Testemunho

Dúvidas profundas e perguntas importantes confrontam jovens e adolescentes de todo o Brasil que se convertem a Cristo. Não há nada mais comum e natural do que ter dúvidas. Não existe erro nenhum nisto. Deus nos fez seres curiosos.

Nossas dúvidas nos movem a tomar algumas atitudes: Há os que procuram por si só a resposta e, uma vez encontrando, não questionam mais. Há outros que procuram uma pessoa mais experiente e obtém desta pessoa a resposta para sua pergunta. Estas também, depois de satisfeitas não questionam mais.

Há ainda os que têm uma dúvida, mas não têm interesse em saber a resposta, talvez porque esta dúvida não seja tão profunda quanto parece. E, por fim, há aqueles que têm muitas dúvidas, contudo não admitem isto.

O problema não está em ter dúvidas. O problema do jovem e adolescente cristão brasileiro está relacionado ao Julgamento Crítico das informações que recebe.

Aprendi muito durante minha jornada cristã. Gostaria de lhes contar o que aprendi com meu primo William. Ele é um ano mais velho que eu. Fomos criados praticamente juntos. Eu em um lar cristão, e ele em um lar não-cristão. Eu me converti aos 7 anos de idade, ele aos 17 – eu em uma igreja tradicional, ele em uma igreja pentecostal. Temos inúmeras diferenças. Contudo, nunca deixamos de nos falar por qualquer motivo. Ficamos um pouco afastados durante nossa adolescência, porém nos unimos muito, logo após a sua conversão. William se converteu através de um trabalho da mocidade da Igreja Batista Missionária de Ipatinga (MG). Logo após sua conversão, pude presenciar uma sede tremenda pela Palavra de Deus. Ele orava por horas seguidas. Lia porções generosas da Palavra, comprou comentários bíblicos, estudava, participava de praticamente todos os cultos da sua igreja.

Eu morava em na cidade vizinha, Coronel Fabriciano (MG), uns 19Km de distância de Ipatinga e um dia resolvi passar o fim de semana na casa do meu tio.

Queria ver de perto meu primo `crente`! Ao chegar lá fui surpreendido por um William que eu jamais havia conhecido. Sua face era diferente. As olheiras das noitadas haviam desaparecido, as roupas negras agora estavam coloridas. O rosto dele parecia o de outra pessoa! E não foi só a aparência que mudou: seus hábitos, seu jeito autoritário haviam amenizado muito dentro do seu lar. Aquele final de semana foi maravilhoso para mim! Jamais esquecerei! Mas nem tudo foi lindo!

Na tarde daquele sábado, ao sentar-me na mesa para tomar um café, ouvi minha tia dizer-me a seguinte frase; O Willliam depois que converteu ficou muito esquisito. Eu até achei bom ele ir para a igreja, mas não precisa orar tanto, não precisa ler tanto a Bíblia. Ele podia ser um crente assim, meio igual a você, que conta piadas, fala uns palavrões de vez em quando, lê a Bíblia mas não fica enchendo as pessoas. O William deu pra incomodar os vizinhos falando de Bíblia e igreja. Eu queria que ele fosse um crente igual a você.

Eu fiquei boquiaberto! Por muito tempo eu estava satisfeito com o `nível espiritual` que eu havia alcançado! Eu me converti aos 7 anos, lia a Bíblia diariamente, conhecia diversos missionários e conhecia trechos da Palavra de cor. Achava que meu nível de intimidade com Deus era excelente! Eu não tinha vícios, não desobedecia a meus pais, tirava boas notas. Na minha igreja, eu dava aulas para classe de novos convertidos, participava do ministério de louvor, preguei pela primeira vez em um domingo à noite aos 15 anos de idade. A palavra de minha tia naquela tarde derrubou tudo aquilo que eu achava que era e tinha. Durante aquela noite eu não consegui pensar em outra coisa que não fosse hipocrisia. Eu era um hipócrita! Eu vivia um cristianismo mascarado.

Tudo ao meu redor, minhas atitudes externas e mesmo as internas refletiam uma pessoa que vivia uma fé morta, longe da graça, longe do amor, longe da intimidade com Deus. Mesmo pregando sobre graça, amor, intimidade com Deus, mesmo conhecendo a base bíblica para todos os meus atos exteriores, meu coração estava corrompido por um profundo desejo interno de me acomodar com o mundo. Eu não queria que as pessoas se incomodassem com a minha fé. Não queria que meus atos as ofendessem, por isso, inseri por minha conta elementos mundanos na minha personalidade. Agora tudo isto estava à mostra! Eu estava profundamente humilhado, apesar de não deixar transparecer isto. Me senti derrotado, frustrado.

Por algum tempo, confesso, não tive coragem para iniciar qualquer mudança em relação a isso. Até que, após ouvir alguns sermões – eu era tão orgulhoso que quando outra pessoa pregava e não tinha um português correto ou fazia uma hermenêutica infeliz eu zombava e não prestava atenção – Deus começou a falar ao meu coração. Comecei a orar. Como eu não sabia orar (minhas orações nunca passavam de 5 minutos!), pedi ajuda ao William. Ele me ensinou muitas coisas a mais além da oração. Noutro tempo eu jamais admitiria que um neófito me ensinasse alguma coisa – meu orgulho não deixava!

Louvo a Deus pela conversão do meu primo. Louvo a Deus por aquele final de semana, não só por ver alguém que eu amava tendo um encontro real com Jesus, como também pela oportunidade que o Espírito de Deus teve de usar uma pessoa incrédula para dizer que eu estava me comportando como tal.

Afirmo hoje, que meu processo de viver pela graça, pelo amor e crescimento em intimidade com Deus iniciou-se nesta época. Eu já havia crido em Cristo, já trabalhava na Obra, mas eu não conhecia o Senhor da Obra, eu não vivia a graça e o amor, eu não amava o próximo, eu não tinha intimidade com Deus.

Viver a vida cristã com maturidade e responsabilidade não envolve somente atitudes exteriores corretas. Não envolve somente participar de eventos com a comunidade. É preciso Viver a GRAÇA, não somente conhecê-la.