Pregar com vontade, pregar com estratégia

“Por causa da esperança que vos está preservada nos céus, da qual antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho, que chegou até vós; como também, em todo o mundo, está produzindo fruto e crescendo, tal acontece entre vós, desde o dia em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na verdade” (Colossenses 1:5-6).

Paulo afirma neste versículo, que o mundo inteiro (conhecido na época) havia sido evangelizado, e mais, estava produzindo fruto e crescendo ainda mais. Quando paramos para analisar estas palavras, questionamos como poderia ser isso possível, visto que muitos países hoje em dia ainda não ouviram falar do Senhor Jesus. Será que temos trabalhado na seara de forma errada, o que causaria a ineficiência de hoje? Como seria o trabalho correto, então? Vejamos o contexto da época dos apóstolos e como era feito o trabalho de anunciação das Boas Novas.

OS ASPESTOS FACILITADORES DA DIFUSÃO DA FÉ CRISTÃ NO MUNDO GRECO-ROMANO

O Apóstolo Paulo definiu como a plenitude dos tempos (Gl 4:4) o momento histórico no qual Cristo encarnou e, de maneira transformadora, penetrou a realidade humana. De fato, a conjuntura que caracterizou o primeiro século foi por demais beneficente para o alastramento da fé cristã, a própria política romana que, em dados momentos, tão severamente perseguiu, acabou, por outro lado, legando àquela geração cristã uma relevante contribuição para o sucesso de sua missão evangelizadora. Essa contribuição política, associada à influência cultural grega e à participação religiosa dos judeus da Dispersão (ou Diáspora), transformaram o primeiro século num fertilíssimo campo missionário transcultural.

A facilidade na locomoção também foi um fator importante para que o evangelho chegasse em praticamente todo o mundo conhecido na época. Roma possuía vias que ligavam todos os pontos do império, chegando, ainda nos tempos apostólicos, a extraordinária marca de 100.000km de extensão. Para que se tenha uma idéia mais precisa, basta dizer que, até 1980, o Brasil, em sua proporção continental, possuía menos de 190.000km de rodovias, menos de o dobro daquilo que os romanos edificaram há 2.000 anos atrás!

As rotas marítimas ofereciam, de igual modo, uma perspectiva bastante animadora para aqueles que delas se valiam com intenções missionárias.

Até mesmo a universalidade das línguas grega e latina que o mundo conhecia de modo natural, ofereceu um panorama lingüístico indubitavelmente favorável à veloz difusão do evangelho, tanto nas grandes concentrações urbanas, como nas regiões mais afastadas do Império.

A decadência religiosa dos povos conquistados por Roma foi outro fator importante para a difusão do evangelho. Embora tenha se tornado uma verdadeira coqueluche no princípio da era cristã, o sincretismo religioso não abrandou o grande vácuo espiritual deixado no coração de muitos dos cidadãos de então. A desilusão com a multiplicidade de deuses do panteão romano, somado a uma crescente busca pelo espiritual, levou os cidadãos à compreensão do plano divino para a salvação do homem.

A VISÃO ESTRATÉGICA DOS APÓSTOLOS

Unida aos aspectos facilitadores do momento vivido pelo Império Romano, estava a visão estratégica dos apóstolos que atingiram com sucesso regiões como as Gálias, a Hispânia e a Britânia, no oeste da Europa e o Egito, a Cirenaica, a Abissínia e a Numídia, ao longo de todo o norte da África. Ao mesmo tempo, os esforços missionários voltados para o oriente não deixaram regiões como a Pérsia, a Armênia, a Arábia, a Mesopotâmia e até mesmo a Índia sem a anunciação das Boas Novas.

A biografia de alguns dos discípulos, assim como a de Paulo, nos sugere um conceito de atuação missionária, delineado por uma estratégia que excedeu em muito a simples divisão do mundo antigo em áreas de influência. Pelo que podemos deduzir de alguns relatos bíblicos que caracterizam suas missões especialmente por uma eficiente formação de liderança (2 Tm 2:2) e uma curiosa delegação de responsabilidades (At 6:1-7). Temperando esses valores estava a consciência geopolítica dos apóstolos, uma vez que muitas das cidades atingidas por suas campanhas eram localidades não apenas populosas, mas econômica e politicamente influentes. Dali, os líderes por eles treinados e transformados em verdadeiros multiplicadores da mensagem cristã eram enviados às cidades circunvizinhas, estabelecendo pequenas congregações e fazendo ecoar o evangelho na região.

Paulo pensava também em termos de áreas que poderiam ser alcançadas a partir de centros estratégicos. Ele iniciava seu trabalho indo primeiro às sinagogas, onde pregava sua mensagem enquanto fosse bem recebido. Quando surgia oposição, ele partia para uma proclamação direta do evangelho aos gentios em qualquer lugar que julgasse adequado.

Um exemplo clássico dessa estratégia de multiplicação da Palavra pode ser atestado no ministério de Paulo em Éfeso, descrito em Atos 19. Naquela influente cidade da Ásia Menor, o apóstolo, após sofrer radical oposição da comunidade judaica local, passou a ministrar seus sermões na escola de Tirano, onde, por um espaço de quase 2 anos, pode não apenas exercer um eficiente evangelismo, como também treinar uma liderança cristã que fizesse o evangelho de Cristo se espalhar rapidamente por toda província da Ásia Menor, conforme registra At 19:9-10.

Desta forma, o Evangelho de salvação chegou em praticamente todo o mundo daquela época.

É triste observarmos que não temos tido uma visão estratégica e um empenho mais sério com relação a este assunto, mesmo possuindo as mesmas “facilidades”, ou ainda maiores, para a proclamação das Boas Novas(os apóstolos se utilizaram de apenas duas formas de evangelização: o evangelismo pessoal e a pregação em público, enquanto possuímos meios como televisão, rádio, folhetos e outros). É mais triste ainda quando permanecemos estáticos frente à seitas que têm possuído esta visão apostólica, como é o caso dos Mórmons que há dois anos se estalaram em nossa cidade com a intenção de partir daqui para as pequenas cidades e comunidades circunvizinhas. Por que apenas os Mórmons e as Testemunhas de Jeová saem pelas ruas pregando de casa em casa arrebatando as almas? Você conhece alguma IGREJA VERDADEIRA que possui a mesma atitude? O que temos feito com a “nossa” verdade? Não somos nós os discípulos que ouviram a ordem de Cristo: “Ide e pregai o Evangelho a toda criatura”?

Amados irmãos, creio que é hora de tomarmos uma atitude. Com freqüência cantamos: “Eis os milhões que em trevas tão medonhas jazem perdidos sem o Salvador. Quem, quem irá as novas proclamando?”

É momento de pararmos e com afinco proclamarmos as palavras de Paulo: “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2:20).

Saiamos de nossa cômoda posição se salvos para uma atitude de luta contra a MORTE, contra SATANÁS. Pessoas ao nosso redor, pessoas que amamos estão indo para o inferno, o que temos feito para mudar isso? O mundo não evangelizado não está apenas na janela 10 e 40, está a nossa volta, dentro de nossa casa, em nossas ruas, em nosso bairro, em nossa cidade.

Que a mesma fé que havia nos primeiros cristãos possa nos incentivar a entregar nossas vidas para que a obra de Cristo seja realizada com a dedicação e seriedade que ela merece.

“Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo” (Jo 6:27).