Vácuo Primitivo

“Dizia eu: Meu Deus, não me leves no meio dos meus dias, os teus anos são por todas as gerações. Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obras das tuas mãos.” (Salmos 102:24,25).

O véu negro do abismo foi rasgado. Entraram os reflexos de luz fecundando a terra inatura e o vácuo foi primitivamente preenchido. O sopro do altíssimo foi o separador das águas. Uma pausa, e os astros cintilantes surgiram iluminando os céus. Assim os desígnios do Senhor foram manifestos e a terra foi iluminada. Meus olhos contemplam duas potências de sua criação. O sol e a lua marcam o tempo divino separando o dia da noite.

Nova pausa, novo ato. As cortinas se abrem, agora, com aroma da vegetação, e surgem os primeiros seres vivos. Aves, animais, répteis, palmilhando e povoando cada um seus espaços. Foi ,sem dúvida, majestosa obra concebida. O Criador estava admirando toda a grandeza, a força e o poder.

E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: “frutificai-vos e multipliquem-se”. Sua ordem foi precisa e ouvida… mas faltava, ainda, o componente que iria concluir Seu projeto. A peça essencial a expressar por definição seu amor. O homem.

Tomou, então, nas mãos um pouco de argila umedecida pela cerração virgem e, artesanalmente, modelou uma imagem semelhante a si mesmo. Entreolharam-se, e sopraram hálito divino no molde fazendo-o vibrar, dando-lhe vida. Estava criado o homem – servo dominador na terra. Então, paradoxalmente, resulta em dias breves e eternos.

Sentiu-se o homem isolado no imenso cenário que se chamava Éden. Novo ato, nova expressão de amor. Fez cair o homem no sono profundo e de forma cirúrgico-divina tomou uma de suas costelas e dela surge aquela que viria ser sua parceira idônea. A mulher.

Deus os criou: Homem e Mulher. Os artistas unidos entram em cena e começa o melodrama da humanidade.