Não são poucos os relatos de famílias pastorais em crise pelo fato de se perceberem em segundo plano na vida daquele que deveria ser também o seu pastor. É fato que administrar tempo e emoções e atender a todos não é tarefa fácil para nenhum pastor. Em regra geral, ele vai se sentir devedor a um dos lados. Esse conflito pode ser observado na vida de expoentes da Bíblia Sagrada, como Davi, o rei de Israel.

O nome de Davi aparece mais de mil vezes no texto bíblico. Sua importância política, econômica e espiritual, seu amor a Deus e sua dedicação ministerial são inquestionáveis. Mas, quando a lente foca no quesito família, temos uma história nada apreciável. A relação com sua esposa, Mical, é um poço de conflitos. Ela era uma mulher marcada por amargura, desprezo e desvalorização. Na relação com os filhos, percebemos a falta de presença, ensino, correção, afetividade, perdão e acolhimento, originando desunião, conspiração, competição, abusos, assassinatos e vinganças.

A frase sobre seu filho Adonias, registrada em 1Reis 1, revela que Davi foi um pai omisso: “Seu pai jamais o havia contrariado, dizendo: ‘porque fizeste assim?’ Além disso, Adonias era muito formoso”. Contraditoriamente, quando se trata do ministério como rei, Davi é o melhor, tanto que passa ao seu sucessor uma nação poderosa que tinha a expansão territorial digna de um império. Davi era um sucesso na vida pública e uma tragédia em casa.

Na vida de muitos pastores, a situação não tem sido diferente: o número de casamentos pastorais desgastados, quando não rompidos, e de filhos que se perderam não apenas na fé, mas também na identidade como homens ou mulheres saudáveis, é um quadro revelador de famílias enfermas. O guerreiro vencedor do púlpito é muitas vezes um homem ferido e derrotado em casa.

Como ser um líder pastoral eficiente e cuidar bem da própria família?

Esse foi meu desafio nos primeiros anos de ministério. Além da família e da igreja, eu ainda exercia atividade profissional — receita perfeita para um lado da corda se romper, e rompeu! Com o tempo, minha esposa estava esgotada, frustrada e sobrecarregada com a missão de gerenciar a casa, ser mãe de três filhos, esposa de um pastor e marido atarefado que “passava” pela casa. Estávamos sempre no limite emocional, e eu permiti que o rigor extravasasse num exagero de disciplina. Assim, deixei uma ferida profunda no coração de um dos meus filhos, que se afastou de mim, da família e da igreja, envolveu-se com vícios e tornou-se violento. Diante disso, o meu chão desapareceu.

Passei a me sentir indigno, me senti excluído entre os “pastores bem-sucedidos”. Foi nesse contexto que conheci a mentoria e o pastoreio mútuo por meio de um discipulado contínuo. Uma pergunta me inquietava: o que ou quem poderia ter ferido tanto o coração de meu filho? Foi então que ficou muito claro para mim que o problema estava no pastor que  era o pai dele,  que descarregou seu estresse na pessoa errada. Um pedido de perdão gerou intervenção sobrenatural de Deus, restaurando meu filho. Hoje, somos uma família marcada pelo amor. Com isso, aprendi que pastores e líderes precisam manter o equilíbrio na sublime missão de pastorear a família e a igreja.

Para que você, leitor, encontre esse equilíbrio também, elucido alguns princípios:

  1. Estabeleça limites no seu dia a dia;
  2. Saiba que a família vem antes da atividade ministerial;
  3. Cuide para não transferir para a família as frustrações ministeriais;
  4. Separe tempo de qualidade com a esposa e os filhos;
  5. Tire férias;
  6. Evite falar sobre os assuntos da igreja à mesa;
  7. Dedique tempo individual com esposa e com cada filho;
  8. Ande com um grupo de pastoreio/mentoria para sua vida.

Ser pastor, esposo e pai não é uma realidade fácil, mas ela pode ser altamente gratificante se você for prudente. Observe as dicas que acabo de compartilhar, ore e faça o seu melhor. No que precisar, conte com Homens Mentores e Mulheres Mentoras. Estamos à disposição para ajudá-lo a desenvolver todo o seu potencial na vida e no ministério.