O homem ideal

O homem ideal tem que ter a malandragem
De quem encara a vida com coragem!
Homem ideal tem que ser negão,
De corpo, alma e coração.
Marcados pelo sofrimento duma raça guerreira,
Que chora enquanto canta, levanta e sacode a poeira!
Gente bluseira, que ginga no suingue da capoeira e dá a volta por cima!
Bate, apanha, tem no sangue blues, pagode, manha e rima.
Homem ideal tem que ser grande; seja no corpo que for!
Daqueles que não fogem da luta e falam sempre de amor.
Tem que ter pegada, sangue no olho e paz na alma.
Viver com fúria, paixão, alegria devoção e calma.
Tem que saber tocar os sentimentos, como que toca um violão,
Amar a vida, sem temer a morte, ser filho da fé, amigo da razão.
Tem que ser negão e negão tem que ser forte.
Pra aguentar o tronco, pra servir e proteger; dar suporte.
Tem que ser negão de mãos calejadas e as costas marcadas pela chibata!
Que se entrega aos mistérios da vida, como quem se embrenha na mata,
Atrás de um sonho de liberdade, ainda que tardia.
Ser quilombola e falar a língua da dignidade, da cidadania.
Tem que segurar sua “mina” com braço forte, sorriso largo e coração gentil!
Tem que ter todas as cores do Brasil!
Na aquarela de uma alma valente, dócil e generosa;
De fala mansa, papo reto, de verso e prosa.
Tem que ser o cara e não se achar; só na suça! No miudinho.
Tocar percussão e saber dançar! Só pra contrariar! Só no sapatinho!
Meio que Pablo Neruda, Morgan Freeman, Batman, Capitão Nascimento, Djavan, Nelson Mandella, Pelé, Santo Agostinho.
Afinal, pra ganhar essa nega, mais que estar procurando, é preciso saber os caminhos!

Para ruminar vida afora:

“Há três coisas que são maravilhosas demais para mim, sim, há quatro que não entendo: O caminho da águia no céu, o caminho da cobra na penha, o caminho do navio no meio do mar e o caminho do homem com uma donzela.” Provérbios 30:18,19