Meditações sobre conceitos – Humildade

Amigos, no final do ano passado eu mencionei que muitas vezes nós “engolimos” conceitos sem pensar muito neles. A gente repete algumas frases e replica pensamentos, mesmo sem entender muito bem do que se trata. Sou implicado com isso. Será que estamos criando em nossas igrejas verdadeiros papagaios de pirata, que repetem o que os lobos do mar dizem, freqüentam os mesmos lugares, mas não passam de mascotes que não têm opinião própria? Será que ensinamos os outros a não pensar, a não ter senso crítico, a não questionar?

Seria pretensão, porém, propor-se a desvendar todos os mistérios e tirar todas as dúvidas do cenário. Alguns fazem isso. Tenho ouvido ensinadores que, seja pelo seu suposto conhecimento das línguas originais, seja pelo privilégio que tiveram de terem sido doutrinados por grandes e reconhecidos doutores, seja por uma certa empáfia pessoal, acham-se capazes e até responsáveis por ter todas as respostas a todas as perguntas. Isto não é saudável. Precisamos deixar espaço para o mistério. Nem tudo saberemos e não precisamos saber tudo.

Sugiro que o ideal é termos, cada um de nós, opiniões bem definidas e embasadas nos princípios da Palavra de Deus, de maneira que não fiquemos “na mão” dos papas evangélicos que existem aos montes por aí, nem tampouco nos deixemos levar por aquilo que chamo de “a sabedoria popular do imaginário evangélico”. Nem repetir o que se ouve, sem uma análise mais bereana, nem a arrogância de achar que se sabe tudo, que se tem a última palavra.

Quero propor alguns valores importantes para a vida cristã e brevemente analisar como tradicionalmente são conceituados. Pegue, por exemplo, o conceito de “humildade”. Faça o teste. Pergunte a umas 10 pessoas do seu círculo mais próximo, gente de igreja, o que eles entendem por ser humilde.

Volta e meia evoca-se esta nobre atitude em meio a uma discussão acalorada, especialmente quando não se tem mais argumento e precisa-se encontrar uma tábua de salvação, uma saída honrosa, dar uma aura de super-espiritualidade a uma causa indefensável ou perdida. É mais ou menos uma apelação à mediocridade.

Muitos irmãos acham que ser humilde é ser o falso modesto, aquela pessoa que acha que não é capaz de fazer nada, que não assume compromisso com a desculpa de que os outros podem fazer melhor.

Outros acham que ser humilde é ser ignorante. Não precisa estudar, não precisa tentar melhorar na vida. Na verdade, uma certa acomodação de alguns passa a ser uma virtude, quando é um defeito.

Ainda você achará alguns que pensam que ser humilde é não ter opinião. É ser uma espécie de “Maria-vai-com-as-outras”. São aqueles que não assumem suas posições, que fogem de ter que dizer claramente o que pensam.

Inegavelmente, a verdadeira humildade tem importância em todos os momentos e áreas da vida, inclusive na igreja. Ocorre que precisamos definir bem o que entendemos sobre “humildade”. A melhor definição de humildade que já ouvi é a do meu amigo e poeta Mário Machado: “Humildade é a arte de ser exatamente o que Deus quer que a gente seja, nem mais nem menos”. Bravo, Marião! Acertou na mosca.

A humildade verdadeira nos coloca em nosso devido lugar. Nossa tendência humana nos leva a querer ser mais do que somos. Nosso orgulho faz com que nos consideremos superiores aos outros. Só o que a gente faz está certo, só o nosso jeito é bom. Nessas situações, a humildade verdadeira nos leva a considerar os outros também, suas opiniões e preferências.

Porém, a pessoa verdadeiramente humilde também é aquela que não aceita ser menos do que Deus a fez. Paulo era humilde, mas isto não o impedia de defender veementemente seu apostolado, sempre que isso foi necessário. Jesus Cristo é o maior exemplo de humildade, mas ele não deixou de se auto-declarar “Igual ao Pai”, o que foi considerado até uma blasfêmia. Ser humilde é ser aquilo que realmente somos. Algumas vezes pode ser necessário deixar isso claro. Em todos os casos, porém, a humildade nos levará ao exato lugar onde Deus nos colocou.

A verdadeira humildade é o reflexo do caráter de Cristo. A falsa humildade é o reflexo do farisaísmo e da religiosidade.

Pensando bem:

“Humildade é a arte de ser exatamente o que Deus quer que a gente seja, nem mais nem menos.” Mário Machado