Pastoreando com um grande sorriso falso

Frequentemente escondo minhas lutas da minha igreja porque temo que as pessoas as usem contra mim.

Em muitos aspectos, meu testemunho não é tão impressionante. Eu cresci em um lar estável com um pai que tinha um ministério de tempo integral e uma mãe que ficava em casa para ajudar em minha dificuldade de aprendizagem. Aos seis anos de idade, eu confiei em Jesus Cristo como meu Senhor e Salvador. Fiz diversas perguntas aos meus pais, e estava na hora. Senti Deus me chamando.

Depois da minha conversão, fui uma criança normal de igreja. Eu não bebia, fumava ou até mesmo dançava – embora a questão da dança fosse por eu ser extremamente tímido e não ter ritmo. A extensão da minha rebeldia adolescente foram alguns palavrões e um relacionamento adolescente que ficou sério demais.

No primeiro ano do ensino médio, Deus mudou minha vida. Eu sempre agradava as pessoas e ficava apavorado de ficar sozinho. Frequentemente me cercava de pessoas e evitava isolamento. No primeiro dia de aula naquele ano, apareci na escola e percebi que não tinha um único amigo na classe ou no almoço. Isso não parece grande coisa agora, mas como adolescente, meu mundo parecia ter desmoronado. Naquela noite, meus pais conversaram comigo sobre minha crise adolescente e me incentivaram a levar minha Bíblia para a escola.

Este único conselho mudou minha vida. Como eu levava minha Bíblia para a escola, comecei a lê-la regularmente. Quando eu dependia dos outros para ter amizade, Jesus se tornou meu amigo. Meu relacionamento com Deus progrediu, e durante o ano senti um chamado para o ministério.

Avançando uns 10 anos, eu estava servindo como pastor em Duncan, Oklahoma, em uma igreja batista. Foi um desafio. A igreja estava declinando há anos, eles tentaram demitir dois ou três pastores antes de mim, e certamente havia um grupo que não gostava da minha liderança.

Como alguém que sempre tentava agradar aos outros, eu ficava aborrecido quando as pessoas não gostavam das minhas ideias. Elas me chamaram para alcançar os jovens, mas na realidade, meu trabalho era manter o status quo e cuidar da parte sênior da igreja.

A primeira grande crise na igreja aconteceu quando uma mulher ficou irritada por nossas filhas de um e dois anos estarem sempre por perto quando estávamos na igreja. Por mais pesado que seja, ela olhou para mim e disse, “Esta igreja está morrendo por causa das suas filhas”. Minhas filhas não se comportavam mal ou faziam cena – elas apenas estavam lá.

A segunda crise aconteceu poucos meses depois. Nós tínhamos dois garotos que frequentavam a igreja relutantemente porque o ônibus da nossa igreja os buscava. Eles sentavam na fileira de trás da igreja *suspiro* usando bonés. Um diácono me disse que ou aqueles garotos tiravam seus bonés ou seriam expulsos da igreja. Eu disse que eles eram exatamente as pessoas com as quais fomos chamados a compartilhar o amor de Deus e que seus bonés não eram problema. E isso não foi bom para mim.

A terceira crise aconteceu quando nossas meninas começaram o pré-jardim de infância. Minha esposa, Jennifer, e eu não ganhávamos o suficiente na igreja para manter dois carros, e até aquele momento, compartilhávamos nosso carro usado. Com as meninas na escola, percebemos que eu precisava de um meio de transporte secundário. Então pegamos o que podíamos pagar: uma bicicleta de $50 do Walmart. Comecei a ir de bicicleta todo dia para a igreja. Sem que eu soubesse, muitos membros da igreja começaram a passar para ver se o pastor estava no trabalho. Quando não viam um carro na vaga do pastor, presumiam que eu não apareci para trabalhar.

Tudo veio à tona uma noite em uma assembleia da igreja. Para um pastor, assembleia batista pode ser algo como se você tivesse 85 chefes aparecendo para reclamar com você sobre seu trabalho. Entretanto, esta reunião de negócios foi diferente da sessão de reclamação usual. Enquanto a igreja tipicamente tinha por volta de 85 pessoas comparecendo aos domingos, havia pelo menos 150 naquela reunião. Quando apresentei o orçamento anual e abri para discussão, foi revelado um plano para me tirar. Mesmo meus opositores não tendo dois-terços dos votos exigidos para fazê-lo, pareceu que tinham os 50 por cento dos votos necessários para tirar meu pagamento do orçamento da igreja. Com minha esposa e filhas na sala, pessoa após pessoa se levantou para gritar comigo sobre hinos, sobre o fato de eu pregar usando um iPad, sobre eu permitir que aqueles “garotos punks” viessem com seus “bonés punks”, e – claro – minhas filhas.

Eu estava em lágrimas. Eu estava quebrado. Votamos, e a oposição perdeu por dois votos. Algumas semanas depois, metade das pessoas saiu e a igreja se dividiu. Eu fiquei amargurado.

Mais tarde naquele ano, partimos – quebrados, magoados e feridos – de Oklahoma. Nós nos mudamos para Houston, acreditando que um novo começo curaria nossa amargura.

Chegamos em Vidalia, Louisiana, onde atualmente sou pastor. Dizem que o tempo cura todas as feridas, mas sinceramente, se elas não forem tratadas, o tempo não ajuda muito. As feridas apodrecem e crescem. Eu me lembro de conhecer pessoas em nossas primeiras semanas na igreja e pensar, Quais destas pessoas serão aquelas que nos ferirão? Quando fizemos novos amigos, tivemos vislumbres dos membros da igreja anterior neles – alguns bons e alguns ruins.

Os gatilhos de sofrimento ficaram cada vez maiores com o passar dos anos. Há dias que vou para casa depois de uma assembleia da igreja e sinto a dor profunda de anos atrás emergindo novamente. Algumas semanas atrás, um comentário depreciativo à Jennifer a levou às lágrimas quando anos de dor na igreja voltaram à tona. Perdi a conta de quantas vezes parei de ver Facebook uma vez que as pessoas usam a plataforma para expressar suas opiniões em relação ao meu trabalho e à minha vida.

Dois anos atrás, Jennifer e eu começamos a servir no ministério Celebrando a Recuperação. Quando eu servia, algumas vezes me pediam para fazer anúncios, o que significava que eu tinha que compartilhar meus problemas. No começo eu divulguei coisas superficiais. Mas com o passar do tempo, o lembrete constante de reconhecer meus hábitos, problemas e mágoas me fez confrontar um oceano de dor com as quais eu não havia lidado. Percebi que meus vícios em comer, malhar, agradar as pessoas, amargura e raiva tinham raízes em feridas enterradas ao longo da minha vida de ministério.

Então, por volta de um ano atrás, Jennifer e eu participamos de uma conferência na igreja em Denver, Colorado. Sugeri a minha esposa a ideia de levar nossas filhas para lá de férias, mas fazendo uma rota indireta para visitar nossa igreja anterior em Oklahoma. Nunca tivemos um desfecho. Nunca lidamos com nossa dor. Oito meses depois daquela viagem, recebi um telefonema deles. Aparentemente, Deus colocou a mesma ideia no coração do pastor atual. Eles me convidaram para pregar em uma conferência.

Todos os tipos de emoções inundaram minha mente e meu coração naquele momento. Eu disse sim.

Chegando em Duncan para a conferência, meu coração foi parar na minha garganta. Deus tinha um plano. Ele sabia que eu precisava de cura. Vimos amigos antigos que nos amavam. Depois de conversar com o pastor e compartilharmos o caminho que percorremos naquela igreja, ele se desculpou.

Na terceira noite da conferência, um dos nossos antigos agitadores entrou pela porta. Se meu coração bateu acelerado quando dirigimos para Duncan, ele explodiu quando este homem entrou. Muitas vezes ao longo dos anos depois de sair de Oklahoma, eu pensava neste momento. Em meus sonhos, eu finalmente tinha minha chance de repreender este homem. Mas Deus abrandou meu coração. Não, o homem não se desculpou pelo tormento que trouxe à minha família, mas isso não teve importância. Deus me deu paz. Perdão naquele momento não estava condicionado ao que ele fez. Em vez disso, foi um presente de Deus para mim.

Pastores não são perfeitos. Atrás de sorrisos, a maioria de nós está sofrendo. Como pastor, frequentemente não lido com meus problemas porque, francamente, não quero que as pessoas saibam que eu luto. Temo que as pessoas usem minhas lutas para virem atrás de mim.

Não terminei meu caminho de cura. Esta semana mesmo, senti dor emocional depois de ouvir palavras diretas e cortantes. Na maioria das noites de sábado eu luto para conseguir dormir uma vez que minhas preocupações e mágoas me atacam como demônios. Ainda tenho amargura que não entreguei a Deus. Mas, através das minhas lutas contínuas, sou um crente grato em Jesus Cristo e posso ver como ele está me levando a lançar todos os meus cuidados sobre ele. Posso ver Deus trabalhando na minha vida para trazer cura.

WES FAULK

Wes Faulk é o pastor sênior da Primeira Igreja Batista de Vidalia, Louisiana. Este artigo apareceu aqui eu seu site, wesfaulk.com.

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques.
Usado com permissão.