No dia 9 de fevereiro de 2020, o ator Joaquin Phoenix, conforme boa parte dos cinéfilos esperava, levou para casa a cobiçada estatueta do Oscar por ser eleito o melhor ator. Sinceramente, eu amei sua atuação em Coringa, bem como todo o filme; todavia, foi o seu discurso que me chamou a atenção. Costumo ter uma recepção negativa desses discursos vitoriosos; porém, a fala de Joaquin me fez pensar bastante e quero compartilhar alguns curtos insights sobre sua fala.

Não irei transcrever partes do discurso em si, para que este texto não fique muito grande. Os interessados na íntegra do discurso pode vê-lo neste link:

Uma perspectiva correta sobre o verdadeiro problema

Joaquin Phoenix, em sua fala (59”), expressou uma parcial consciência do verdadeiro mal que nos assola. Ao contrário de outros discursos reducionistas, onde o orador atribui a causa do mal no mundo à alguma coisa isolada, Phoenix declarou que o grande problema é o nosso próprio egoísmo. O ator ainda expressou que o nosso comportamento egocêntrico, utilitarista e dominador, inclinado a buscar prazer e satisfação a todo custo, é a real causa das injustiças que experimentamos.

Seu pensamento, biblicamente falando, está bastante correto. O pecado é uma declaração pública de autonomia. É a nossa tentativa de cuidarmos de nossa própria vida e criarmos a nossa própria felicidade e satisfação independentes de Deus. Como a nossa primeira e mais importante relação é com Deus, o pecado acaba sendo uma alienação, um rompimento doentio, que se manifesta também em nossos relacionamentos com o próximo e com a Criação divina. Desta forma, a nossa buscar em nos prover satisfação, uma vez que má direcionada, nos conduz invariavelmente a produzirmos em largas escalas todos os tipos de injustiças.

Joaquin Phoenix, portanto, foi muito certeiro ao dizer que o problema não é externo, mas interno e possui suas raízes em nossos corações.

Uma perspectiva correta sobre a solução

Joaquin comenta sobre o oposto dessa perspectiva (2’33″). Ele fala sobre o amor, a compaixão e as segundas chances. Inclusive, bastante emocionado, o ator agradece por ter sido alvo de tantas “segundas-chances”. É interessante como Joaquin não apenas aponta corretamente o real problema, como também o reconhece em si mesmo (3’03″).

Phoenix tem razão: jogamos fora a oportunidade que nos foi dada. Desejando salvar as nossas vidas, as perdemos. Nos separando de Deus, a fonte da Vida, nos tornamos mortos em nosso egoísmo. A solução, obrigatoriamente, precisa vir de um ato amoroso que nos garantir uma segunda oportunidade e a capacitação de aproveitá-la.

Este ato acontece em Cristo. Jesus, sendo Deus, encarnou como ser humano e, saindo da eternidade, entra em nosso tempo cronológico. Espontaneamente, Jesus se coloca, ainda que não seja, como devedor junto com toda a humanidade. Ao morrer, Cristo leva consigo as consequências de nossa rebelião; enquanto que, ao ressuscitar, Jesus nos garante uma nova vida, ou seja, uma nova oportunidade. Evidentemente, este é o ato de amor por si só. Segundo Cristo, não há amor maior que dar a vida pelo seu amigo.

Uma perspectiva correta sobre o efeito

Uma vez entendido qual é o real problema e a sua única solução, se percebendo como alvo desta solução, Joaquin Phoenix toma a única atitude possível e coerente com o contexto: compartilhar a mensagem e agir com gratidão (3’15″). Além de apontar o problema e a solução, em seu discurso, Joaquin agradece emocionado aos seus colegas por terem sido tão generosos com ele, o ajudando a superar as próprias correntes.

O mesmo ocorre com quem é alvo da graça salvadora divina. Uma vez regenerados e agraciados com a vida de Cristo, os discípulos de Jesus proclamam sua mensagem e vivem em gratidão a Deus por terem os resgatados. Conforme Bonhoeffer nos ensina, já que a graça despejada sobre nós custou tudo para Deus — a vida de seu único filho — , nós devemos viver valorizando essa graça. Fazemos isso vivendo com gratidão, amor e disciplina a vida de Cristo em nós.

Por fim…

Não estou, neste texto, defendendo a consciência profunda ou a conversão ao cristianismo de Joaquin Phoenix. Muito provavelmente, o ator acabou mirando em um conceito e acertando, sem intenção, em outro mais profundo. Entretanto, como é interessante ver a Graça Comum capacitando e conduzindo pessoas a terem relances da Verdade! Isso alimenta a minha fé e espero que tenha o mesmo efeito sobre você. Meu desejo é que a Graça Especial, salvífica, se manifeste também a ele e a você, caso você ainda não tenha sido alvo da mesma.

por Lucas Gonçalves para o Coletivo Tangente

FONTEColetivo Tangente
Lucas Gonçalves
Bacharel em Comunicação Social e em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduado em Plantação e Revitalização de Igrejas pela FATEV-CTPI. Estuda a ética e a moral cristãs em C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien, e é seminarista na Igreja Presbiteriana de Paulínia. Lucas faz parte do Coletivo Tangente.