E agora, George?

Amigos, há algum tempo atrás muitos leitores ficaram bravos comigo porque não concordei com a decisão dos Estados Unidos de invadir o Iraque. Disseram que nós todos precisávamos apoiar Bush, porque ele é um cristão. Houve quem me acusasse de ser anti-americano. No meio evangélico aqui e lá, alguns foram à televisão para defender o presidente COMO cristãos. Nas entrelinhas e até mesmo nas linhas, diziam que era dever de toda a igreja cristã no mundo apoiar as ações terroristas de “anti-terrorismo” que os EUA protagonizavam desde então. Tudo era justificável naquele momento. Uma nação ferida no seu orgulho tem o direito, segundo alguns dos mais renomados ensinadores cristãos quiseram defender, de revidar com força desproporcional, matar civis e tirar a autonomia de um outro povo.

Agora, meses depois, as coisas começam a tomar um rumo incontrolável. Como se não bastasse a mentira pinoquial das armas químicas e de destruição em massa, que nunca apareceram, agora surgem na Internet e em toda a mídia as revelações estarrecedoras e comprometedoras de que os soldados americanos estão abusando e torturando seus prisioneiros de guerra. Pior do que isso, o Pentágono sabia de tudo e não tomou qualquer providência a respeito. Uma vergonha. Mais uma vez está desmaracada a farsa da “luta pela democracia”. Mais uma vez está exposta a face oculta e perversa da América. Mais uma vez se evidenciam os espúrios motivos pelos quais essa guerra existe.

Gostaria de saber o que têm a dizer agora aqueles que apóiam Bush “como cristão”. Que postura deveria ter um cristão em relação a isso tudo? Essa cara cândida e deslavada de vir a público para parabenizar seus subordinados? A pouca vergonha de dizer que o mundo está mais seguro hoje? Por que de repente essas vozes do “cristianismo” silenciaram completamente?

Li recentemente um livro de uma família de judeus que se converteu a Jesus Cristo. Em seu testemunho, o homem conta como ele e seus irmãos e primos cresceram odiando qualquer um que não fosse judeu, porque para eles, todo mundo que não era judeu, era “cristão”. Portanto, os nazistas eram “cristãos”. Todos os que os xingavam na escola eram “cristãos”. Todo o sofrimento e perseguição pelos quais seu povo passava era promovido por “cristãos”. E por isso ele odiava os “cristãos” e, conseqüentemente, rejeitava violentamente a Cristo.

Qualquer pessoa realmente cristã sabe que seu raciocínio era uma estupidez. É verdade que a maioria das igrejas cristãs silenciaram diante do nazismo e algumas até cooperaram com ele. Mas o verdadeiro cristianismo jamais tomaria parte nesse massacre. A Inquisição foi realizada por uma igreja idólatra e apóstata, uma excrescência do Cristianismo verdadeiro. Não se pode culpar os “Cristãos” por ela. Os autênticos cristãos foram os que mais sofreram com isso.

E aí meu leitor se pergunta: o que isso tem a ver com as denúncias de tortura e com a guerra no Iraque? O que tem a ver é que para um muçulmano, todo o Ocidente é “cristão”. Para eles, Bush e seus assassinos são todos cristãos. Os imbecis pérfidos, imorais e animalescos que tomam conta dos prisioneiros de guerra, abusam sexualmente deles, humilham-nos e torturam, sim, para os muçulmanos esses são “os cristãos”. Representam o que eles consideram a “religião de Jesus”. E com isso nutrem cada vez mais ódio mortal contra todos aqueles que, sendo verdadeiramente cristãos, nada têm a ver com isso e, na sua maioria, reprovam completamente não só a guerra como também toda arbitrariedade e todo crime que se cometa contra a humanidade.

O resultado disso tudo é trágico para o desenvolvimento do Evangelho. Os missionários que trabalham em países muçulmanos sentem na pele o aperto que essa situação tem causado. Os servos de Deus de nacionalidade americana ou inglesa, mesmo não trabalhando em áreas islâmicas, acabam sofrendo com o sentimento anti-americano que vai sendo reforçado por essas atitudes. E assim o “irmão Bush” continua contribuindo grandemente com o lado oposto. O diabo deve estar felicíssimo com um aliado tão inesperado e poderoso.

É uma pena que tanta gente boa e consciente não consiga enxergar isso e continue calada, sem se posicionar abertamente a respeito da questão.