Motivos e motivações

Este texto é inspirado na pregação de uma grande figura, a qual admiro por sua inteligência e integridade. Seu nome é Jairo, é irmão de fé e professor de Escola Bíblica. Usarei como base sua pregação de domingo (22/01/2006).

Jesus Cristo nos desafia constantemente. Tem um texto que, dentre tantos outros, me incomoda, mas esse em especial:

“Ao partirem eles, começou Jesus a dizer às multidões a respeito de João: que saístes a ver no deserto? um caniço agitado pelo vento? Mas que saístes a ver? um homem trajado de vestes luxuosas? Eis que aqueles que trajam vestes luxuosas estão nas casas dos reis.” (Mt 11:7-8)

Sempre que leio o texto acima, me pergunto qual é a minha motivação. O que me faz seguir Jesus. Em seu ministério, Jesus sempre procurava interagir com o povo. Nessa passagem, Ele quer saber o que o povo buscava no deserto, visto que muito iam ao encontro de João Batista somente por costume. Do mesmo modo nós muitas vezes buscamos Jesus por puro costume. Mas vamos voltar um pouco mais e observar o comportamento de alguns dos que se aproximaram e até seguiram Jesus:

Alguns procuram em Jesus a convulsão social, a contra-ordem, uma maneira de radicalizar, como foi o caso de Simão: “Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote;” (Lc. 6:15). Somente para situar, os zelotes eram uma espécie de grupo, assemelhado a um partido que defendia o uso da força para a retomada da liberdade. Simão via em Jesus o catalisador dessa revolução social. Você está no grupo dos que procuram Jesus procurando fazer uma revolução? Espero que não.

Outros procuram em Jesus a riqueza, como foi o caso de Judas Iscariotes: “Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair disse: Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres? Ora, ele disse isto, não porque tivesse cuidado dos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, subtraía o que nela se lançava.” (Jo 12:4-6). Judas foi chamado de ladrão com todas as letras. Segundo João, Judas subtraía dinheiro da bolsa que ficava em seu poder e que era para o custeio das despesas dos discípulos e do próprio Jesus. Em um outro texto, temos o seguinte: “Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os principais sacerdotes, e disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E eles lhe pesaram trinta moedas de prata. E desde então buscava ele oportunidade para o entregar.” (Mt 26:14-16). Quantos ainda hoje ganham muito dinheiro a custa de Jesus? O mercado audiográfico evangélico é assustador. Gente que faz fortunas à custa de mensagens equivocadas e lixo envolto em capas de luxo. Gente que vende tudo, inclusive nada. Você está no grupo dos que procuram Jesus procurando fazer fortuna? Espero que não.

Outros procuram Jesus almejando vantagens, propondo trocas. “Senhor, se eu conseguir aquele emprego, eu dou o meu primeiro salário todinho em oferta.” Senhor, se eu passar no vestibular, eu vou pra igreja todo domingo.” Na Bíblia tem um caso bastante interessante: “E eis que se aproximou dele um jovem, e lhe disse: Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? Respondeu-lhe ele: Por que me perguntas sobre o que é bom? Um só é bom; mas se é que queres entrar na vida, guarda os mandamentos. Perguntou-lhe ele: Quais? Respondeu Jesus: Não matarás; não adulterarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; honra a teu pai e a tua mãe; e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me. Mas o jovem, ouvindo essa palavra, retirou-se triste; porque possuía muitos bens.” Jesus sabe a nossa intenção em procurá-lo. Você está no grupo dos que procuram Jesus procurando fazer uma troca? Espero que não.

Outros procuram Jesus buscando se destacar entre os demais: “Aproximou-se dele, então, a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, ajoelhando-se e fazendo-lhe um pedido. Perguntou-lhe Jesus: Que queres? Ela lhe respondeu: Concede que estes meus dois filhos se sentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino. Jesus, porém, replicou: Não sabeis o que pedis; podeis beber o cálice que eu estou para beber? Responderam-lhe: Podemos. Então lhes disse: O meu cálice certamente haveis de beber; mas o sentar-se à minha direita e à minha esquerda, não me pertence concedê-lo; mas isso é para aqueles para quem está preparado por meu Pai.” (Mt 20:20-23). Os filhos de Zebedeu eram Tiago e João, primos de Jesus. Sentar ao lado do rei significava ser importante. As pessoas que sentavam ao lado de um rei eram as pessoas que o rei ouvia e que tinha livre acesso a ele. Os dois, ávidos por essa proeminência, não mediram a importância de sua resposta. Quando eles responderam que poderiam beber do cálice de Jesus, não imaginavam o que estava por vir. Tiago foi o primeiro dos discípulos martirizado e João, sofreu até dizer basta até morrer também. Você está no grupo dos que buscam Jesus procurando encontrar status? Espero que não.

Mas eu não vou citar mais casos de buscas equivocadas de Jesus. Vou citar um que, a meu ver, foi o mais interessante: “Tendo Jesus entrado em Jericó, ia atravessando a cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, o qual era chefe de publicanos e era rico. Este procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, porque era de pequena estatura. E correndo adiante, subiu a um sicômoro a fim de vê-lo, porque havia de passar por ali. Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa; porque importa que eu fique hoje em tua casa. Desceu, pois, a toda a pressa, e o recebeu com alegria. Ao verem isso, todos murmuravam, dizendo: Entrou para ser hóspede de um homem pecador. Zaqueu, porém, levantando-se, disse ao Senhor: Eis aqui, Senhor, dou aos pobres metade dos meus bens; e se em alguma coisa tenho defraudado alguém, eu lho restituo quadruplicado. Disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, porquanto também este é filho de Abraão.” Zaqueu não tinha uma boa fama. Ele era chefe dos publicanos e, como todo publicano, ele era injusto nos tributos que impunha à população. Vamos dizer que ele cobrava o do governo e o dele. Não existia a quem reclamar, a palavra dele era lei. Este homem, o qual era dado como “perdido” pelo povo, foi encontrado naquele dia por Jesus. Fica claro que ele não buscava Jesus por interesse financeiro, haja vista ele dar quase todos os seus bens. Ele também não procurou prestígio, até porque já o tinha. Não pediu a Jesus nada em troca, ele queria somente ver o Messias e obteve a salvação para ele e sua casa. Assim é Jesus, o mais “errado” foi o que procurou do jeito mais “correto”.

Que nós possamos buscar a Deus, por intermédio de Jesus Cristo, todos os dias de nossas vidas. Que não O busquemos por costume ou interesse, mas por pura gratidão e amor.

É o que eu espero fazer em minha vida, sempre.