Espiritualidade para o ano que vem

Amigos, entramos no derradeiro mês da primeira década do Terceiro Milênio. Para aqueles que achavam que tudo acabaria no ano 2000, nota-se que as previsões terão que ser refeitas. Na verdade, nada impede que esta era acabe ainda antes do fim deste ano. Se isto acontecer, o fim do mundo estará mais próximo e, para nós, cristãos, a fatura estará quitada. Se não acontecer e Deus nos conceder que ainda vivamos neste Planeta por mais algum tempo, talvez seja prudente reavaliar nossa agenda e redefinir nossas prioridades.

Percebo que alguns temas entraram definitivamente na pauta dos cristãos evangélicos. Tenho dito a amigos próximos que temos feito excelentes perguntas, mas talvez estejamos endereçando nossas dúvidas às pessoas erradas. Filósofos sabem fazer perguntas, mas raramente conseguem dar respostas convincentes. Não tenho dúvidas de que foi por este motivo que o apóstolo Paulo recusou-se a dar aos gregos o pretenso saber que tanto buscavam. Igualmente não quis entrar na pilha dos judeus místicos, que queriam sinais e maravilhas. As duas pontas são instáveis e não podem constituir a base da nossa fé.

Vejo com apreensão uma tentativa de embrulhar o Evangelho com um papel bonito e atraente, para torná-lo palatável e relevante à mente do homem pós-moderno. Há um engano fatal neste empreendimento. Uma coisa é compreender a mente do homem atual e endereçar a mensagem de forma inteligente a este homem. Outra coisa, completamente diferente, é tentar amoldar o Evangelho inegociável de Jesus às filosofias e tendências que freneticamente assolam a mente humana. Quando os únicos a aplaudir o que dizemos são aqueles que deveriam se opor a ele, alguma coisa está errada. Não há nenhuma necessidade de buscar uma “nova espiritualidade”, como propõem os iluminados redescobridores da roda, que ocupam o espaço supostamente progressista do povo evangélico da atualidade. Alguns, aliás, consideram-se grandes pensadores, mas estão mascando bobagens antigas e repisadas. Nem são originais. Quem lê inglês, vai saber de onde tiram cada linha que cospem por aqui, antes que alguma editora resolva traduzir e publicar.

O grande diferencial do Cristianismo sempre foi exatamente sua capacidade de ser uma mensagem de confronto absoluto. Você nunca vai ouvir qualquer dos apóstolos tentando mostrar a compatibilidade entre o Evangelho da Cruz e a filosofia, o misticismo ou qualquer outra teoria humana. Simplesmente porque eles representam água e óleo. Não se misturam. Não têm nada em comum. Inglória é a tarefa daqueles que querem manter o pé em duas canoas. Mais cedo ou mais tarde vão cair no lago, para vergonha e miséria deles e de seus seguidores.

Acontecem dois problemas fundamentais na mente de quem aplaude esses abutres da teologia: primeiro, eles não conhecem o Evangelho. Conhecem alguns fatos isolados, mas não conhecem a essência da mensagem apostólica. Se conhecessem, não aplaudiriam tão entusiasticamente aqueles que, usando a Bíblia, propõem uma união de forças, reduzem o cristianismo verdadeiro a uma religião (ainda que, para tentar justificar sua posição, afirmem que é uma religião “diferente”). Se conhecessem, não veriam nada de positivo naquilo que Deus rejeitou. Esta postura só se justifica por aqueles que querem agradar gregos, troianos e diabólicos. Quem quer agradar a Deus não pode se preocupar em “ser respeitado” nem em “ser aceito” por quem quer que seja. Segundo, aplaudem porque estão ouvindo o que querem ouvir. Estão doidos para ter o que consideram o melhor dos dois mundos: querem a salvação de Deus, sem ter o compromisso com Deus. Querem viver suas vidas do jeito que acharem melhor, sem ter ninguém que os possa deter. Esta mensagem rala que vem sendo pregada traz no seu bojo exatamente esta proposta.

Lamento profundamente que haja tantos holofotes voltados para estes safados travestidos de pastores. Lamento que se chame de “espiritualidade” esta mistura nojenta e incompatível, que tenta colocar no mesmo caldeirão a Bíblia (que é chamada por esta corja imunda de “autoridade máxima”, ao mesmo tempo em que é sorrateiramente negada como verdade absoluta), a filosofia, a sociologia, a psicologia, o capitalismo e a tolerância – aliás, tolera-se tudo, menos os absolutos da Palavra de Deus. Coloca-se tudo no mesmo nível. O discurso é ortodoxo. Quem escuta o que eles dizem até acham que eles acreditam mesmo na Bíblia como a revelação maior e autoritativa da parte de Deus. Mas quando você vai olhar por baixo da casca, você vai perceber que não é bem assim. Para essa gente, não importa se a vela está acesa para Deus ou para o diabo. O que importa é acender a vela. Esta é a espiritualidade que interessa a eles. É isto que os fascina. Nem chegam a cogitar que Deus abomina a vela também. Mas, que importa? Não podemos falar nisso, porque isso, para estes falsos mestres, nada mais é do que “uma insensata discussão religiosa”.

Quero buscar uma espiritualidade para o ano que vem que não mude depois do ano que vem. Que tenha referências seguras. Que seja uma âncora para a alma. Quero experiências novas com Deus, que possam ser vividas a cada dia, mas não quero ficar ao sabor das tendências dos teólogos de blog, que são craques na comunicação, mas que são uma lástima no conteúdo. Não surpreende que tenham tantos admiradores. Vivemos a época em que vale mais o número de seguidores no Twitter do que o conteúdo que tenham a oferecer. Enquanto Paulo se revoltou com a idolatria ateniense, pastores atuais voltariam de lá pregando “a beleza da diversidade cultural grega”.

Chegou a hora de decidirmos que caminho vamos seguir. Embora tenha certeza de ser minoria, não me importo em deixar bem claro que sigo outra estrada, bem diferente desta que vem sendo proposta. Eu a rejeito com todas as minhas forças, ainda que vá sozinho.