Famílias com pais solteiros de todos os tipos estão se tornando cada vez mais comum nos Estados Unidos. De 1880 a 1970, por volta de 85 por cento das crianças nos Estados Unidos morava com dois pais, segundo o Centro de Pesquisa Pew, mas nos últimos 50 anos, este arranjo familiar tradicional mudou radicalmente. Em 2015, menos da metade das crianças nos Estados Unidos morava com dois pais no primeiro casamento. Em 2018, havia mais de 16 milhões de pais solteiros nos Estados Unidos e quase metade (40%) dos nascimentos nos Estados Unidos foi de mulheres solteiras.

Estes números crescentes representam um desafio à igreja americana: como ministramos às necessidades complexas e únicas das famílias de pais solteiros?

Como mais frequentemente os pais solteiros são divorciados, não é de se admirar que os teólogos muitas vezes definam a típica família de pais solteiros como uma falha de aliança que evidencia a Queda. Mas estas famílias também dão aos cristãos a oportunidade de imaginar a família à luz do Novo Testamento, diz Timothy Paul Jones, professor do ministério da família no Seminário Teológico Batista do Sul.

“No Novo Testamento, o povo de Deus é formado em uma nova aliança familiar adotada de toda tribo, língua e povo”, ele disse. “Isso não elimina a família formada na aliança entre um homem e uma mulher, mas a situa no contexto de uma família maior, onde somos chamados a nos tornarmos família uns para os outros. Nós preenchemos as lacunas. Nós nos tornamos família uns para os outros como povo de Deus”.

Entretanto, praticar estes princípios pode ser difícil. Pais solteiros muitas vezes têm menos educação e rendas mais baixas do que a média americana e a participação na igreja está em declínio mais rápido entre os americanos sem diploma universitário, disse Bradford Wilcox, sociólogo e diretor do Projeto Nacional de Casamentos da Universidade de Virginia.

“O casamento é uma importante questão de justiça social”, ele disse. “O colapso do casamento está caindo ao longo das classes sociais e apenas aprofundando as desvantagens que os pobres americanos e seus filhos enfrentam hoje em nosso país. Uma coisa que as igrejas precisam fazer entre congregações e ministérios para-eclesiásticos é ser muito mais intencional em alcançar pessoas da classe trabalhadora”.

Segundo uma pesquisa realizada pelos Ministérios Vida de Mãe Solteira, mais de dois terços das mães solteiras não vão à igreja. Um problema é que as igrejas não estão tipicamente indo onde é provável que as pessoas com rendas mais baixas sem diplomas universitários estejam, Wilcox disse, uma vez que os ministérios universitários têm poucos resultados nos mundos de treinamento no local de trabalho ou de faculdade comunitária. E quando as pessoas encontram a igreja, elas precisam de mensagens que as atendam onde elas estão.

“A igreja tem que andar na corda bamba em termos da situação familiar de hoje”, ele disse. “Nós devemos demonstrar consolo e solidariedade às crianças e famílias que têm sido tocadas pelo divórcio, para transmitir uma sensação de misericórdia e esperança. Ao mesmo tempo, a igreja também precisa articular todas as razões pelas quais é melhor para os adultos e para as crianças lutarem pelo ideal de uma família casada intacta”.

Com esta imagem complicada em mente, um punhado de ministérios em todo o país está tentando reconectar famílias de pais solteiros com o apoio físico e espiritual da igreja. Um destes programas, Missões de Pais Solteiros, foi iniciado por Dawn VanderWerf em 2012 quando ela era mãe solteira. (Ela se casou novamente).

“Deus claramente me chamou para sair da posição em vendas que eu tinha e assumir este ministério”, disse VanderWerf, cuja organização agora alcança pais solteiros tão longe como África e Ucrânia. “Mães solteiras e crianças sem pai são como as ‘viúvas e órfãos’ desta geração”.

VanderWerf se tornou mãe solteira quando seu marido por 15 anos foi preso depois de um tiroteio na casa deles e a deixou criando seu filho que então tinha seis anos, Ethan. Quando ela sentou pela primeira vez com Ethan para conversar sobre a situação, a única pergunta dele foi, “Quem vai assumir o lugar do meu pai?” Ela olhou para a igreja a fim de assumir o papel do pai ausente, mas descobriu que as igrejas tinham pouca visão ou treinamento para ajudar famílias de pais solteiros.

“Eu sinto Jesus parado ali tentando ter nossa atenção, falando, ‘Ei, gente, lance sua rede do outro lado”, disse VanderWerf. “Existem todos estes pais solteiros com todas estas necessidades – necessidades física, espiritual e financeira – eles estão maduros para colheita e ninguém está indo atrás deles”.

O ministério de VanderWerf fornece recursos para famílias de pais solteiros no oeste de Michigan e também organiza a Conferência de Pais Solteiros, evento anual que treina líderes de ministério para se envolverem com famílias de pais solteiros.

Matt Haviland, que dirige um ministério para pais solteiros na Igreja da Comunidade de Kentwood em Grand Rapids, Michigan (onde VanderWerf iniciou um grupo de apoio a pais solteiros), concordou. “A igreja ainda está entrado nessa área onde sabemos que precisamos lidar com pais solteiros, mas não sabemos como”, ele disse.

Em resposta às necessidades em torno deles, os ministérios de pais solteiros têm inventado uma variedade de maneiras práticas para servir, desde criação de programa de estudo da Bíblia para pais solteiros até organização de eventos para filhos de pais solteiros cujos pais precisam de uma noite de folga para organizar seminários sobre questões jurídicas relacionadas a divórcio e custódia.

Segundo Jones, outra maneira que as igrejas podem apoiar famílias de pais solteiros é estender eventos de pais e filhos para ativamente dar boas-vindas às crianças que aparecem apenas com um dos pais ou sem nenhum dos pais. As igrejas também podem treinar especificamente homens e mulheres para entrarem e orientarem crianças em casas de pais solteiros.

“Precisamos equipar nosso povo para ser capaz de orientar, amar e preencher as lacunas”, ele disse.

Pais solteiros tendem a ter menos dinheiro e menos tempo do que famílias com dois pais, portanto, levar esses desafios em consideração pode ajudar os ministérios de famílias solteiras a serem eficazes, segundo Tammy Daughtry, fundadora do Co-Pais Internacional e autora do Co-Pais Funciona! Ajudando Seus Filhos a Crescerem Depois do Divórcio.

“Pais solteiros não passam pelas etapas normais que pedimos para as novas famílias passarem, quer participando do almoço conheça seu pastor ou da classe de novos membros”, disse Daughtry, que junto com seu marido leva seminário para pastores por todo o país tentando entender e servir famílias de pais solteiros e com madrasta / padrasto. “Eles lutam para dar os passos seguintes por falta de tempo, falta de se sentirem aceitos, incertezas e lutas com sua própria experiência de fé”.

Mark DeVries, presidente do Arquitetos do Ministério, uma organização que ajuda igrejas a criarem ministérios inovadores, ecoa esta ideia. “Todo o modelo de ministério familiar que gira em torno de reunir pais ou pais e filhos muitas vezes têm objetivos opostos em relação à carga desproporcional que pais solteiros carregam”, ele disse. “Eles não precisam de outra reunião para ir. O ponto de partida é conhecer essas pessoas pelo nome, conhecer essas famílias e ouvir com atenção”.

Para aqueles que trabalham em ou querem começar ministérios de pais solteiros, a Escritura muitas vezes oferece um modelo duradouro de como fazê-lo bem.

“Jesus é tão bom no que chamo de ‘olhar para os espectadores negligenciados’, aqueles que estão acostumados a ser marginalizados ou colocados de lado”, escreve Robin Gallaher Branch, professora de estudos bíblicos na Universidade da Vitória e autora de Esposa de Jeroboão: As Contribuições Duradouras das Mulheres Menos Conhecidas do Antigo Testamento. 1 Reis 17, 2 Reis 4, Lucas 7 e todo o livro de Rute enfatizam a provisão de Deus para viúvas que pensavam enfrentar circunstâncias sem esperança, aponta Gallaher Branch.

Os próprios pais solteiros dizem que aprendem mais sobre fé através de suas experiências. “Ser mãe solteira me trouxe para um lugar de completa dependência de Deus”, VanderWerf disse. “Mesmo brutal como às vezes tem sido, eu não trocaria”.

E o que pais solteiros aprendem em suas vidas particulares pode ser valioso para toda a igreja. “Famílias de pais solteiros nos contam a mesma história que toda vida cristã nos conta”, disse Jones. “Deus pode pegar uma situação que parece quebrada e sem esperança, arruinada pela queda, e fazer algo maravilhoso através dela”.

Ruth Moon Mari

Ruth Moon Mari é editora do Resposta da Universidade do Pacífico de Seattle. Ela tem doutorado em comunicação pela Universidade de Washington e iniciando em agosto será professora assistente de comunicação na Universidade Estadual da Louisiana.

Relatórios adicionais foram fornecidos por Trevor Persaud.

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques.
Usado com permissão.