Fôlego

“Mas os que confiam no Senhor renovarão as suas forças. Subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; andarão sem desfalecerem.”[1]

Raísa tem oito meses. É portadora de uma forma de câncer extremamente agressiva. Logo aos três meses de nascida foi diagnosticado que uma enorme massa crescia em seu cérebro comprimindo parte do tecido cerebral, causando convulsões. De tão agressivo e disforme, o patologista não sabia dizer na biópsia se aquilo era um tumor ou simplesmente uma massa sem forma. Finalmente, após um consenso conseguiu-se definir: era tumor. Não se sabia que tipo específico, mas era tumor. Prontamente foi instituída quimioterapia.

Raísa suportou bem as várias sessões a que foi submetida. Como a circunferência de sua cabeça continuava crescendo, foi instalada uma válvula, que impediria que a cabeça continuasse a encher-se de líquido indiscriminadamente, drenando o líquido para o abdome da criança.

Esta medida trouxe algum alívio para os sintomas neurológicos, porém criou um novo problema: A quantidade de líquido drenada pelo abdome era maior que a capacidade de reabsorção e Raísa começou a acumular líquido na barriga. Isto restringia seus movimentos respiratórios.

Atendi Raísa hoje com um enorme volume de líquido dentro da barriga. O quadro era dramático. A mãe da criança chorava dizendo ser já a terceira vez desde o início da doença que aquele quadro se repetia. A criança estava sofrendo pela dor da distensão abdominal e também pelo intenso esforço para poder respirar.

Prontamente acionei ao cirurgião de plantão que, como medida de urgência, retirou do abdome da pequena Raísa mais de dois litros de líquido. À medida que o líquido ia sendo retirado, a respiração foi se normalizando e, ao final do procedimento, a pequenina dormia como um anjo, tamanho seu cansaço respiratório.

Celandi tinha mais de 50 anos. Fumante. Possuía um tumor de pulmão bastante comum em pessoas que fumam e de natureza bastante agressiva. Foi internado uma semana antes de Raísa por causa de uma insuficiência respiratória. Celandi não tinha mais área pulmonar útil. Seu pulmão fora tomado quase por completo pelas células tumorais.

Fui chamado para acudi-lo em eu quarto. Quando lá cheguei encontrei um homem de fácies extremamente sofrida, com intensa falta de ar. Sua mínima área pulmonar funcionante estava entrando em edema pulmonar[2]. Instituí rapidamente a terapêutica, consegui retirar o líquido do pulmão, mas o paciente mantinha o quadro de falta de ar. Ele faleceu 24 horas depois.

Muitas vezes na nossa caminhada com Deus, nos vemos sem fôlego. Não temos muita coragem para prosseguir. Não estamos dispostos a fazer as mudanças necessárias. Nos sentimos fracos. Gostaria, porém, de ressaltar que há dois tipos de ‘falta de fôlego espiritual’.

Raísa tem um pulmão saudável. Ela só não conseguia respirar porque algo externo (o líquido abdominal) comprimia e impedia a respiração. Muitos irmãos não conseguem prosseguir na jornada cristã porque sofrem impedimentos externos. Saúde, disposição interna, condições financeiras, situação familiar desfavorável, igreja distante, etc… são alguns entre muitos fatores externos que sufocam os cristãos.

Celandi não tinha nada externo que o impedia de respirar. Ele não tinha pulmão saudável. Muitos cristãos estão sempre cansados, nunca estão disponíveis para o Senhor, nunca estão dispostos a buscar o Senhor intensamente. Infelizmente, o pecado, o comodismo, a secularização está devorando o vigor de muitos cristãos nos dias de hoje.

Quero mostrar uma mensagem de esperança através destas histórias tão tristes: Amado, se você não está encontrando fôlego para prosseguir a caminhada, ouça o que Jesus te diz: “Mas alguns virão ter comigo, aqueles que o Pai me deu, e a esses jamais mandarei embora.”[3] O Senhor está pronto a te perdoar e renovar teu fôlego, te dar novas perspectivas. Para que isto aconteça, no entanto, é preciso que você seja liberto das coisas externas que estão te comprimindo e/ou seja restaurado das que estão consumindo suas forças.

Notas:

[1] Isaías 40:31 (IBS) [2] Edema pulmonar é uma situação em que os pulmões ficam repletos com líquido, o que impede a troca de oxigênio. É um quadro gravíssimo. [3] João 6:37 (IBS)