A fórmula da hipocrisia

Coar mosquitos e engolir camelos

Os hipócritas estão por todas as partes do globo. Nesse momento eles podem estar dirigindo seus veículos, fazendo comícios, escrevendo artigos, obstruindo maratonistas, administrando empresas ou ainda, quem sabe, lendo este texto (cada um julgue-se a si mesmo). Pode ser um adolescente ou um adulto. Negro ou branco. Rico ou pobre. Catedrático ou indouto. Não interessa! A hipocrisia está por todos os lados. Lares, trabalhos, faculdades e igrejas estão infestadas. Ela não faz acepção de pessoas nem se preocupa com a cotação do dólar.
Na maioria das vezes ela tenta se esconder. Aliás, a discrição é uma de suas características marcantes, ao lado da falta de vergonha e da esperteza. Porém, basta somente uma frase ou um ato para ela surgir. Com aparência de quem roubou o doce de uma criança ou empurrou um bêbado ladeira abaixo, surge com as “mãos sujas” dizendo: “não fiz nada de errado!”.

As máscaras teatrais da hipocrisia

Em suas apresentações os atores gregos e romanos tinham o costume de usar grandes máscaras, munidos de dispositivos mecânicos para aumentar a força da voz. Assim, a palavra hipócrita (do grego hypokrisis), veio a ser usada metaforicamente para descrever o fingimento, o disfarce ou a dissimulação que era representada em palco pelos atores. Nas palavras de Shakespeare: “Ah, quanto o homem pode esconder dentro de si, apesar da aparência de anjo!”.
Saindo dos palcos para a vida real, a hipocrisia não se caracteriza por um mero fingimento ou uma simples falsidade. O mentiroso reincidente, que todos da sociedade sabem das suas falsas afirmações, não é um hipócrita, antes um desarvorado enganador. O hipócrita é aquele que age de maneira diferente das suas convicções, palavras e demais ações em face da ausência da moralidade. É o fracasso em praticar aquilo que se prega, ou ainda, apesar de praticar corretamente as coisas vulgares da vida, passa por cima daquelas que possuem valores essenciais. Mas a hipocrisia não pára por aí. Existe ainda o auto-engano. Pessoas que enganam a si mesmas; parecem negar ou não acreditar naquilo que sabem ser verdade.

Coadores de mosquitos e engolidores de camelos

Jesus tinha uma maneira peculiar de chamar os hipócritas: “atadores de fardos nos ombros do outros” (Mt. 23:4), “amantes dos primeiros assentos” (Lc. 11:13), “estorvo da porta do reino dos céus” (Mt. 23:13), “devoradores das casas das viúvas” (Mt. 23:14), “dizimistas de hortelã” (Mt. 23:23), “limpadores do exterior dos copos” (Mt. 23:25), “sepulcros caiados” (Mt. 23: 27), “serpentes e raça de víboras” (Mt. 23:33). No entanto, o termo mais apropriado é aquele empregado pelo Mestre em Mt. 23:24: “Condutores cegos! Que coais um mosquito e engolis um camelo”. Assim, aos atores da hipocrisia restou a medonha denominação “coadores de mosquito e engolidores de camelos”.

O Mestre Jesus, quando proferiu essas palavras, direcionou-as aos fariseus da época. Naquela feita seu objetivo era demonstrar aos religiosos a divergência entre o que eles pregavam contraposto ao que faziam. Cuja religiosidade impulsionava-os a preocuparem-se mais com coisas insignificantes da vida em detrimento dos verdadeiros valores espirituais: o juízo, a misericórdia e a fé (Mt. 23:23). Entretanto, a hipocrisia não é um instituto afeito somente aos religiosos, mas a todos quantos continuamente permanecem por trás das máscaras da falsidade em suas condutas teatrais.

Côa um mosquito o pai de família que proíbe o namoro de sua filha de dezesseis anos, porém, engole um camelo pelo fato de possuir uma amante fora do lar, levando uma vida de promiscuidade. Côa um mosquito o empresário que acusa desenfreadamente o ladrão de bicicletas, porém, engole um camelo com a sonegação fiscal da sua empresa. Côa um mosquito o político que diz trabalhar em prol da sociedade, porém engole um camelo ao envolver-se nas teias da corrupção. Côa um mosquito o irmão da igreja que cobra o uso de determinado tipo de roupa como sinal de santidade, porém, engole um camelo ao desprezar os mais necessitados que minguam ao seu lado. Côa um mosquito aquele que cobra o pagamento do dízimo, porém, engole um camelo por não refrear sua língua, que conduz dezenas de obscenidades e mentiras.

A fórmula

E por aí vai esse processo de coar e engolir, coar e engolir, coar e engolir (…). As máscaras da hipocrisia tapam para que os outros não vejam os seus próprios erros. Cobram para não serem cobrados. Requerem para não serem requeridos. Acusam para não serem acusados. Essa é a fórmula da hipocrisia: coar mosquitos e engolir camelos. Nas mãos possuem um pequeno coador que investiga os erros dos outros. No estômago, milhares de camelos, frutos das suas faltas pessoais. O coador filtra os mínimos pecados alheios. A garganta, que é o coração, observa a passagem de uma manada dos seus pecados.
Como atores profissionais, têm a capacidade de interpretar, fingir, enganar e até chorar se necessário. As máscaras demonstram homens ideais e mulheres perfeitas, cuja aparência é digna de prêmio de integridade. Porém, chega o momento em que o camelo “entala” nas gargantas. A máscara é removida, quando não estilhaçada. Vislumbra-se, então, o ser humano na sua essência: Arrogância, infidelidade, mentira.

Três homens: três atitudes

Segundo Bill Hall, três homens rebelam-se contra a hipocrisia, mas diferem grandemente em suas reações. O primeiro se volta para o total abandono moral. Ele se endurece à vista das lágrimas de sua família quando parte para fazer o que quer. Sua justificativa para sua conduta vergonhosa: “Pelo menos não sou hipócrita!”.

O segundo homem vai a um extremo oposto. Ele está cheio das fraquezas e hipocrisia que vê em todos os lugares, e não quer ser como tais pessoas. Ele se tornará um cristão e desde o começo “ele vai vivê-lo”. Ele será um exemplo do que um cristão realmente deveria ser. Para ele, a cura para a hipocrisia é a perfeição.

O terceiro homem quer evitar a hipocrisia em sua vida, mas ao mesmo tempo, tem um profundo senso de sua própria imperfeição. Por isso ele não se dá ares de infalibilidade, mas parte para ser genuíno. Sua autenticidade logo se torna visível para os outros. Ele não declara sua perfeição, mas luta pela perfeição. Quando vai para o seu trabalho, ele não declara sua perfeição entre seus companheiros de trabalho, mas eles sabem que ele tentará dar oito horas de trabalho por oito horas de pagamento; que ele é confiável; que ele é puro no falar e no viver; e que se ele cair em tentação pelas pressões à sua volta para pecar, ele humildemente pedirá desculpas às pessoas ofendidas. Ele é o mesmo no lar. Sua família respeita-o porque ele é genuíno e não declara ter força e bondade além da realidade. Sua família vê suas faltas, mas uma qualidade que lhe permite manter o respeito deles é sua capacidade de dizer, “Desculpe”. Em todas as áreas de sua vida ele anda humildemente diante de Deus e de seus companheiros.

O terceiro homem encontrou a verdadeira cura para a hipocrisia.

O primeiro homem, se não se arrepender, um dia será um mísero infeliz e sua vida completamente destruída. O segundo homem está a caminho da desilusão. Suas metas são irreais, sua perspectiva é totalmente errada. Mas o homem que “anda humildemente com Deus” e é totalmente livre de malícia é verdadeiramente um homem abençoado. Ele é na vida e na atitude o que Deus deseja que ele seja, e vive na esperança do céu.

Que Deus nos ajude a fugirmos da hipocrisia!