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Devocionais

A paisagem do país elevado

Quando estava em Colorado em umas férias de uma semana, nossa família juntou-se com muitas outras e decidiu subir ao topo de 4.267 metros de altura. Escalaríamos pelo jeito mais fácil. Dirigir pela mata e enfrentar os últimos 1.610 metros a pé. Os sinceros andarilhos ficariam com tédio, mas por uma família com três meninas pequenas, era tudo que podíamos suportar.

A viagem foi tão cansativa quanto bonita. Fui relembrado quanto o ar era rarefeito e minha cintura não era.

Nossa Sara de quatro anos teve a dificuldade dobrada. Uma queda nos primeiros minutos a deixou com um joelho ralado e um passo tímido. Ela não queria andar. Na verdade, ela se recusou a andar. Ela queria andar de cavalinho. Primeiro em minhas costas, depois nos braços da mãe, depois minhas costas, depois nas costas de um amigo, depois minhas costas, depois na da mãe. Bem, você entendeu.

Realmente, você sabe como ela se sentiu. Você, também, caiu, e você, também, pediu ajuda. E você, também, recebeu-a.

Todos nós às vezes precisamos de ajuda. Esta viagem fica íngreme. Tão íngreme que alguns de nós desistem.

Alguns param de escalar. Alguns apenas sentam. Eles ainda estão perto da trilha, mas não estão nela. Eles não abandonaram a excursão, mas não a continuaram. Eles não desmontaram, mas também não estimularam. Eles não renunciaram e ainda também não resolveram.

Eles simplesmente pararam de andar. Muito tempo é gasto sentando ao redor da fogueira, conversando sobre como as coisas eram. Alguns sentarão no mesmo lugar durante anos. Não mudarão. As orações não vão aprofundar. A devoção não vai crescer. A paixão não vai aumentar.

Alguns poucos até crescem cínicos. Magoam o viajante que os desafiou a recomeçar a viagem. Magoam o profeta que os desafiam a verem a montanha. Magoam o explorador que os lembrou do seu chamado. Peregrinos não são bem-vindos aqui.

E então os peregrinos vão andando enquanto o colonizador coloniza.

Coloniza para a mesmice.

Coloniza para a segurança.

Coloniza para montes de neve.

Espero que você não faça isso. Mas se você faz, espero que você não despreze o peregrino que o chama para voltar para a viagem.

Vale a pena continuar andando.

Enquanto eu tentava, sem sucesso, convencer Sara a andar, eu tentava descrever o que iríamos ver. “Será tão bonito,” contava para ela. “Você vai ver todas as montanhas e o céu e as árvores.” Sem sucesso – ela queria ser carregada. Ainda uma boa idéia, entretanto. Mesmo se não funcionasse. Nada coloca mais energia na viagem do que uma visão do topo da montanha.

Por acaso, uma cena maravilhosa o espera também. O escritor de Hebreus nos dá um pedaço do céu National Geographic. Preste atenção como ele descreve o topo do monte Sião. Ele diz que quando alcançarmos o monte teremos “chegado à cidade do Deus vivo… às miríades de anjos… à igreja dos primogênitos inscritos nos céus… a Deus, o juiz de todos… aos espíritos dos justos aperfeiçoados… a Jesus, o mediador de um nova aliança… ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel” (Hebreus 12:22-24).

Que monte! Não vai ser maravilhoso ver os anjos? Finalmente saber como eles são e quem eles são? Ouvi-los contar das vezes que estiveram ao nosso lado, até dentro de nossas casas?

Imagine o encontro com os primogênitos. O encontro de todos os filhos de Deus. Sem inveja. Sem competição. Sem divisão. Sem pressa. Seremos perfeitos. Sem pecado. Sem mais erros. Sem mais tropeços. A cobiça vai acabar. As fofocas serão silenciadas. O rancor removido para sempre.

E imagine ver Deus. Finalmente, olhar fixamente o rosto do nosso Pai. Sentir o olhar fixo do Pai em você. Nenhum deles cessará.

Ele fará o que prometeu que faria. Farei novas todas as coisas., ele prometeu. Restaurarei o que foi tomado. Restaurarei seus anos de inclinação em muletas e preso em cadeira de rodas. Restaurarei os sorrisos enfraquecidos pela mágoa. Tocarei de novo as sinfonias não ouvidas por surdos e os pores-do-sol não vistos pelos cegos.

O mudo cantará. O pobre festejará. As feridas sararão.

Farei novas todas as coisas. Restaurarei todas as coisas. A criança infectada por doença correrá para seus braços. A liberdade perdida pela opressão será ignorada pelo seu coração. A paz de um coração puro será meu presente para você.

Farei novas todas as coisas. Nova esperança. Nova fé. E acima de tudo novo Amor. O Amor do qual todos os outros amores falam. O Amor diante do qual todos os outros amores empalidecem. O Amor que você tem procurado em mil portos em mil noites. Este meu Amor será seu. 1

Que monte! Jesus estará lá. Você tem almejado vê-lO. Você finalmente verá. É interessante o que o escritor diz que veremos. Ele não menciona o rosto de Jesus, apesar de que iremos vê-lo. Ele não se refere à voz de Jesus, apesar de que ela gritará. Ele menciona uma parte de Jesus que a maioria de nós não pensaria em ver. Ele diz que veremos o sangue de Jesus. O vermelho da cruz. O líquido da vida que verteu de Sua fronte, pingou de Suas mãos e escorreu de Seu lado.

O sangue humano do Cristo divino. Cobrindo nossos pecados.

Proclamando a mensagem: Fomos comprados. Não podemos ser vendidos. Nunca.

Que momento. Que monte.

Acredite em mim quando digo que valerá a pena. Nenhum preço é alto demais. Se você precisa pagar um preço, pague! Nenhum sacrifício é demais. Se você precisa deixar a bagagem na trilha, deixe! Nenhuma perda se compara. O que quer que seja necessário, faça.

Pelo amor dos céus, faça.

Valerá a pena. Prometo. Uma visão do topo justificará a aflição da trilha.

Aliás, nosso grupo finalmente chegou ao topo da montanha. Ficamos por volta de uma hora no pico, tirando fotos e admirando a paisagem. Mais tarde, na descida, ouvi a pequena Sara exclamando orgulhosamente, “Eu consegui!”

Eu ri. Você não conseguiu, eu pensei. Sua mãe e eu conseguimos. Os amigos e a família a levaram para cima da montanha. Você não conseguiu.

Mas eu não disse nada. Não disse nada porque estava recebendo o mesmo tratamento. Você também está. Podemos pensar que estamos escalando, mas estamos nos escondendo. Escondendo atrás do Pai que nos vê cair. Escondendo atrás do Pai que quer que cheguemos em casa. Um Pai que não fica zangado quando ficamos cansados.

Afinal de contas, ele sabe o que é escalar uma montanha.

Ele escalou uma por nós.

1Veja Apocalipse 21:5.

Guia de estudo

Pontos a considerar

“Todos nós às vezes precisamos de ajuda. Esta viagem fica íngreme. Tão íngreme que alguns de nós desistem.”

  1. Você já foi tentado a desistir?
  2. Que circunstâncias induzem esse desejo?

“O sangue humano do Cristo divino. Cobrindo nossos pecados. Proclamando a mensagem: Fomos comprados. Não podemos ser vendidos. Nunca.

  1. Como a declaração acima te faz sentir?
  2. Explique por quê.

“Acredite em mim quando digo que valerá a pena. Nenhum preço é alto demais. Se você precisa pagar um preço, pague! Nenhum sacrifício é demais. Se você precisa deixar a bagagem na trilha, deixe! Nenhuma perda se compara. O que quer que seja necessário, faça.”

  1. Que preço pode estar sendo pedido para você pagar em sua própria vida? Que sacrifícios você poderia fazer?
  2. Que “bagagem” você precisa “deixar na trilha”? que bagagens você pode ajudar os outros a deixar?

Sabedoria da Palavra

  • Leia Hebreus 12:22-24. Como nosso futuro é descrito nesta passagem? Que imagem você faz dela? Ela encoraja você? Se encoraja, como? Se não encoraja, por que não?
  • Leia 1 Coríntios 6:19-20. A quem você pertence, segundo esta passagem? Como isto aconteceu? Como devemos reagir?
  • Leia Romanos 8:35-39. Existe algum possível inimigo deixado fora desta lista? Quão certo é o nosso destino? Como este destino foi assegurado? Como isto te faz sentir? Por quê?

    Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
    Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com

Órfãos ao portão

Encontrei uma história triste esta semana, uma história sobre um desastre na lua-de-mel. Os recém-casados chegaram ao hotel em poucas horas com grandes expectativas. Eles reservaram um quarto grande com encantos românticos. Não foi o que encontraram.

Parecia que o quarto era muito limitado. O pequeno quarto não tinha vista, não tinha flores, tinha um banheiro apertado e pior de tudo – não tinha cama. Tinha apenas um sofá-cama com um colchão cheio de protuberâncias e molas sem firmeza. Não era o que eles esperavam; conseqüentemente, a noite também não foi.

Na manhã seguinte, o noivo com o pescoço dolorido desceu bravo até a mesa do gerente e colocou sua raiva para fora. Depois de ouvir pacientemente por alguns minutos, o balconista perguntou, “Você abriu a porta do seu quarto?”

O noivo admitiu que não. Ele voltou para a suíte e abriu a porta que pensava que fosse um depósito. Lá, cheio de cestas de frutas e chocolates, estava um quarto espaçoso! 1

Suspiro.

Você pode imaginá-los bem na entrada do quarto que eles tinham negligenciado? Ah, teria sido tão bom…

Uma cama confortável ao invés de um sofá duro.

Uma janela emoldurada por cortinas ao invés de uma parede vazia.

Uma brisa fresca ao invés de um ar abafado.

Um lugar para banho em ordem ao invés de um banheiro apertado.

Mas eles não tiveram isso. Que triste. Restrito, esquisito e desconfortável enquanto o conforto estava a uma porta. Eles não tiveram isso porque pensaram que a porta fosse de um depósito.

Por que vocês não tentaram? Eu estava perguntando enquanto lia o texto. Fique curioso. Confira. Tente. Dê uma olhada. Por que vocês apenas supuseram que a porta não levava a lugar nenhum?

Boa pergunta. Não apenas para o casal mas para todo mundo. Não para o par que pensou que a sala era tudo que estava ali, mas para todos que se sentem confinados e empacotados na ante-sala chamada Terra. Não é o que nós esperamos. Pode ter seus momentos, mas simplesmente não é o que pensamos que seria. Alguma coisa dentro de nós suspira por mais.

Entendemos o que Paulo quis dizer quando escreveu: “gememos em nós mesmos, aguardando a nossa adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Romanos 8:23).

Suspiro. Esta é a palavra. Um temor interno. O eco da caverna para o coração. O suspiro da alma que diz que o mundo é desconjuntado. Torto soletrado incorretamente. Manco.

Alguma coisa está errada.

A sala está muito apertada para respirar, a cama muito dura para dormir, as paredes muito vazias para agradar.

E então suspiramos.

Não é que não tentamos. Fazemos nosso melhor com a sala que temos. Arrastamos os móveis, pintamos as paredes, abaixamos as luzes. Mas há tanta coisa para se fazer com o lugar.

E então suspiramos.

E bem que devemos, Paulo persuade. Não fomos feitos para esses aposentos fracos. “Por enquanto estamos nessa tenda, gememos e somos oprimidos” (2 Coríntios 5:6 – tradução livre).

Nosso corpo uma tenda? Não é uma metáfora ruim. Eu passei algumas noites em tendas. Boas para as férias, mas não para o uso de todos os dias. As abas abertas. O vento de inverno rasteja por debaixo. O temporal de verão infiltra-se por cima. A lona fica fria e as estacas da tenda ficam frouxas.

Precisamos de algo melhor, Paulo persuade. Alguma coisa permanente. Alguma coisa sem sofrimento. Alguma coisa mais do que carne e osso. E até termos isso, suspiramos.

Sei que não estou lhe dizendo nada novo. Você conhece o suspiro da alma. Você não precisa que eu lhe diga que isso está aí.

Mas talvez você precisa que eu lhe diga que está tudo bem. Está tudo bem em suspirar. É permissível desejar. Desejar faz parte da vida. É apenas natural desejar o lar quando estamos em uma viagem.

Ainda não estamos em casa.

Somos órfãos ao portão do orfanato, esperando pelos nossos novos pais. Eles ainda não estão aqui, mas sabemos que estão vindo. Eles nos escreveram uma carta. Ainda não os vimos, mas sabemos como eles são. Eles nos mandaram uma foto. E ainda não estamos familiarizados com nossa nova casa, mas temos uma intuição sobre ela. É maravilhosa. Eles mandaram uma descrição.

E então o que fazemos? Aqui, perto do portão onde o aqui-agora encontra o não-ainda, o que fazemos?

Suspiramos. Desejamos o chamado para ir para casa. Mas até Ele chamar, esperamos. Ficamos perto do portão do orfanato e esperamos. E como esperamos? Com um gemido paciente.

“Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos (Romanos 8:25, ênfase do Max).

Gememos em nós mesmos, aguardando a nossa adoção” (Romanos 8:23, ênfase do Max). Gemido paciente. Não gemendo tanto a ponto de perder nossa paciência, e não tão paciente a ponto de perder nosso gemido. 2

Contudo, muitas vezes tendemos a um ou a outro.

Vimos a ser tão pacientes que dormimos! Nossas pálpebras ficam pesadas. Nossos corações ficam sonolentos. Nossa esperança caduca. Tiramos uma soneca em nossos postos.

Ou gememos tanto que exigimos. Exigimos neste mundo o que só o próximo mundo pode dar. Nenhuma doença. Nenhum sofrimento. Nenhuma luta. Fincamos nossos pés e balançamos nossos pulsos, esquecendo que é só no céu que é encontrada tal paz.

Devemos ser pacientes, mas não tanto a ponto de não desejar. Devemos gemer, mas não a ponto de não esperar.

Devemos ser sábios para fazer o que os recém–casados não fizeram. Devemos ser sábios para abrir a porta. Ficar no caminho de entrada. Olhar fixamente no quarto. Suspirar com a beleza.

E esperar. Esperar o noivo vir e nos carregar, sua noiva, para a entrada.

1 Leadership, Winter 1994, 46

2 Com reconhecimento a John R. Stott, Christian Assurance: The Hope of Glory (London: All Souls Cassettes), d28 lb.

Guia de estudo

Pontos a Considerar

“A Terra não é o que nós esperamos. Pode ter seus momentos, mas simplesmente não é o que pensamos que seria. Alguma coisa dentro de nós suspira por mais.”

  1. De que maneiras a Terra não é o que esperamos.
  2. Você “suspira por mais”? Explique.

“Gememos tanto que exigimos. Exigimos neste mundo o que só o próximo mundo pode dar. Nenhuma doença. Nenhum sofrimento. Nenhuma luta. Fincamos nossos pés e balançamos nossos pulsos, esquecendo que é só no céu que é encontrada tal paz.”

  1. Você já se pegou exigindo o que pertence propriamente ao próximo mundo?
  2. Se já, o que causa isso? Qual é o resultado?

Sabedoria da Palavra

  • Leia Romanos 8:18-25. Como a expectativa pela “redenção” faz a vida mais fácil com nossos “gemidos”? como este gemido se manifesta? Qual a expectativa definitiva que temos?
  • Leia 2 Coríntios 5:1-10. Para qual propósito Deus nos fez (Versículos 4 –5)? Onde entra o viver pela fé (v. 7)? Qual o nosso objetivo enquanto isso (v. 9)? Que motivação é dada (v. 10)?

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com

Vendo Deus

Uma das minhas lembranças de infância favoritas é cumprimentar meu pai quando ele chegava em casa do trabalho.

Minha mãe, que trabalhava à noite no hospital, saía de casa por volta das três horas da tarde. O papai chegava em casa às três e meia. Meu irmão e eu ficávamos sozinhos por aquela meia hora com instruções estritas para não sair de casa até que Papai chegasse.

Pegávamos nossos lugares no sofá e assistíamos desenhos, sempre mantendo um ouvido alerta na entrada de carros. Até o melhor “Patolino” era abandonado quando ouvíamos seu carro.

Posso lembrar de sair correndo para fora para encontrar Papai e ser girado em seus grandes (muitas vezes suados) braços. Enquanto ele me carregava para casa, ele colocava seu grande chapéu de palha em minha cabeça, e por um momento eu era um boiadeiro. Sentávamos no pórtico enquanto ele tirava suas botas oleosas que usava para trabalhar (nunca admitidas dentro de casa). Enquanto ele as tirava eu as colocava, e por um momento era um brigão. Então entrávamos e abríamos sua marmita do almoço. Qualquer sobra do almoço, que parecia que ele sempre tinha, era dividida entre mim e meu irmão.

Era demais. Botas, chapéus e lanches. O que mais poderia querer uma criança de cinco anos?

Mas suponha, por um minuto, que isso é tudo que tenho. Suponha que meu pai, ao invés de vir para casa, apenas mandasse algumas coisas para casa. Botas para eu brincar. Um chapéu para eu usar. Lanches para eu comer.

Seria suficiente? Talvez sim, mas não por muito tempo. Logo os presentes perderiam seu encanto. Logo, se não imediatamente, eu perguntaria, “Onde está o Papai?”

Ou pense em algo pior. Suponha que ele tenha me chamado e dito, “Max, eu não virei mais para casa. Mas mandarei minhas botas e meu chapéu, e todas as tardes, você pode brincar com eles.”

Nada feito. Não iria funcionar. Até uma criança de cinco anos sabe que é a pessoa, e não os presentes, que fazem uma festa ser especial. Não é a ornamentação; é o pai.

Imagine Deus nos fazendo uma oferta parecida:

Dar-te-ei qualquer coisa que você deseje. Qualquer uma. Amor perfeito. Paz eterna. Você nunca ficará com medo ou sozinho. Nenhuma confusão entrará em sua mente. Nenhuma ansiedade ou cansaço entrará em seu coração. Você não sentirá falta de nada.

Não haverá pecado. Não haverá culpa. Não haverá regras. Não haverá expectativas. Não haverá fracasso. Você nunca estará sozinho. Você nunca será machucado. Você nunca morrerá.

Porém você não verá minha face.1

Você iria querer isso? Eu também não. Não é o suficiente. Quem quer o céu sem Deus? O céu não é céu sem Deus. Uma eternidade sem morte e sem dor seria bom, mas inadequado. Fogos de artifício nos distrairiam, mas não é o que procuramos. O que queremos é Deus, queremos Deus mais do que entendemos. Não é que as regalias não sejam atraentes. Só não são suficientes. Não é que sejamos gananciosos. É apenas porque somos Seus e – Augustine estava certo – nossos corações estarão nervosos até que descansemos nEle.

Somente quando o encontrarmos estaremos satisfeitos. Moisés pode te contar.

Ele tinha a mesma porção de Deus quanto qualquer outro homem na Bíblia. Deus falou com ele em um arbusto. Deus o guiou com fogo. Deus maravilhou Moisés com as pragas. E quando Deus ficou bravo com os israelitas e retirou-se deles, Ele ficou perto de Moisés. Ele falou com Moisés “como qualquer fala com o seu amigo” (Êxodo 33:11). Moisés conhecia Deus como nenhum outro homem.

Mas isso não foi suficiente. Moisés ansiava por mais. Moisés anelava ver Deus. Ele até ousou pedir, “Rogo-te que me mostres a tua glória” (Êxodo 33:18).

Chapéu e lanche não eram suficientes. Uma coluna ardente e maná de manhã eram insuficientes. Moisés queria ver o próprio Deus.

Não é o que todos nós queremos?

Não é por isso que almejamos o céu? Podemos falar sobre um lugar onde não há lágrimas, não há morte, não há medo, não há noite; mas esses são só os benefícios celestiais. A beleza do céu é ver Deus. O céu é o coração de Deus.

E nosso coração só estará em paz quando O virmos. “Quanto a mim, em retidão contemplarei a tua face; eu me satisfarei com a tua semelhança quando acordar” (Salmos 17:15).

Satisfeitos? Isso é o que não estamos. Não estamos satisfeitos.

Afastamo-nos da mesa de Ação de Graças e damos tapinhas em nossas barrigas redondas. “Estou satisfeito,” nós declaramos. Mas olhe para nós poucas horas depois, de volta à cozinha tirando a carne do osso.

Acordamos depois de uma boa noite de sono e pulamos da cama. Não poderíamos voltar a dormir mesmo que alguém nos pagasse. Estamos satisfeitos – por um momento. Mas olhe para nós por volta de doze horas mais tarde, rastejando de volta para os lençóis.

Tiramos as férias de uma vida inteira. Planejamos por anos. Economizamos por anos. E vamos. Saciamo-nos com sol, diversão e boa comida. Mas não estamos nem no caminho de volta para casa antes de temermos o fim da viagem e começar a planejar outra.

Não estamos satisfeitos.

Quando somos crianças dizemos, “Se eu fosse adolescente.” Quando somos adolescentes dizemos, “Se eu fosse adulto.” Quando somos adultos, “Se eu fosse casado”. Quando somos casados, “Se eu tivesse filhos.” Quando somos pais, “Se meus filhos fossem grandes.” Em uma casa vazia, “Se os filhos nos visitassem.” Quando somos aposentados em uma cadeira de balanço com as juntas endurecidas e com a vista fraca, “Se eu fosse criança novamente.”

Não estamos satisfeitos. O contentamento é uma virtude difícil. Por quê?

Porque não existe nada na Terra que possa satisfazer nosso desejo mais profundo. Desejamos ver Deus. O folhear da vida está sussurrando o boato que veremos – e não ficaremos satisfeitos até que vejamos.

Não conseguimos estar satisfeitos. Não porque somos gananciosos, mas porque estamos famintos por algo que não se encontra nesta Terra. Somente Deus pode satisfazer. Filipe estava certo quando disse, “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta” (João 14:8).

Aliás, é neste ponto que mora o perigo. “Não poderás ver a minha face,” Deus disse a Moisés, “porquanto homem nenhum pode ver a minha face e viver” (Êxodo 33:20).

Os rabinos do século XVIII sabiam do risco de ver Deus. Rabbi Uri chorava todas as manhãs quando saía de casa para orar. Ele chamava seus filhos e sua esposa para perto de si e chorava como se nunca mais fosse vê-los. Quando o perguntavam por quê, ele dava esta resposta, “Quando começo minhas orações, clamo ao Senhor. Depois oro, “Senhor, tenha misericórdia de nós.” Quem sabe o que o poder de Deus vai fazer em mim naquele momento depois de eu o ter invocado e suplicado por misericórdia?” 2

Segundo a lenda, o primeiro índio americano a ver o Grand Canyon se amarrou em uma árvore apavorado. De acordo com a Escritura, qualquer homem com o privilégio de dar uma olhada em Deus sentiu o mesmo.

Completamente aterrorizado. Lembra-se das palavras de Isaías depois de sua visão de Deus? “Ai de mim! pois estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!” (Isaías 6:5).

Por ver Deus, Isaías estava aterrorizado. Por que tal medo? Por que ele estremecia tanto? Porque ele era cera diante do sol. Uma vela em um furacão. Um peixinho no Niagara. A glória de Deus era enorme. Sua pureza muito genuína. Seu poder muito grande.

A santidade de Deus ilumina a pecaminosidade do homem.

Para entender isto, vamos imaginar que você está em um teatro. Você nunca tinha ido em um antes e você está curioso. Você remexe atrás do palco, olha as luzes, brinca com as cortinas e examina as estacas. Então você vê um camarim.

Você entra e senta-se à mesa. Você se olha no grande espelho na parede. O que você vê é o que você sempre vê quando olha seu reflexo. Nenhuma surpresa. Depois você percebe que o espelho está emoldurado com lâmpadas. Há um interruptor na parede. Você clica.

Uma dúzia de luzes brilham no seu rosto. De repente você vê o que não tinha visto. Defeitos. Rugas. Toda verruga e marca são realçadas. A luz iluminou suas imperfeições.

Foi o que aconteceu com Isaías. Quando viu Deus, ele não olhou com admiração. Ele não aplaudiu com estima. Ele caiu para trás em terror, chorando, “sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios!”

A santidade de Deus realça nossos pecados.

Considere as palavras de um outro profeta. “Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim. Amém.” (Apocalipse 1:7, ênfase do Max).

Leia o versículo em outra versão. “Vejam! Ele vem chegando, rodeado de nuvens; e todo olho O verá – incluindo-se aqueles que O traspassaram. E as nações se lamentarão de tristeza e de terror quando Ele vier. Sim! Amém! Que assim seja!” (Apocalipse 1:7 – Bíblia Viva).

A santidade de Deus realça o pecado do homem.

Então, o que fazemos? Se é verdade que “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14), para onde nos dirigimos?

Não podemos sair da luz. Não podemos clicar no interruptor. Não podemos voltar ao acinzentado. Mas aí será tarde demais.

Então, o que podemos fazer?

A resposta é encontrada na história de Moisés. Leia com atenção, com muita atenção, os versículos seguintes. Leia para responder esta questão – o que Moisés fez para ver Deus? Leia devagar o que Deus diz. Você pode perder.

“Eis aqui um lugar junto a mim; aqui, sobre a penha, te porás. E quando a minha glória passar, eu te porei numa fenda da penha, e te cobrirei com a minha mão, até que eu haja passado. Depois, quando eu tirar a mão, me verás pelas costas; porém a minha face não se verá.” (Êxodo 33:21-23).

Você percebe o que Moisés estava para fazer? Nem eu. Você percebeu quem fez o trabalho? Eu também.

Deus fez! Deus é ativo. Deus deu a Moisés um lugar para ficar. Deus colocou Moisés na fenda. Deus cobriu Moisés com Sua mão. Deus passou. E Deus Se revelou.

Por favor, destaque o ponto. Deus equipou Moisés para O olhar rapidamente.

(Santo Moisés!)

Tudo o que Moisés fez foi pedir. Mas, ah, como ele pediu.

Tudo o que podemos fazer é pedir. Mas, ah, devemos pedir.

Somente pedindo nós recebemos. E somente procurando nós achamos.

E (preciso fazer a aplicação?) Deus é Aquele que vai equipar-nos para nosso momento eterno no Filho. Ele não nos deu uma pedra, o Senhor Jesus? Ele não nos deu uma fenda, Sua graça? E Ele não nos cobriu com Sua mão, Sua mão perfurada?

E o Pai não está a caminho para nos pegar?

Assim como meu pai vinha na hora certa, também Deus virá. E assim como meu pai trazia presentes e satisfação, o Seu também trará. Mas, por mais esplêndidos que sejam os presentes celestiais, não é por eles que esperamos.

Esperamos para ver o Pai. E isso será o suficiente.

Notas

1Com autorização de Augustine, Ennarationes in Psalmos, 127.9, como citado em Peter Kreeft, Heaven, 49.
2Annie Dillard, The Writting Lift (New York: Harper and Row, 1989), 9.

Guia de estudo

Pontos a considerar

“Quem quer o céu sem Deus? O céu não é céu sem Deus.”

1. Por que o céu pára de ser céu sem Deus?

2. Você iria querer viver em tal lugar? Explique.

“Porque não existe nada na Terra que possa satisfazer nosso desejo mais profundo. Desejamos ver Deus. O folhear da vida está sussurrando o boato que iremos – e não iremos estar satisfeitos até que estejamos.”

1. Você concorda com a explicação do Max de por que é difícil alcançar o contentamento?

2. Há outras razões de por que pode ser difícil alcançá-lo?

“Por ver Deus, Isaías estava aterrorizado. Por que tal medo? Por que ele estremecia tanto? Porque ele era cera diante do sol. Uma vela em um furacão. Um peixinho no Niagara. A glória de Deus era enorme. Sua pureza muito genuína. Seu poder muito forte. A santidade de Deus ilumina a pecaminosidade do homem.”

1. Defina a santidade de Deus.

2. Por que ela aterrorizou Isaías?

Sabedoria da Palavra

  • Leia Êxodo 33:12-23. Você faria o pedido de Moisés registrado no versículo 18? O que significa que ele não poderia ver a “face” de Deus? Como isto está relacionado à santidade de Deus?
  • Leia Isaías 6:1-7; Hebreus 12:14; Apocalipse 1:12-18. Como as pessoas normalmente reagem à santidade descoberta de Deus? Por que isto é assim? O que isso sugere sobre a maneira como devemos nos relacionar a Deus?
  • Leia Salmos 17:15. O que finalmente nos satisfará, de acordo com Davi? Por que isto deveria nos satisfazer?

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com

O dom da tristeza

Céu: a maior expectativa de Deus

Finalmente, o momento! Você pode imaginá-lo?

Céu! Estamos prestes a entrar em Sua presença!

Não merecemos isso. Não somos dignos disso.

Podemos até surpreender os anjos.

Os anjos compõem a música. A música não se parece com nenhuma que já temos ouvido. De repente, silêncio. Agora, luz – cegante luz – enquanto o Maestro entra no cenário.

Logo, andaremos com Ele, conversaremos com Ele e adoraremos enquanto Ele conduz.

Logo Deus, o Autor da Vida e Autor da Esperança, falará nosso nome – um nome tão misterioso e cheio de promessa que só Ele sabe. É nosso nome – um novo nome – um nome totalmente só nosso para ser somente nosso para todos os dias que passarmos no Céu.

… nossa maior expectativa.

É o final da jornada.

É o começo da vida eterna.

É o momento que você não quer perder.

O dom da tristeza

Vive ali, dentro de você, no profundo do seu ser, um pequeno bem-te-vi. Ouça. Você o ouvirá cantar. Sua cantiga lamenta o anoitecer. Seu solo sinaliza a alvorada.

É a canção do bem-te-vi.

Ele não ficará em silêncio até que o sol seja visto.

Esquecemos que ele está ali, é tão fácil ignorá-lo. Outros animais da alma são maiores, mais barulhentos, exigem mais, são mais imponentes. Mas nenhum é tão constante.

Outras criaturas da alma são mais rapidamente alimentadas. Mais facilmente satisfeitas. Nós alimentamos o leão que ruge por poder. Nós acariciamos o tigre que precisa de afeto. Colocamos rédeas no garanhão que resiste ao controle.

Mas o que fazemos com o bem-te-vi que anseia pela eternidade?

Pois esta é a canção. Essa é a tarefa. Fora do cinza ele canta uma canção dourada. Empoleirado no tempo, ele gorjeia um verso atemporal. Piando através do abrigo da dor, ele vê um lugar indolor. Desse lugar ele canta.

E apesar de tentarmos ignorá-lo, não o podemos. Ele é nós, e sua canção é nossa. A canção do nosso coração não será silenciada até vermos a alvorada.

“Pôs na mente do homem a idéia da eternidade” (Eclesiastes 3:11), disse o homem sábio. Mas não é necessário uma pessoa sábia para saber que a humanidade anseia por mais do que a Terra. Quando vemos dor, sentimos pena. Quando vemos fome, perguntamos por quê. Mortes sem sentido. Lágrimas sem fim, perda desnecessária. De onde elas vêm? Para onde conduzirão?

Não há mais para vida do que para morte?

E assim canta o bem-te-vi.

Tentamos calar essa voz pequena e terrível. Como um pai silenciando uma criança, colocamos um dedo em lábios encolhidos e requeremos silêncio. Agora estou muito ocupado para conversar. Estou muito ocupado para pensar. Estou muito ocupado para questionar.

E então nos ocupamos com a incumbência de estarmos ocupados.

Mas ocasionalmente ouvimos sua canção. E ocasionalmente deixamos a canção sussurrar para nós que há algo mais. Deve haver algo mais.

E enquanto ouvirmos a música, seremos confortados. Enquanto estivermos tristes, procuraremos. Enquanto soubermos que há um país longe daqui, teremos esperança.

O único desastre definitivo que pode nos acontecer, vim a perceber, é sentir que estamos em casa na Terra. Enquanto formos forasteiros, não podemos esquecer nossa verdadeira pátria.1

A tristeza na Terra desenvolve uma fome pelo céu. Favorecendo-nos com uma profunda insatisfação, Deus possui nossa atenção. A única tragédia, então, é estar satisfeito prematuramente. Contentar-se com a Terra. Estar feliz em uma terra estranha. Ligar-se por casamento com os babilônios e esquecer Jerusalém.

Não estamos alegres aqui porque não estamos em casa aqui. Não estamos alegres aqui porque não é para nós sermos felizes aqui. Somos “como peregrinos e forasteiros” (1 Pedro 2:11).

Pegue um peixe e coloque-o na praia.2 Assista suas guelras ofegarem e suas escamas secarem. Ele está feliz? Não! Como você o deixa feliz? Você o cobre com uma montanha de dinheiro? Você pega para ele uma cadeira de praia ou óculos de sol? Você traz para ele uma revista Playfish e um martini? Você o vestiria com barbatanas trespassadas e sapatos sociais?

Claro que não. Então como você o faz feliz? Você coloca-o de volta em sua base. Você coloca-o de volta na água. Ele nunca será feliz na praia simplesmente porque ele não foi criado para a praia.

E você nunca será completamente feliz na Terra simplesmente porque você não foi criado para a Terra. Ah, você terá momentos de alegria. Você terá instantes alegres. Você conhecerá momentos ou até dias de paz. Mas eles simplesmente não se comparam com a felicidade que existe adiante.

Fez-nos para Ele e nossos corações ficam impacientes até que descansem nEle.3

Descanso nesta Terra é um descanso falso. Tome cuidado com aqueles que te induzem a encontrar a felicidade aqui; você não a encontrará. Previna-se do falso médico que promete que a felicidade está só por um regime, por um casamento, por um emprego, ou por uma transferência. O profeta denunciou pessoas assim, “Também se ocupam em curar superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz” (Jeremias 6:14).

E não estará tudo bem até chegarmos em casa.

Novamente, temos nossos momentos. O recém-nascido em nosso peito, a noiva em nosso braço, a luz do Sol atrás de nós. Mas mesmo esses momentos são simplesmente pedaços de luz penetrando a janela do céu. Deus diverte-se conosco. Ele nos castiga. Ele é romântico conosco. Esses momentos são aperitivos para o prato que está por vir.

“As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam” (1 Coríntios 2:9).

Que versículo de tirar o fôlego! Você enxerga o que ele diz? O céu está além de nossa imaginação. Não podemos imaginá-lo. Em nosso momento mais criativo, em nosso pensamento mais profundo, em nosso nível mais alto, ainda não podemos sondar a eternidade.

Tente isto. Imagine um mundo perfeito. “O que quer que isto signifique para você, imagine. Isto significa paz? Então imagine tranqüilidade absoluta. Um mundo perfeito envolve alegria? Então crie sua maior felicidade. Um mundo perfeito terá amor? Se sim, então determine um lugar onde o amor não tem fronteiras. O que quer que signifique céu para você, imagine-o. Tenha-o firmemente fixado em sua memória. Delicie-se nele. Sonhe com ele. Deseje-o muito.

E então sorria enquanto o Pai lembra-o, as coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.

Qualquer coisa que você imagine está inadequada. Qualquer coisa que alguém imagine está inadequada. Ninguém tem chegado perto. Ninguém. Pense em todas as músicas sobre o céu. Todas as pinturas de artistas.

Todas as lições pregadas, poemas escritos e capítulos esquematizados.

Quando se trata de descrever o céu, somos todos felizes fracassados.

Está além de nós.

Mas também está dentro de nós. A canção do bem-te-vi. Deixe-o cantar. Deixe-o cantar na escuridão. Deixe-o cantar ao amanhecer. Deixe sua música lembrá-lo que você não foi feito para este lugar e que há um lugar feito só para você.

Mas até lá, seja realista. Reduza suas expectativas na Terra. Isto não é o céu, então não espere que seja. Nunca haverá um noticiário sem más notícias. Nunca haverá uma igreja sem mexerico ou competição. Nunca haverá um carro novo, esposa nova ou bebê novo que possa dar-lhe a alegria que seu coração almeja. Somente Deus pode.

E Deus dará. Seja paciente. E escute. Escute a canção do bem-te-vi.

Notas

1 Augustine, Confessions i. i., como citado em Peter Kreeft, Heaven: The Hearts Deepest Longing (San Francisco: Editora Ignatius), 1989,49. A idéia para este texto sobre o bem-te-vi foi tirada da narração de Kreeft de “The Nightindale in the Heart,” 51-54.
2 Com reconhecimento a Landon Saunders por esta idéia.
3 Malcolm Muggeridge, Jesus Rediscovered (New York, Doubleday, 1979), 47-48 como citado em Peter Kreeft, Heaven, 63.

Guia de estudo

Pontos para refletir

“A tristeza na Terra desenvolve uma fome pelo céu. Favorecendo-nos com uma profunda insatisfação, Deus possui nossa atenção. A única tragédia, então, é estar satisfeito prematuramente. Contentar-se com a Terra. Estar feliz em uma terra estranha. Ligar-se por casamento com os babilônios e esquecer Jerusalém.”

  1. De que maneira a insatisfação pode ser considerada um exemplo de graça?
  2. O que significa “ligar-se por casamento com os babilônios e esquecer Jerusalém.”? Alguma vez você já foi tentado a fazer isto? Explique.

“E você nunca será completamente feliz na Terra simplesmente porque você não foi criado para a Terra. Ah, você terá momentos de alegria. Você terá instantes alegres. Você conhecerá momentos ou até dias de paz. Mas eles simplesmente não se comparam com a felicidade que existe adiante.”

  1. Por que o Max diz que não fomos criados para a Terra?
  2. Qual seria o problema de vir a ser completamente feliz na Terra?

“Reduza suas expectativas na Terra. Isto não é o céu, então não espere que seja. Nunca haverá um noticiário sem más notícias. Nunca haverá uma igreja sem mexerico ou competição. Nunca haverá um carro novo, esposa nova ou bebê novo que possa dar-lhe a alegria que seu coração almeja. Somente Deus pode.”

  1. De um modo prático, como podemos reduzir nossas expectativas na Terra?
  2. Dê alguns exemplos.

Sabedoria da Palavra

  • Leia Eclesiastes 3:11. O que significa dizer que “pôs na mente do homem a idéia da eternidade”? Como isto se manifesta?
  • Leia 1 Pedro 2:11. Como um “peregrino” ou um “forasteiro” vive diferentemente dos nativos? Como o pecador deseja a guerra contra a alma? De que maneira viver como um forasteiro ajuda nesta batalha?
  • Leia 1 Coríntios 2:9-10. Por que esta é, provavelmente, a melhor descrição do céu que podemos entender? Esta passagem lhe dá esperança? Explique.

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com

O Deus que não desistirá

Nem todos no mundo de Jesus deram-Lhe calorosas boas-vindas. Nem todos O receberam com encanto. E muitos não só O ignoraram, eles O rejeitaram.

Isaías profetizou sua recepção assim: “Era desprezado, e rejeitado dos homens” (Isaías 53:3).

João resumiu a rejeição de Jesus com estas palavras: “Estava ele no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam “ (João 1:10-11).

Como Cristo tolera um tratamento como este? Em qualquer momento Ele poderia ter dito, ”Desisto. Já chega.” Por que Ele não o fez? O que o deteve de desistir?

Fico curioso por saber se Lee Ielpi entende a resposta. Ele é um bombeiro aposentado, um bombeiro da cidade de Nova Iorque. Ele dedicou vinte e seis anos à cidade. Mas em 11 de setembro de 2001, ele deu mais. Ele deu seu filho. Jonathan Ielpi também era bombeiro. Quando as Torres Gêmeas caíram, ele estava lá.

Os bombeiros são uma sociedade fiel. Quando um morre fazendo o dever, o corpo fica onde está até um bombeiro que conhece a pessoa possa vir e quase literalmente pegá-lo. Lee fez da descoberta do corpo do seu filho sua missão pessoal. Ele escavou diariamente com dúzias de outras pessoas um cemitério de 64.749,44 metros quadrados. Em uma terça-feira, 11 de dezembro, três meses depois do desastre, seu filho foi encontrado. E Lee estava lá para levá-lo.

Ele não desistiu. O pai não desistiu. Ele se recusou a virar e sair. Por quê? Porque seu amor por seu filho era maior do que a dor da busca. O mesmo não pode ser dito sobre Cristo? Por que Ele não desistiu? Porque o amor por suas crianças era maior do que a dor da jornada. Ele veio para puxá-lo para fora. Seu mundo havia desmoronado. É por isso que Ele veio. Você estava morto, morto para pecar. É por isso que Ele veio. Ele ama você. É por isso que Ele veio.

Esse é o porquê dEle ir até às últimas conseqüências da encarnação. “Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21).

Por que Jesus fez isso? Há apenas uma resposta. E a resposta tem uma palavra. Amor. E esse amor de Cristo “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Coríntios 13:7).

Pense nisso por um momento. Beba disso por um momento. Beba profundamente. Não tome só um golinho. É hora de devorar. É hora de deixar Seu amor cobrir todas as coisas em sua vida. Todos os segredos. Todas as feridas. Todas as horas de maldade, minutos de angústia.

As manhãs que você acordou na cama de um estranho? Seu amor cobrirá isso. Os anos que você espalhou prejuízo e soberba? Seu amor cobrirá isso. Todas as promessas quebradas, drogas tomadas, centavo roubado. Toda palavra cruzada, palavrão e palavra áspera. Seu amor cobre todas as coisas.

Permita. Descubra com o salmista “quem te coroa de benignidade e de misericórdia” (Salmos 103:4). Imagine um caminhão de lixo gigante cheio de amor. Você está atrás dele. Deus levanta a caçamba até o amor começar a escorregar. Devagar no começo, depois descendo, descendo, descendo até você ficar escondido, enterrado, coberto com seu amor.

“Ei, onde você está? “ alguém pergunta.

“Aqui, coberto de amor.”
Deixe Seu amor cobrir todas as coisas.

Faça isso por Ele. Para a glória de Seu nome.

Faça isso por você. Pela paz do seu coração.

E faça isso por eles. Pelas pessoas em sua vida. Deixe Seu amor cair sobre você para que o seu possa cair sobre elas.

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com

Eu elogio o que é certo?

No verão anterior à minha oitava série fiz amizade com um garoto chamado Larry. Ele era novo na cidade, então eu o encorajei a jogar pelo time de futebol americano da nossa escola. Ele poderia conhecer alguns garotos e, sendo um companheiro, poderia até fazer parte da turma. Ele concordou.

O resultado foi um cenário boa notícia–má notícia. A boa notícia? Ele passou. A má notícia. Ele ganhou minha posição. Fui rebaixado para a reserva. Tentei ficar feliz por ele, mas foi difícil.

Dentro de poucas semanas na temporada, Larry caiu de uma moto e quebrou um dedo. Lembro o dia que ele parou na porta da frente mostrando sua mão enfaixada. “Parece que você vai ter que jogar.”

Tentei ficar triste por ele, mas foi difícil. A passagem foi muito mais fácil para Paulo escrever do que foi para eu praticar. “Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram.” (Romanos 12:15).

Você quer medir a intensidade de seu amor por alguém? Como você se sente quando essa pessoa tem sucesso? Você se alegra? Ou fica com inveja? E quando ele ou ela erra? Tem uma infelicidade? Você realmente fica triste? Ou você se agrada secretamente?

O amor nunca celebra a infelicidade. Nunca. Gosto do jeito que Eugene Peterson interpreta a passagem: “O amor… não festeja quando outros arrastam-se, [mas] tem prazer no florescer da verdade.” J. B. Phillips é igualmente descritivo: “O amor… não se exulta com a maldade das outras pessoas. Pelo contrário, ele compartilha a alegria daqueles que vivem pela verdade.”

Você sabe que seu amor é real quando você chora com aqueles que choram e alegra-se com aqueles que se alegram. Você sabe que seu amor é real quando você sente pelos outros o que seu Pai celeste sente por você. Lembre-se, o amor “se regozija com a verdade” (1 Coríntios 13:6).

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com

Jesus, nosso Salvador acessível

Muitos dos nomes na Bíblia que se referem ao nosso Senhor não são nada menos que suntuosos e majestosos. Filho de Deus, O Cordeiro de Deus, A Luz do Mundo, A Ressurreição e A Vida, A Brilhante Estrela da Manhã, Aquele que Havia de Vir, Alfa e Ômega.

São frases que ultrapassam as fronteiras da linguagem humana em uma tentativa de apreender o que não é apreensível, a grandeza de Deus. Por mais que elas tentem esboçar o mais próximo possível, é sempre pouco. Escutá-las é algo como escutar uma banda de Natal do Exército da Salvação na esquina tocar o Messias de Handel. Boa tentativa, mas não funciona. A mensagem é majestosa demais para o medíocre.

E assim é com a linguagem. A frase “Não há palavras para explicar…” é realmente a única que pode honestamente ser aplicada a Deus. Nenhum nome faz jus a Ele.

Mas há um nome que recorda uma qualidade do Mestre que desnorteou e compeliu aqueles que o conheciam. Revela um lado dEle que, quando reconhecido, é o suficiente para que você caia sobre seu rosto.

Não é muito pequeno nem muito grande. É um nome que se encaixa como o sapato no pé da Cinderela.

Jesus.

Nos evangelhos, é o Seu nome mais comum – usado quase seiscentas vezes. E era um nome comum. Jesus é a forma grega de Josué e Jesuá – todos nomes familiares do Antigo Testamento. Havia pelo menos cinco sumos sacerdotes conhecidos como Jesus.

Os escritos do historiador Josephus fazem referência a perto de vinte pessoas chamadas Jesus. O Novo Testamento fala de Jesus Justo, o amigo de Paulo1, e o mago de Pafos é chamado Bar-Jesus2. Alguns manuscritos mostram Jesus como o primeiro nome de Barrabás. “Qual quereis que vos solte? Jesus Barrabás, ou Jesus, chamado o Cristo?” 3.

Qual é o objetivo? Jesus poderia ter sido um “Zé”. Se Jesus viesse hoje, seu nome poderia ter sido João ou José ou Pedro. Se Ele estivesse aqui hoje, é questionável que Ele se distanciaria com um nome imponente como reverendo Divindade Angélica da Santidade III. Não. Quando Deus escolheu o nome que seu Filho levaria, escolheu um nome humano4. Ele escolheu um nome tão característico que apareceria duas ou três vezes em qualquer lista de classe dada. “O Verbo se fez carne,” João disse, em outras palavras.

Ele era palpável, acessível, alcançável. E, o que é melhor, Ele era normal. Se Ele estivesse aqui hoje, você provavelmente não O notaria enquanto Ele passeasse no shopping. Ele não viraria cabeças pelas jóias ou pelas roupas que usava.

“Somente me chame de Jesus,” você quase pode ouvi-lo dizer.

Ele era o tipo de homem que você convidaria para assistir Fla-Flu em sua casa. Ele rolaria com seus filhos no chão, cochilaria em seu sofá, e cozinharia bifes em sua grelha. Ele riria das suas piadas e contaria algumas dEle mesmo. E quando você falasse, Ele o ouviria como se Ele tivesse toda a eternidade.

E uma coisa é certa, você O convidaria novamente.

Vale notar que aqueles que O conheciam melhor lembravam dEle como Jesus. Os títulos Jesus Cristo e Senhor Jesus são vistos apenas seis vezes. Aqueles que andavam com Ele lembravam dEle não por um título ou designação, mas por um nome – Jesus.

Pense nas implicações. Quando Deus decidiu revelar-Se à humanidade, que meio Ele usou? Um livro? Não, isso foi secundário. Uma igreja? Não. Isso foi conseqüência. Um código moral? Não. Limitar a revelação de Deus a uma lista fria de faça e não faça é tão trágico quanto olhar o mapa rodoviário de Colorado e dizer que você viu as Montanhas Rochosas.

Quando Deus decidiu revelar-Se, Ele o fez (surpresa das surpresas) através de um corpo humano. A língua que chamou um morto para fora era humana. A mão que tocou o leproso tinha sujeira embaixo das unhas. Os pés sobre os quais a mulher chorou eram calejados e empoeirados. E suas lágrimas… ah, não perca as lágrimas. Elas vieram de um coração tão quebrado quanto o meu ou o seu já esteve.

“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas.” 5

Então, as pessoas vinham a Ele. E como vinham a Ele. Vinham à noite; tocavam-no enquanto Ele andava pelas ruas; seguiam-no em volta do mar; convidavam-no para ir a suas casas e colocavam seus filhos a seus pés. Por quê? Porque Ele se recusava a ser uma estátua em uma catedral ou um padre em um púlpito elevado. Em vez disso, Ele escolheu ser Jesus.

Não há alusão de uma pessoa que estivesse com medo de chegar perto dEle. Existiam aqueles que zombavam dEle. Existiam aqueles que O invejavam. Existiam aquele que O mal interpretavam. Existiam aquele que O honravam. Mas não havia uma pessoa que O considerasse tão santo, tão divino, ou tão celestial para tocar. Não havia uma pessoa que fosse relutante em se aproximar dEle por medo de ser rejeitada.

Lembre-se disso.

Lembre-se disso da próxima vez que você se encontrar surpreso com suas próprias falhas.

Ou da próxima vez que acusações ácidas cavarem buracos em sua alma.

Ou da próxima vez que você vir uma catedral fria ou ouvir uma liturgia sem vida.

Lembre-se. É o homem que cria a distância. É Jesus que constrói a ponte.

“Somente me chame de Jesus.”

1Colossenses 4:11 2Atos 13:6 3Mateus 27:17; William Barclay, Jesus As They Saw Him (Grand Rapids, Minch.: Wm. B. Eerdmans). 4Mateus 1:21 5Hebreus 4:15

Guia de estudo

Não havia uma pessoa que O considerasse tão santo, tão divino, ou tão celestial para tocar. Não havia uma pessoa que fosse relutante em se aproximar dEle por medo de ser rejeitada.

A. Por quais razões as pessoas se aproximavam de Jesus? Quais eram as reações das pessoas em relação a Ele?

B. Como Jesus tratava as pessoas marginalizadas da sociedade? As pessoas marginalizadas moralmente (João 8:1-11)? As pessoas marginalizadas socialmente (Marcos 2:13-17)? As pessoas marginalizadas espiritual e fisicamente (Mateus 8:1-4; Marcos 5:1-20)?

C. Como Jesus tratava aqueles que O rejeitavam? Judas (Mateus 26:47-50)? Pedro (Marcos 14:66-72; 16:1-7)? O jovem rico (Marcos 10:17-27)? Qual é o elemento mais surpreendente de cada caso?

D. Para quem as palavras mais duras de Jesus estavam reservadas (Mateus 23; João 2:12-16)? Por que Jesus os condenava?

E. Quão parecido a Cristo e acessível você é? a seus filhos? a Seu companheiro? às pessoas que trabalham com você? a desconhecidos que você encontra diariamente? àqueles menos afortunados que você? àqueles que estão “mais abaixo na escala social”? O que você pode fazer para ser mais acessível?

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com

A escolha do carpinteiro

A porta pesada rangeu nas dobradiças enquanto empurrava para abrir. Com poucos passos Ele atravessou a oficina silenciosa e abriu a veneziana de madeira para ajustar os raios de luz do sol que penetravam na escuridão, pintando uma caixa da luz do dia no chão sujo.

Ele olhou ao redor na oficina de carpintaria. Ele ficou parado por um momento no abrigo do pequeno aposento que guardava tantas doces lembranças. Balançou o martelo em sua mão. Passou seus dedos entre os dentes pontudos da serra. Bateu na madeira gasta e suave do cavalete. Ele veio para despedir-se.

Era hora dEle ir embora. Ele ouviu algo que O fez saber que era hora de ir. Então veio pela última vez sentir o cheiro de serragem.

A vida era calma aqui. A vida era tão… segura.

Aqui Ele passou horas incontáveis de contentamento. Neste chão sujo brincou como uma criança que começa a andar enquanto o seu Igual trabalhava. Aqui José O ensinou como segurar um martelo. E nesta bancada Ele construiu sua primeira cadeira.

Eu fico curioso para saber o que Ele pensou quando deu a última olhada ao redor do aposento. Talvez tenha parado por um momento ao lado da bancada olhando para as pequenas sombras projetadas pela escultura. Talvez Ele escutasse enquanto vozes do passado enchiam o ar.

“Bom trabalho, Jesus.”

“José, Jesus – venham e comam!”

“Não se preocupe, senhor, vamos terminá-lo a tempo. Vou pegar Jesus para me ajudar.”

Fico curioso para saber se Ele hesitou. Fico curioso para saber se Seu coração estava ferido. Fico curioso para saber se Ele rolou um prego entre seu dedão e seus dedos, antecipando a dor.

Foi na oficina de carpintaria que Ele deve ter dado início a seus raciocínios. Aqui conceitos e convicções foram entrelaçados para formar a estrutura do Seu ministério.

Você quase pode ver as ferramentas da sua profissão em Suas palavras enquanto Ele falava. Você pode ver a segurança de um prumo quando Ele chamava a atenção para padrões morais. Você pode ouvir o som da plaina enquanto Ele apelava para a religião para cortar fora as tradições desnecessárias. Você pode imaginar o conforto daquele que reúne a madeira quando Ele exige lealdade nos relacionamentos. Você pode imaginá-lo com um lápis e um livro-razão enquanto Ele argumenta a honestidade.

Foi aqui que Suas mãos humanas deram forma à madeira que Suas mãos divinas criaram. E foi aqui que Seu corpo amadureceu enquanto Seu espírito aguardava o momento certo, o dia certo.

E agora esse dia chegou.

Deve ter sido difícil ir embora. Apesar de tudo, a vida de um carpinteiro não era má. O negócio era bom. O futuro era brilhante e seu trabalho era agradável.

Em Nazaré, Ele era conhecido somente como Jesus, o filho de José. Você pode ter certeza que Ele era respeitado na comunidade. Era bom com suas mãos. Tinha muitos amigos. Era o favorito entre as crianças. Podia contar uma boa piada e tinha o costume de encher o ar com uma risada contagiosa.

Fico curioso para saber se Ele queria ficar. Ele poderia fazer um bom trabalho aqui em Nazaré. Estabilizar-se. Criar uma família. Ser um líder municipal.

Fico curioso porque sei que Ele já havia lido o último capítulo. Ele sabia que os pés que iriam pisar fora da sombra segura da oficina de carpintaria não iriam descansar até serem perfurados e colocados em uma cruz romana.

Note, Ele não tinha que ir. Ele tinha uma escolha. Poderia ter ficado. Poderia ter ficado com sua boca fechada. Poderia ter ignorado o chamado ou pelo menos o adiado. E se Ele tivesse escolhido ficar, quem saberia? Quem O teria culpado?

Ele poderia ter voltado como homem em outra época quando a sociedade não fosse tão volátil, quando a religião não fosse tão estragada, quando as pessoas ouvissem melhor.

Ele poderia ter voltado quando as cruzes estivessem fora de moda.

Mas Seu coração não o deixaria. Se houvesse hesitação por parte de Sua humanidade, seria dominada pela compaixão de Sua divindade. Sua divindade ouviu as vozes. Sua divindade ouviu os choros desesperados dos pobres, as acusações amargas dos desamparados, o desespero daqueles que estão tentando se salvar.

E Sua divindade viu os rostos. Alguns franzidos. Alguns chorando. Alguns escondidos atrás de véus. Alguns obscurecidos pelo medo. Alguns sérios e penetrantes. Alguns sem expressão com aborrecimento. Desde o rosto de Adão até o rosto do bebê nascido em algum lugar do mundo enquanto você lê estas palavras, ele viu todos.

E você pode ter certeza de uma coisa. Entre as vozes que encontraram seu caminho para dentro daquela oficina de carpintaria em Nazaré estava a sua voz. Suas orações silenciosas pronunciadas em travesseiros manchados com lágrimas foram ouvidas antes de serem ditas. Suas perguntas mais profundas sobre morte e eternidade foram respondidas antes de serem perguntadas. E sua necessidade mais extrema, sua necessidade de um Salvador, foi conhecida antes mesmo de você pecar. Ele viu seu rosto na hora que você soube dEle pela primeira vez. Ele viu seu rosto envergonhado na hora que você caiu pela primeira vez. O mesmo rosto que olhou de volta para você por esse espelho de manhã olhou para Ele. E foi suficiente para matá-lo.

Ele foi embora por sua causa.

Ele deixou sua segurança com seu martelo. Ele pendurou sua tranqüilidade no cabide com seu avental de pregar. Ele fechou as venezianas da janela da sua juventude brilhante e trancou a porta do conforto e da facilidade do anonimato.

Uma vez que Ele podia pagar por seus pecados mais facilmente do que podia suportar pensar em Seu desespero, Ele escolheu ir embora. Não foi fácil. Deixar a oficina de carpintaria nunca tem sido.

Guia de estudo

  1. Note, Ele não tinha que ir. Ele tinha uma escolha. Poderia ter ficado. Poderia ter ficado com sua boca fechada. Poderia ter ignorado o chamado ou pelo menos o adiado.

    A. Jesus tinha uma escolha? Você acha que ele fez aquela escolha uma ou numerosas vezes? Você acha que Ele alguma vez duvidou que a humanidade valia o preço que Ele iria pagar?

    B. O que as seguintes passagens revelam sobre não só a prontidão de Jesus, mas Sua determinação em morrer pelos nossos pecados: João 10:11-18; Mateus 26:36-54; João 18:4-11; Filipenses 2:6-8; Hebreus 7:23-27?

    C. Em um pedaço de papel, em uma coluna liste tudo que Jesus escolheu abandonar por sua causa. Em uma segunda coluna, liste tudo que Ele pediu que você abandonasse por causa Dele.

  2. Ele viu seu rosto na hora que você soube dEle pela primeira vez. Ele viu seu rosto envergonhado na hora que você caiu pela primeira vez. O mesmo rosto que olhou de volta para você por esse espelho de manhã olhou para Ele. E foi suficiente para matá-lo. Ele foi embora por sua causa.

    A. É difícil conceber Jesus te vendo e te ouvindo séculos antes de você nascer? É difícil perceber que mesmo agora Ele vê e entende tudo sobre você? Como Jesus é uma realidade presente em sua vida?

    B. Para entender melhor quão bem Jesus conhece cada um de nós, leia as seguintes passagens: Salmos 139:1-18; Mateus 10:29-31; Hebreus 4:13. Que idéias eles dão?

    C. Leia um dos relatos Evangélicos sobre a prisão, o julgamento e a crucificação de Jesus (ex. Mateus 26:36 – 27:61). Você pode imaginar alguém escolhendo sofrer aquela dor e insultos especificamente por você? Você pode imaginar Deus escolhendo fazer isso? Por que Deus escolheu morrer por você?

    D. Como alteraria sua vida se um amigo morresse por você? Como modifica sua vida compreender que Jesus morreu por você?

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com

Do céu para a terra com amor

Ele não se intitulou “o reverendo Divindade Angélica da Santidade III”. Ele não insistiu em togas reais de pelúcia ou vislumbrantes ou cetros dourados vislumbrantes. Ele não veio nas asas de uma tropa celestial, viveu em um palácio celestial ou marchou à frente de uma guarda de honra angelical.

Ele era o filho de um carpinteiro em uma seção remota de uma nação oprimida. Ele era a maior surpresa de Deus. O coração do céu embrulhado em corpo humano. Se você esqueceu o que Ele realmente é – ou quer conhecê-lo melhor – continue lendo!

“Você quer dizer me que Deus se tornou uma criança…

Aquele que estava apresentando as perguntas era enigmático. Suas sobrancelhas densas enrugaram de dúvida e seus olhos inclinaram em precaução. Apesar de haver lugares para sentar, ele optou por não fazê-lo. Preferiu ficar em pé seguro atrás da multidão, sem ter certeza, mas intrigado com o que estava escutando. Do começo ao fim da leitura, ele escutou propositadamente, descruzando seus braços ocasionalmente para afagar seu queixo com barba. Agora, entretanto, ele se levantou direto, dando um soco no ar com seus dedos enquanto ele indagava.

e que Ele nasceu em um estábulo de ovelha?”

Ele olhava enquanto descia de uma das montanhas adjacentes do Colorado: coleção de chapéus, roupa macia, perneiras de náilon, botas de marchar. E ele examinou embora, honestamente, não soubesse se a história que estava ouvindo era uma lenda da montanha ou a verdade do Evangelho.

“Sim, é isso que eu quero dizer,” o professor respondeu.

“E então, depois de se tornar um bebê ele foi criado em um lar de operário? Ele nunca escreveu livros ou teve escritórios, mas ainda assim se intitula o Filho de Deus?”

“Está certo.”

O professor que estava sendo questionado era Landon Saunders, a voz do programa Heartbeat Radio. Nunca tinha ouvido alguém contar a história do Nazareno como Landon pode.

“Ele nunca viajou para fora de seu próprio país, nunca estudou na universidade, nunca morou em um palácio, mas ainda assim pedia para ser considerado como o criador do universo?”

“Está correto.”

Eu estava um pouco irritado por causa do diálogo. Tinha acabado de sair da faculdade, entusiasmado. Como ajudante voluntário na série de conferências, tinha ido com versículos memorizados e com respostas carregadas na câmara da minha arma evangélica. Entretanto, fui preparado para defender um estilo de vida, não um Salvador. Estava preparado para argumentar moralidade, doutrina, céu e inferno. Não estava preparado para debater sobre um homem. Jesus sempre foi alguém que eu somente aceitava. Essas perguntas eram muito agressivas para minha fé virgem.

“E essa história de crucificação… ele foi traído pelas próprias pessoas que ficavam com ele? Nenhum dos seguidores foi defendê-lo? E então foi morto como um ladrão pé-rapado comum?”

“Essa é a essência.”

A autenticidade da pessoa que perguntava não te permitia considerá-lo um cínico nem mandá-lo embora como um exibido. Ao contrário, ele parecia nervoso por chamar tanta atenção. Seu jeito desajeitado denunciou sua inexperiência em falar em público. Mas seu desejo de saber era apenas 30 ou 60 gramas mais pesado que seu desconforto, então continuou.

“E depois de morrer foi enterrado em uma sepultura emprestada?”

“Sim, ele não tinha sua própria sepultura nem dinheiro para comprar uma.”

A honestidade do diálogo manteve a audiência fascinada. Percebi que eu estava testemunhando um desses raros momentos quando duas pessoas querem questionar o que é santo. Ali estavam dois homens em lados opostos de um profundo abismo, um perguntando para o outro de a ponte que se estendia entre eles poderia ser realmente confiável.

Havia um palpite de emoção na voz do estudante enquanto ele cuidadosamente pronunciava a próxima pergunta.

“E de acordo com o que está escrito, depois de três dias na sepultura, ressuscitou e apareceu para mais de quinhentas pessoas?”

“Sim.”

“E tudo isso foi para provar que Deus ainda ama seu povo e providencia um caminho para que retornemos a Ele?”

“Certo.”

Eu sabia que pergunta estava vindo a seguir. Todos na sala sabiam. Poderia ter passado sem ter sido perguntada. Do fundo do meu coração, esperava que não fosse perguntada.

“Isso tudo não parece um pouco…” Ele parou um segundo, procurando pelo adjetivo certo. “Isso tudo não parece um pouco absurdo?”

Todas as cabeças viraram em perfeita sincronia e olharam para Landon. Todas as cabeças, isto é, exceto a minha. Minha cabeça estava girando enquanto era forçado a olhar para Jesus por um novo ângulo. Cristianismo… absurdo? Jesus em uma cruz… absurdo? A Encarnação… absurdo? A Ressurreição… absurdo ? Em minha escola dominical, Jesus foi tirado do flanelógrafo.

A resposta de Landon foi simples. “Sim, suponho que isso soe absurdo, não soa?”

Não gostei da resposta. Não gostei mesmo. Fale como fazia sentido! Faça um esquema das dispensations. Apresente as profecias cumpridas. Explique o cumprimento da Lei Antiga. Pacto. Reconciliação. Redenção. Claro que fazia sentido. Não permita que ele descreva as ações de Deus como absurdas!

Então comecei a cair em mim: O que Deus fez faz sentido. Faz sentido que Jesus fosse nosso sacrifício porque era necessário um sacrifício para justificar a presença do homem diante de Deus. Faz sentido que Jesus usasse a Lei Antiga para mostrar a Israel sua necessidade de graça. Faz sentido que Jesus fosse nosso Supremo Sacerdote. O que Deus fez faz sentido. Pode ser ensinado, colocado em gráfico e em livros sobre teologia sistemática.

Entretanto, por que Deus o fez é absolutamente absurdo. Quando a pessoa deixa o método e examina o motivo, os blocos de lógica cuidadosamente amontoados começam a desabar. Esse tipo de amor não é lógico; não pode ser traçado puramente em um sermão ou explicado em um limite de papel.

Pense sobre isso. Por milhares de anos, usando sua inteligência e simpatia, o homem tentou ser amigo de Deus. E por milhares de anos, ele decepcionou Deus mais que O exaltou. Ele fez todas as coisas que prometeu que nunca faria. Foi um fiasco. Mesmo o mais santo dos heróis às vezes esquecia do lado de quem estava. Alguns dos cenários na Bíblia parecem mais aventuras do Marinheiro Simbad que histórias para escola bíblica de férias. Lembra destes personagens?

Arão. Mão-direita de Moisés. Testemunha das pragas. Membro da “Expedição ao Leito do Mar Vermelho”. Sacerdote santo de Deus. Mas se era tão santo, o que estava fazendo liderando os israelitas em aeróbica ao pé do fogo diante do bezerro de ouro?

Os filhos de Jacó. Os pais das tribos de Israel. Tataranetos de Abraão. Mesmo assim, se eram tão especiais, por que estavam amordaçando seu irmão mais novo e vendendo-o para o Egito?

Davi. O homem segundo o coração de Deus. O rei do Rei. O matador de gigante e compositor. É também o rapaz que teve sua visão embaçada como resultado de um banho no teto. Infelizmente, a água não era sua, nem a mulher que ele estava olhando.

E Sansão. Desfalecido no sofá de Dalila, bêbado de vinho, perfume e luzes suaves. Ele estava pensando, Ela está vestindo algo mais confortável. Ela está pensando, sei que coloquei essa tesoura aqui em algum lugar.

Adão enfeitado em folhas de figo e manchado pelo fruto proibido. Moisés lançando um cajado e um chilique temperamental. O rei Saul olhando dentro de uma bola de cristal para saber a vontade de Deus. Noé, bêbado e nu em sua própria tenda.

Estes são os escolhidos de Deus? Esta é a linhagem real do Rei? Estes são aqueles incumbidos de realizar a missão de Deus?

É fácil ver o absurdo.

Por que Ele não desistiu? Por que Ele não deixou o globo girar fora do seu eixo?

Mesmo depois de gerações de pessoas que cuspiram em Sua face, Ele ainda as ama. Depois de uma nação de escolhidos tirar Sua roupa e rasgar seu corpo encarnado, Ele ainda morreu por eles. E mesmo hoje, depois de milhões escolherem se prostituírem ante os alcoviteiros do poder, da fama e da riqueza, Ele ainda espera por elas.

Isso é inexplicável. Não há um pingo de lógica nem uma linha de racionalidade.

E mesmo assim, é essa mesma irracionalidade que dá ao Evangelho sua maior defesa. Porque só Deus poderia amar assim.

Não sei o que aconteceu com aquele rapaz que fez as perguntas em Colorado. Ele desapareceu tão rapidamente quento veio. Mas estou devendo a ele. Ele me forçou a ver Jesus como nunca O havia visto antes.

No começo eu não O reconheci. Acho que estava esperando alguém em um vestido em movimento com mãos brancas de seda. Mas isso era Ele. O leão. O Leão de Judá. Ele saiu das densas árvores de ritual e teologia e repousou em uma breve clareira. Em sua pata havia uma ferida e em sua juba havia manchas de sangue. Mas havia realeza Nele que silenciava até a brisa nas árvores.

Realeza manchada com sangue. Um deus com lágrimas. Um Deus com um coração. Deus tornou-se o ridicularizado da terra para salvar suas crianças.

Como é absurdo pensar que tal nobreza iria para tal pobreza para compartilhar tal tesouro com almas tão ingratas.

Mas Ele fez.

Na verdade, a única coisa mais absurda que o presente é nossa teimosa má vontade em recebê-lo.

Guia de estudo

  1. Depois de uma nação de escolhidos tirar Sua roupa e rasgar seu corpo encarnado, Ele ainda morreu por eles. E mesmo hoje, depois de milhões escolherem se prostituírem ante os alcoviteiros do poder, da fama e da riqueza, Ele ainda espera por elas. Isso é inexplicável. Não há um pingo de lógica nem uma linha de racionalidade. E mesmo assim, é essa mesma irracionalidade que dá ao Evangelho sua maior defesa. Porque só Deus poderia amar assim.

    A. Você já teve a sensação de que a história de Jesus é absurda? Você conversa com pessoas que contestam a autenticidade da história? Como você responde a elas?

    B. Como estas passagens descrevem o amor de Deus: Romanos 5:6-8; Tito 3:3-8; Romanos 8:13-17, 31-39?

    C. Segundo 1 João 4:7-21, se realmente entendemos o amor de Deus por nós, qual é nossa reação em relação a Ele? Qual é nossa reação em relação aos outros? Como isso afeta nossa atitude com respeito ao julgamento de argila? Que sentimento não pode coexistir com o amor de Deus em nós?

    D. Quando você sentiu o amor de Deus mais intensamente? De que maneiras você expressa o amor de Deus para os outros? Como você expressa seu amor a Deus?

  2. Deus tornou-se o ridicularizado da terra para salvar suas crianças. Como é absurdo pensar que tal nobreza iria para tal pobreza para compartilhar tal tesouro com almas tão ingratas. Mas Ele fez. Na verdade, a única coisa mais absurda que o presente é nossa teimosa má vontade em recebê-lo.

    A. Como recebemos o presente da salvação de Deus? Por que você pensa que as pessoas não aceitam o presente da salvação de Deus?

    B. Examine as passagens seguintes que descrevem o povo rejeitando a salvação: Lucas 14:15-24; Romanos 9:30-32; 1 Coríntios 1:18-31. Segundo estas passagens, que atitudes impedem as pessoas de aceitarem o presente de Deus?

    C. Segundo estas passagens, quais são algumas das atitudes e ações que caracterizam aqueles que aceitam a salvação de Deus: Filipenses 3:7-11; 2 Coríntios 7:10, Efésios 2:8-9; Tiago 1:19-27?

    D. Qual é a atitude ou ação que é o maior desafio para sua salvação?

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com

Nossa tempestade foi seu caminho

Suponha que um dos discípulos de Jesus guardasse um diário. E suponha que esse discípulo tivesse escrito nesse diário na manhã seguinte à tempestade. E suponha que nós tivéssemos descoberto esse diário. Aqui está como se lería… suponho.

* * * * * *

Apenas há alguns minutos atrás, explodiu o caos.

Ah, como a tempestade foi estrondosa. As estrelas foram escondidas por um teto preto. As nuvens tornaram-se como fumaça. Disparos de relâmpagos eram o maestro que dava a deixa para os tambores do trovão ressoarem.

E eles ressoavam. As nuvens pareciam erguer-se como um urso sobre as patas traseiras e rugir. Os estrondos faziam tudo tremer: os céus, a terra, e – acima de tudo – o mar. Era como se o Mar da Galiléia fosse uma tigela nas mãos de um gigante dançarino. Das profundezas do lago vinham as ondas, tornando a superfície congelada em uma cadeia montanhosa de ondas com o topo de neve. Um e meio, três, até quatro metros e meio elas amontoavam no ar, subindo e caindo como andorinhas perseguindo mosquitos.

No meio do mar, nosso bote saltava. As ondas batiam nele tão facilmente como crianças em uma bola. Nosso esforço nos remos mal o mexia. Estávamos à mercê da tempestade. As ondas nos levantavam tão alto que sentíamos que estávamos em pleno ar. Depois mergulhávamos no vale.

Éramos um graveto em um remoinho…uma folha no vento. Estávamos indefesos.

Foi quando a luz apareceu. Primeiro eu pensei que aquilo fosse reflexo da lua, um brilho na superfície da água. Mas a noite não tinha lua. Olhei de novo. A luz estava vindo em nossa direção, não acima das ondas, mas através delas. Eu não fui o único que viu aquilo.

“Um fantasma,” alguém gritou. O medo do mar foi coberto por um novo terror. Os pensamentos corriam à medida que a aparição aproximava-se. Era um produto da nossa imaginação? Era uma visão? Quem? Como? O que era essa luz mística que parecia tão…?

Um brilho de raio iluminou o céu. Por um segundo consegui ver o rosto daquilo…o rosto dele. Um segundo foi tudo o que precisei.

Era o Mestre!

Ele disse:

“Coragem! Sou eu. Não tenham medo!” 1

Nada mudou. A tempestade ainda bramava. O vento ainda gritava. O bote ainda tombava. O trovão ainda fazia estrondo. A chuva ainda caía. Mas no meio do tumulto, eu podia ouvir Sua voz. Apesar de ainda estar longe, era como se Ele estivesse ao meu lado. A noite estava feroz, mesmo assim Ele falava como se o mar estivesse sereno e o céu silencioso.

E, de alguma maneira, veio a coragem.

“Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro por sobre as águas.” 2

Era a voz de Pedro. Ele não estava sendo insolente. Ele não estava exigindo prova. Ele estava assustado. Como eu, ele sabia o que aquela tempestade podia fazer. Ele sabia que o bote logo afundaria. Ele sabia que Jesus estava em pé. E ele sabia onde queria estar…onde todos nós queríamos estar.

“Venha,” Jesus pediu.

Então Pedro saiu de lado e pisou no mar. A sua frente abriu uma trilha através de uma floresta de ondas. Ele pisou rapidamente. A água respingou. Mas ele continuou indo. Aquele caminho para Jesus era faixa de tranqüilidade. Estava sossegado. Sereno.

Jesus irradiava luz no final da trilha. Sorrindo.

Pedro dava passos em direção à luz como se fosse sua única esperança. Ele estava na metade do caminho quando todos nós ouvimos o trovão. Fez um estrondo, e ele parou. Vi sua cabeça virar. Ele olhou para o céu. Olhou para as nuvens. Sentiu o vento. E afundou.

Cara como ele gritou!

Uma mão veio através dos lençóis de água e agarrou Pedro. O relâmpago brilhou de novo, e pude ver o rosto de Jesus. Percebi que seu sorriso tinha desaparecido. A mágoa cobriu sua face. Era como se Ele não pudesse acreditar que nós não conseguimos acreditar. O perigo para nós era um desvio para Ele. Queria perguntar a Ele, “Não está com medo, Jesus? Não está com medo?”

Mas eu não disse nada. Antes que eu percebesse, Ele estava conosco no bote.

O mar ficou calmo como seda.

Os ventos calaram.

Um desfiladeiro abriu nas nuvens; um luar suave caiu sobre a água.

Aconteceu instantaneamente. Não foi preciso o resto da noite. Não foi preciso uma hora. Não foi preciso um minuto. Aconteceu em um piscar de olhos.

Do caos para a calma. Do pânico para a paz. O céu ficou silencioso tão repentinamente que eu pude ouvir meu coração batendo. Pensei que estivesse sonhando. Então vi os olhos arregalados dos demais e senti minha roupa ensopada na minha pele. Não era sonho. Olhei pra a água. Olhei pro Pedro. Olhei pros outros. E então olhei pra Ele.

E fiz a única coisa que poderia fazer. Com as estrelas como minhas velas e o bote imóvel como meu altar, caí a seus pés e adorei.

Há momentos na vida de uma pessoa quando, até no meio deles, você sabe que nunca será o mesmo. Momentos que servem de cartões postais para sempre. Este foi um.

Nunca havia visto Jesus como O vi então. Eu O havia visto poderoso. Eu O havia visto sábio. Testemunhei Sua autoridade e fiquei maravilhado diante de Suas habilidades. Mas o que testemunhei a noite passada, sei que nunca vou esquecer.

Eu vi Deus. O Deus que não pode ficar sentado quieto quando a tempestade é muito forte. O Deus que permite que eu sinta medo o suficiente para que precise Dele e então chegue perto o suficiente para que eu possa vê-lo. O Deus que usa minhas tempestades com o Seu caminho até mim.

Eu vi Deus. Precisou de uma tempestade para que eu O visse. E eu nunca serei o mesmo.
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1 Mateus 14:27
2 Mateus 14:28

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com

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