Esse dias, conversando com algumas amigas a respeito das refeições em família feitas à mesa, levantamos alguns pontos e dificuldades, refletimos juntas e então saí daquele encontro bem pensativa. E é óbvio que uma hora ou outra essa “pensação” toda viraria palavra escrita, afinal, tudo o que toma tempo demais do meu pensamento, acaba sempre saindo em forma de palavra falada ou escrita. Pois bem, pensei, pensei e aí está o supra sumo dos meus devaneios.

Tenho dois filhos: Raquel com 12 anos e André com 8. Desde que engravidei da Raquel, passei a estudar muito a respeito do tema maternidade e educação. Li muitas coisas e fui retendo o que achava bom. E algo que encontrei em diversos livros e artigos sobre educação, família, infância, alimentação e adolescência foi a fala sobre a importância que as refeições em família feitas à mesa têm na formação de um ser humano e na manutenção das relações. Como esse tema se repetiu em vários materiais e estudos que li, isso me saltou aos olhos e permaneceu latente na alma. Conversando então com meu esposo, decidimos juntos que, a partir do nascimento da Raquel, as nossas refeições seriam sempre feitas à mesa (sem a distração do celular ou da TV). Essa foi uma das mais importantes regras instituídas em nossa casa que permanece até hoje e provavelmente jamais caducará.

É obvio que temos as nossas exceções. O dia de Netflix no sofá com hambúrguer no colo, o dia do programa predileto comendo pizza, o dia dos amigos em casa, o dia na casa da visita que não tem esse costume… Mas no dia a dia, dentro da nossa dinâmica, as refeições são SEMPRE feitas em família e à mesa. As crianças nem questionam, porque esse costume está tão dentro delas e de todos nós, que sequer cogitam uma dinâmica diferente. E, quem conhece meus rebentos, sabe bem que são dois serzinhos de poucas palavras quando estão perto de pessoas que não convivem muito. Mas acredite, aqui em casa quando sentam à mesa, temos que nos organizar para falar, porque o assunto é farto!

E por que isso é tão importante assim?

Você costuma esquecer de carregar o seu celular? Provavelmente, não. Pois bem, a conversa olho no olho, sem distrações, é uma das maiores fontes de bateria emocional dos relacionamentos humanos. E existe momento melhor para esse exercício do que as refeições em família feitas à mesa? Cadeira de frente para outra cadeira, um mínimo de 15 minutos juntos, olhos nos olhos e conversa. A comida tem o poder de nos unir! Em todas as culturas e celebrações, encontramos pessoas comendo reunidas em volta da mesa. Isso é fantástico!

Ali é a oportunidade que temos de ensinar nossos filhos a falar sobre o seu dia, seus sentimentos, conquistas, sonhos e conflitos. E você sabia que todo aprendizado pede exercício contínuo? Já ouviu falar que o filho é o que você faz e não apenas o que você diz? Já parou para pensar quantos minutos por dia você gasta falando ao seu filho sobre seus sentimentos, suas questões, conquistas, conflitos e lembranças da infância? Como quer que seu adolescente converse com você e fale de suas questões se não foi treinado a isso durante toda a infância?

Nossa sociedade perdeu completamente o valor das refeições em família feitas à mesa. A TV, o celular e o tablet tomaram o lugar das cadeiras. Nossos filhos conversam com o mundo virtual e estão perdendo o sentido e o valor das experiências e das relações reais. As redes sociais não conseguem desenvolver em nós habilidades que apenas as relações reais são capazes de desenvolver. E, se eles passam a vida assistindo e absorvendo o que está sendo exibido, a tendência é que resumam a sua existência a algo que é apenas visto e não compartilhado e vivido.

Independente da idade que seus filhos tenham hoje, ainda dá tempo de recomeçar. Pegue a toalha, coloque a mesa e convide a sua família a recarregar a bateria dos seres humanos, que é o relacionamento interpessoal. Sei que a sua vida é corrida. A minha também é. Se o que vocês têm pra hoje são apenas 15 minutos no jantar ou no café da manhã, aproveitem cada segundo desses 15 minutos! No começo pode até parecer artificial se não estão acostumados, mas com o tempo vira rotina e acaba se tornando natural. Se de início seus filhos não conseguirem se expressar, comece você falando do seu dia, dos seus desafios, pensamentos, sonhos, chateações, lembranças boas e ruins e etc. Se não podem todos os dias, façam algumas vezes na semana. Se ainda não têm mesa, coloquem uma toalha no chão ou sentem em cadeiras com o prato no colo.

Quem quer de verdade, sempre dá um jeito, não é mesmo?

Se você está cansado demais para ensinar aos seus filhos a importância do exercício dos olhos nos olhos durante o falar e ouvir, não vai poder reclamar quando, lá na frente, o seu jovem entrar no quarto (com o prato de comida na mão) e fechar a porta para falar com os amigos virtuais sobre suas questões particulares, afinal, como cobrar de alguém aquilo que não teve a oportunidade de aprender através da vivência? O tempo de ensinar é hoje. Uma sociedade se faz de micro-sociedades e uma delas está aí, bem na sua casa. O que você tem feito a respeito disso?