Duas vidas, duas escolhas

Ele era um homem robusto. Ela, franzina. Ambos, provavelmente, teriam completando sessenta anos naquele ano. O que tinham em comum? Quase nada. Acredito que eles nem sequer se conheciam. O que os unia ou lhes era comum a ponto de citá-los neste texto? Duas coisas os aproximavam: uma vida marcada pela dor e o sofrimento; e o fato de seus corpos estarem sendo guardados na mesma capela mortuária.

Fiquei ali, parada, um bom tempo, observando parentes e amigos entrando e saindo da capela, a fim de darem adeus.

O homem tivera uma trajetória marcada por trabalho árduo e grandes perdas. Em algum momento de sua história entregou-se a Jesus e desde então tornou-se um pastor. Era um homem simples cujo caráter havia influenciado muitas vidas.

Ela dedicou sua vida aos filhos e ao marido. Aos quarenta anos perdeu um dos filhos e desde então nunca mais foi a mesma. Trancou-se em casa. Não gostava de receber ou fazer visitas. Seu coração ficou ainda mais esmagado com a morte do marido e de um outro filho. Enclausurou-se por quase vinte anos. A tristeza tirou-lhe a força e por fim roubou-lhe a vida.

Duas vidas. Duas escolhas.

Saí do cemitério municipal com o coração apertado, e certa de que a vida é sempre uma escolha. Não podemos escolher que as circunstâncias adversas fiquem sempre do lado de fora de nosso portão. Não podemos escolher que as pessoas ajam da maneira que gostaríamos e que nunca nos machuquem. Não podemos optar por nunca envelhecer ou ter de dizer “adeus”. Não podemos decidir que crises financeiras jamais nos levarão à ruína e que nunca teremos de arregaçar as mangas e começar tudo de novo. A vida é uma selva e, de certa forma, sempre corremos o risco do inesperado nos assaltar.

Mas o que fazemos com a adversidade é uma escolha. Podemos nos entregar à tristeza como fez aquela senhora. Ou permitir que a fornalha quente derreta as impurezas de nosso caráter.

O sofrimento pode nos tornar poços de azedume ou pode fazer com que nos estendamos aos outros e nos tornemos instrumentos de amor e consolação. Como afirmou Paulo:

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.” II Co 1.3-4.

Onde colocaremos Deus em meio ao nosso sofrimento, também é uma escolha. Podemos achar que Ele não fez Sua parte e permitiu que algo ruim nos acontecesse. Podemos olhar para o nosso próprio umbigo e nos zangarmos.
Ou, podemos dobrar nossos joelhos e abrir nosso coração dizendo a Ele que não estamos entendendo, mas que queremos que a força dEle sobrepuje nossa fraqueza e, como Paulo, afirmarmos:

“Por isso, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo.” II Co 12.9.

Podemos permitir que o sofrimento escureça nossos olhos até que O percamos de vista. Mas podemos agarrar com força Suas mãos, mesmo no escuro, confiando unicamente em Seu coração. E ao final da tempestade afirmarmos como Jó:

“Eu te conhecia de ouvir falar, mas agora os meus olhos te vêem.” Jó 42.5.