Fatalidades

Não consigo respirar, o ar parece rarefeito, minha boca está seca, meus olhos inchados e deles jorram as lágrimas que não se podem conter, não consigo dizer outra coisa que não seja: Pai! Procuro tatear no meio dos escombros do chão uma mão, os pés, a orla do manto. Meu mundo desabou, como a criança que brinca com jogo de montar. Fiz um castelo maior que eu, e de repente o castelo desabou na minha cabeça. Mais uma vez dentre as coisas sem importância fui a primeira a ser descartada. Tudo que acreditei era mentira. Enganada, deixada pra trás, por motivos nobres, dignos, expostos num discurso perfeito centrado somente na primeira pessoa do singular.

Será que alguém já passou por algo parecido? Já viu seus sonhos virarem caquinhos, já disse “Mas eu posso me esforçar mais” ou “Não faça isso comigo!”? Ou já se perguntou “Quem poderá me ajudar?” Se você não conhece ninguém, eu vou lhe apresentar um homem que disse “Ergo meus olhos para os montes, de onde me virá o socorro?”, será que este não estava como eu (eu só não conseguia olhar pra cima), sozinho, decepcionado, sem saber o que fazer?

Quando tudo que você acredita, que você ora, que você semeia, é destruído, é levado pelo vento, escorre por suas mãos, o que você pode fazer? Essa era a minha pergunta, “o que vou fazer agora, no que vou acreditar se não posso mais confiar no que Deus me disse?”, e o mesmo homem que perguntou de onde vinha o socorro, também pergunta “Se todos os fundamentos da Terra forem abalados, o que pode fazer o homem?”

Se houve alguém que entendeu de aflição, esse alguém foi Davi. Perseguido, traído, solitário, em conflito. Davi sabia o que era ver tudo desabar, ele viu seu reinado, aparentemente estável, ruir diante da rebelião de seu próprio filho. Entretanto, Davi entendeu uma coisa que eu descobri ontem, no meio dos meus escombros: Deus ainda se mantém no controle, Ele continua no trono como diz o verso 4 do Salmo 11, “O Senhor está no seu santo templo, o trono do Senhor está nos céus; os seus olhos estão atentos e as suas pálpebras provam os filhos de Deus”. Era como se Davi percebesse tudo sendo destruído e olhasse desesperado para o céu procurando Deus e lá estava Ele no mesmo lugar, do mesmo jeito. Deus não estava com as mãos na cabeça dizendo “ E agora?”. Não estava acordando, bocejando sem nem imaginar o que estava acontecendo. Nem estava rindo e pensando “Quero ver ele se virar agora!”. A Bíblia diz que seus olhos estavam atentos. Ele viu o que fizeram comigo, viu o que lhe aconteceu, mas ainda que tenha sido o pior, não saiu do controle dEle.

No Salmo 121, Davi pergunta de onde virá o socorro e a resposta é “O meu socorro vem do Senhor que fez os céus e a terra, não deixará vacilar o teu pé; Aquele que te guarda não tosquenejará”. Nem por um segundo Deus perderá o controle da situação, jamais deixará de verificar como andam as coisas com você. Como um Pai zeloso, Ele cuida de cada detalhe e, assim como a criança brincando, nossos castelos caírem sobre nós, Ele estará lá pra nos consolar e nos mostrar que podemos começar tudo de novo.

“O Senhor é quem te guarda, o Senhor é a tua sombra à tua direita” Sl 121:5. Não estamos sob a vigilância de qualquer pessoa. É Deus quem nos guarda, então quando eu tatiei o chão buscando por Ele, pude encontrá-lo à minha direita. Não consegui perguntar onde Ele estava quando tudo aconteceu, nem pude cobrar as promessas que Ele me fez, nem sequer questionar a situação. Somente chorei, como criança, um choro de dor, no colo do meu Pai. O lugar mais seguro da Terra. Ele é quem pode nos ensinar a recomeçar.

por Érika Silva Santos