Chiclete e o Big Bang

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A conversão do Chiclete
Chiclete aprende a orar

O pai do Jota, um dos amigos do Chiclete, era considerado bem inteligente. Professor de física respeitado, parecia gostar de questões polêmicas. O problema é que exatamente naquele Sábado em que a turma resolveu fazer aquele “happy hour” na sorveteria do Bola, o amado mestre, como era chamado pelos meninos em tom de ironia, se ofereceu de pagar a rodada. O duro foi quando o cara resolveu filosofar:

– A Terra originou-se de uma grande explosão atômica, chamada Big Bang, e a vida originou-se das duas uma: Ou a vida se formou aqui, a partir dos elementos químicos que deram origem ao nosso planeta (“Geração Espontânea”), ou a vida veio de fora, em estágio de desenvolvimento que pode ter sido mais ou menos complexo “Panspermia”, que significa mais ou menos que a vida foi semeada na Terra vinda do espaço.

O físico foi interrompido por Chiclete que arriscou:

– Não foi Deus quem criou a vida, a Terra e os planetas? – Jota enfiou um grande pedaço de pizza goela abaixo, pensando na grande besteira que seu amigo cometera. Agora meu pai vai ocupar um tempão explicando aquela baboseira, pensou desanimado.

O professor continuou empolgado:

– A cabecinha de vocês está contaminada pela religião que é o ópio do povo! Vocês devem se lembrar do que aprenderam na escola sobre a “geração espontânea”, essa teoria tem mais de 2.000 anos, e é aceita pela maioria dos cientistas do mundo.

Chiclete arregalou os olhos e pensou: “Isso ta me cheirando mal. Deus não é o Criador de tudo?” Com isto em mente, resmungou meio inseguro:

– Não teve ninguém, nenhum cientista que pensou diferente? Não tem outro jeito do planeta ter sido criado?

O professor, friamente, sem nem olhar para a cara de quem perguntou, como se ignorasse sua opinião, balançou a cabeça para os lados e disse com desprezo:

– Tem uns cabeças-de-bagre que acham que um Ser, que ninguém nunca viu, nem provou que existe, criou tudo… Cada louco com a sua mania!

– Sabe o nome de algum deles? – perguntou Chiclete, curiosa e corajosamente.

– A teoria da Geração Espontânea, tal como formulada por Aristóteles, só foi refutada definitivamente no século XIX, graças ao trabalho de Louis Pasteur – respondeu o professor.

– Isso quer dizer que esse tal Pasteur não concordava? – perguntou Chiclete. – Deve ser porque ele tinha uma Bíblia, né professor? – Acrescentou o menino, respirando aliviado, e sorrindo com ar de vitorioso.

– Era um bobão – disse o “amado mestre”.

– Mas, não foi ele que descobriu que a bactéria morre quando fervemos o leite ou a água? – Insistiu Chiclete.

– É, foi sim, e isso se chama pasteurização. Talvez ele tenha lido a Bíblia, mais do que os manuais de ciência. Mas sobre isso, nós conversaremos outro dia, agora tenho que ir. A propósito, deixei o dinheiro com o Jotinha, ele acerta tudo! Estude menino!

“Que alivio!”, pensou Chiclete ao ver o professor indo embora. Ele guardava no seu coração certa alegria por saber que alguém, como Ele, acreditava que a Terra e a vida foram criadas por Deus. E desde aquele dia resolveu colocar o nome do professor na lista de oração, pedindo ao Senhor que ajudasse aquele homem a entender a verdadeira história da Criação do mundo.

Chegando em casa, Chiclete foi logo pegando sua Bíblia, cheia de adesivos na capa, e abrindo bem no comecinho, e em seu quarto, leu em voz alta:
– “No princípio criou Deus o céu e a Terra…. E disse Deus: Haja luz e houve luz”
Sem planejar de antemão, e sem hesitar, ao ler essas palavras Cláudio Augusto gritou:

– Glória a Deus!

Ao perceber que tinha gritado, levou rapidamente a mão na boca, mas não adiantou, sua mãe já estava na porta.

– Que gritaria é essa , tarde da noite, menino?

– Nada não, mãe. Nada não.

– Vê se apaga a luz e dorme! Ah, faça oração antes de dormir.

Chiclete sorria por dentro, deitado com roupa e tudo, barriga pra cima, olhando o teto. Ainda a tempo, enquanto sua mãe saía lentamente, vendo a sombra dela no corredor, chamou: – Mamãnhêêê!

De longe ela respondeu e ele continuou:

– Me ajuda a orar pelo meu professor de física?

– Claro, meu filho – gritou sem entender do que se tratava.

Como toda boa mãe, Dona Ana voltou desconfiada e permaneceu caladinha atrás da porta até ouvir a voz do seu filho exclamar com uma expressão de alegria:

– Querido Pai, muito obrigado por que Tu és o Criador de tudo, muito maior do que o tal de Big Bang, e ainda conhece cada fio do meu cabelo lindo. Tu és maravilhoso!!!

Dona Ana concordou: “Amém!” E pensou alto: “Esse é o meu rapaz!”.

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Chiclete e o Carnaval