Conto de fadas

Amigos, era uma vez uma donzela inocente e pura. Ela era feia que dava dó, mas como todo conto de realeza, tinha uma sorte incrível. Um dia conheceu o príncipe. Este também era horroroso, orelhudo e estava longe de ser um modelo de simpatia, principalmente quando tinha por dever de ofício que aparecer em público.

Por alguma razão inexplicável, o príncipe de cara feia apaixonou-se pela plebéia de traços não atraentes e quis casar com ela. Porém, a rainha não queria. Alguns diziam que ela não era mais donzela. Outros, que o príncipe precisaria renunciar ao futuro trono se casasse com alguém que não pertencia à nobreza. Mas o príncipe não queria saber de mais ninguém. Somente desta ele se agradava.
Então a realeza achou melhor conseguir-lhe outra jovem. Bonita, duquesa, jovem e atraente. Tão atraente que chegava a ser cobiçada por muitos. Ambos se casaram, como num conto de fadas. O brilho e a pompa da cerimônia ficaram na retina de grande parte dos súditos por muito tempo e as gerações seguintes orgulhavam-se do evento inigualável. Mas os dois não foram felizes para sempre.
Isso porque o príncipe não conseguia esquecer da Feiosa. Continuava fortemente apaixonado por ela. Era capaz de qualquer coisa para manter o romance, que agora se tornado público não seria mais uma linda história de amor, mas de traição, adultério e vergonha para a família real. Mas não tinha jeito. O Príncipe Orelha não conseguia deixar a não-bela. De repente, serviçais do palácio deixam escapar bilhetes e conversas picantes entre Orelha e Feiosa, enquanto a princesa de verdade é mantida longe do caso.

Por sua vez, a princesa de verdade, aquela que tinha adquirido o direito legítimo ao título, não se fazia de rogada. Também dava suas escapadelas. Sentindo-se tantas vezes rejeitada e humilhada pelo Orelha, enquanto tinha e sabia que tinha tantos homens aos seus pés, colecionou também seus pares de infidelidade. Tudo com muito sangue azul. O importante é ser feliz e, caso você more num palácio, manter as aparências o quanto for possível para que a imagem da realeza não se pulverize no imaginário dos ingênuos súditos.

Então, uma noite os cavalos da carruagem da princesa tropeçaram, a carruagem se despedaçou contra uma ponte e a princesa morreu. Todo o reino chorou desesperadamente a morte da pobre ex-feliz esposa do Príncipe Orelha.
35 anos se passaram desde o começo dessa história. E então, para muitos, o destino reserva o que consideram um final feliz, digno de um conto de fadas. Finalmente, Orelha vê seu caminho liberado para casar-se com Feiosa. O reino e o resto da humanidade aplaudem de pé o que consideram a concretização de um sonho de amor. E viveram felizes para sempre. Porque, afinal, o que importa é ser feliz.

O que a corte não sabia é que havia um grupo de pessoas pelo mundo inteiro que, à semelhança de João Batista no palácio de Herodes, não aceita analisar as coisas pelo mero prisma da tradição e da cultura, mas prefere aplicar a todas as situações da vida e a todas as pessoas sem distinção de raça, cor ou posição social, os princípios que o Soberano do Universo estabeleceu há tanto tempo. A maioria dessas pessoas nunca entrou num palácio, mas vive diante do trono do Soberano. Por isso, vê a vida de uma maneira diferente daquela dos palacianos e dos súditos comuns.

Para esses estraga-prazeres, os 35 anos de romance secreto do príncipe com sua amada não podem ser chamados de “conto de fadas”, mas de pecado contra Deus e contra o próximo. Longe de considerarem esta história como uma ode e celebração ao amor puro de um homem para sua mulher, entendem que esta é uma história de falta de vergonha na cara e de imoralidade, que estabelece um péssimo padrão de comportamento para os jovens do mundo todo. A santidade do casamento e do sexo é ridicularizada pelo mundo quando vê gente falando em nome de Deus e ao mesmo tempo tentando legitimar no altar de uma catedral aquilo que deveria receber o desprezo e a repugnância dos que verdadeiramente O conhecem.

Que não passe despercebida dos verdadeiros cristãos a astúcia do inimigo em querer fazer a gente pensar que o mal é bom, que o doce é amargo e que a luz é trevas. Que a mídia não encontre eco entre aqueles que conhecem a Deus de verdade para sancionar o pecado como lícito e a transgressão como a formosura dos lírios.

É por causa de atitudes assim que o Evangelho é cada vez menos acreditado nos países chamados de “cristãos”.