrelevantes”, com roteiros fast-food e atuações não tão brilhantes? Com certeza!

A teologia culturalmente é a melhor defensora dos filmes irrelevantes, pois reconhece que toda produção cultural comunica algo. O que a cultura pop fala, alcança muita gente e mexe com os traços mais decisivos da identidade. Os filmes pra “ver sem pensar” fazem a gente pensar em muita coisa. Por exemplo, A Barraca do Beijo. A trilogia da Netflix entra na categoria (precipitada) de filmes inofensivos e desnecessários. Só que essa noção ignora um fortíssimo potencial das comédias românticas: são documentários acurados sobre o amor nos dias de hoje. Sim, as coisas da cultura pop dão os contornos às coisas mais básicas da experiência humana, como o amor.

O amor é responsável pelos altos investimentos na indústria do entretenimento, pelas grandes bilheterias e pela agitação pública nas mídias. Já notou quantos artefatos culturais com os quais você tem contato diário afirmam algo sobre o amor?! O apóstolo Paulo falou sobre amor; Agostinho, Jane Austen e Gabriel Garcia Marquez igualmente. Mas a Luisa Sonza e Friends também. As perguntas estão aqui! A questão é: de que amor estamos falando? Qual dos discursos captura mais assiduamente a imaginação das pessoas? E quais retratos de amor melhor atendem às demandas da experiência humana comum? Todo suposto amor que a gente “consome” é suficiente para o florescimento das relações?

O amor é um indicador fragmentado: o tipo de coisa que todo mundo sabe e sente que precisa, mas que sempre escapa. Desejo e frustração estão presentes no mais refinado e banalizado entretenimento. Será que nossa teologia – que estuda o Amor em pessoa – consegue dialogar com a densidade teológica de “A Barraca do Beijo”?