Obras inacabadas

“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Fp 1:6)

Uma das coisas que meu pai nos deixou, além de princípios sobre caráter e integridade, foi uma coleção de quadros inacabados. Um de seus passatempos era pintar telas. Algumas de suas obras, entretanto, não foram concluídas. Quando na adolescência comecei a demonstrar um possível interesse e talento para pintura, alguém sugeriu que eu deveria terminar seus quadros. Minha resposta foi negativa, por duas razões: a primeira é que eu não pintava tão bem quanto ele, a outra, pelo fato de que eu jamais conseguiria sondar seu coração a fim de saber quais seus sentimentos e intenções sobre cada uma daquelas telas. Cada obra é muito mais que um misto de cores e técnicas. Há um conjunto de idéias e sentimentos a serem expressos. Aquelas obras ficaram inacabadas porque o artista que as concebeu não as pôde concluir.

Querendo ou não, todos nós somos obras inacabadas. É louco quem pensa que já está pronto, que não tem mais que crescer, mudar ou construir-se. Há muitas áreas em nossas vidas que precisam de profundas modificações. E a promessa que encontramos na Bíblia é que Aquele que nos criou está nos aperfeiçoando dia a dia. Aquele que começou a boa obra, não descansará até que a termine.

Mas, não raras vezes, queremos terminar a obra. Queremos apressar o trabalho. Discordamos das cores que Deus usa para pintar o quadro de nossas vidas. Gostamos do azul, dos dias agradáveis; do amarelo, das primaveras; do rosa, dos amores e do verde, das conquistas. Mas não queremos o preto, do luto; o marrom, da decepção; o púrpura, da rejeição; ou cinza, dos longos invernos de tribulações. Esquecendo-nos que são as cores escuras, que não raro nos infligem dor e sofrimento, que nos fazem crescer e valorizar as cores vivas dos dias alegres.

Além disso, nossa impaciência em terminar a obra do Grande Artista estende-se aos nossos relacionamentos. Queremos mudar aqueles que nos cercam. Queremos retirar o pincel das mãos do Autor da vida e colorir aqueles a quem amamos com mais paciência, amor, coragem ou cautela, ou queremos que Ele use apenas cores vivas e alegres. Não há nada de errado em querer que aqueles a quem amamos jamais sofram, entretanto, é preciso lembrar que, muitas vezes, serão os dias ruins que os farão amadurecer.

Esquecemo-nos que não pintamos tão bem quanto Ele. E que por mais que andemos com Deus e estejamos afinados com Sua vontade, jamais poderemos sondar Seu coração a fim de sabermos tudo que Ele tenciona para a vida daqueles que nos cercam.

Meu pai não poderá terminar suas obras. Mas Deus pode terminar aquilo que Ele começou a fazer em nós e em nossos queridos. Ele jamais desiste ou esquece. Confiemos em Sua promessa: “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Fp 1:6).

Ele está trabalhando dia após dia a fim de nos conformar à imagem de Cristo. Deixemos o trabalho por conta dEle. Ele sabe a melhor técnica e que tonalidades usar. Sobretudo, sejamos pacientes com aqueles que nos cercam, eles, assim como nós, ainda não estão prontos.